Raquel Pacheco é não reconhecida pelo nome de batismo e sim pelo de "guerra": Bruna Surfistinha
Depois de deixar a prostituição, Raquel se aventura em uma nova profissão: a de DJ e diz estar muito feliz (Divulgação)
Duas semanas antes de completar 18 anos, ela se prostituiu pela primeira vez por opção própria e sem ter sofrido nenhuma influência. Diz que, até então, tinha preconceito com relação à prostituição até se tornar uma delas.
Hoje, quase nove anos depois de ter deixado o passado para trás e ter se tornado uma nova mulher, Raquel Pacheco ainda carrega o estigma de não ser reconhecida na sociedade pelo nome de batismo, mas sim, pelo de “guerra”: Bruna Surfistinha, que a tornou conhecida no Brasil e no exterior.
“Não me incomodo em ser reconhecida como Bruna, mesmo não sendo mais tão comum. Já quis desvincular os nomes, mas desisti antes mesmo de tentar. Bruna é minha criatura, meu alter ego e ela caminha junto comigo”.
Bruna foi uma das mais famosas prostitutas brasileiras - se não for a maior de todas elas - porque foi a única que se expôs tanto. Sua história real foi exposta inicialmente em um blog onde relatava suas aventuras e desventuras sexuais, depois em livros e também no cinema, com o filme “Bruna Surfistinha”.
Há dois anos, Raquel participou do reality “A Fazenda” (TV Record). “A Deborah Secco (atriz que a interpreta no longa) mostrou quem é a Bruna no filme. Coube a mim mostrar quem é a Raquel no programa. Durante os três meses de confinamento, agi como sou exatamente no meu dia-a-dia. A repercussão foi muito positiva para mim.
Até hoje, muitos comentam que começaram a gostar de mim. Não ganhei o prêmio, mas sim, o respeito de muitos”. Raquel revela que sua família foi poupada no filme. Todos os acontecimentos reais dos fatos estão no seu primeiro livro. “Não tenho mais contato com eles. Meus pais não me aceitaram de volta e não me perdoaram. Tentei algumas vezes reconquistá-los, mas não tive sucesso”.
Nesta reportagem exclusiva sobre o mercado do sexo, Raquel falou de como se tornou Bruna Surfistinha e de como a mudança de rumo, ainda na adolescência, afetou radicalmente seu destino.“Não imagino a minha vida sem os meus erros.
Caí em todas as armadilhas, mas aprendi com isso. Não posso me arrepender de uma vida que fiz tudo o que tive vontade de fazer, sem me preocupar com as consequências e com as opiniões alheias. Abusei do meu livre-arbítrio. Pago o preço dos meus atos até hoje com a distância da minha família, mas a gente não pode ter tudo ao mesmo tempo. A vida é feita de escolhas. E eu fiz as minhas”.
Gazeta de Piracicaba: Qual foi a melhor e a pior experiência como garota de programa?
Raquel Pacheco: O melhor foi ter conhecido diferentes tipos de pessoas e, consequentemente, ter aprendido a lidar com todos os tipos de personalidades. Aprendi a respeitar as diferenças humanas e pude conhecer bem sobre o universo masculino. O pior foi ter me envolvido com drogas e me viciado em cocaína. Foi uma válvula de escape que quase acabou com a minha vida.
Você lembra do primeiro e do último programa?
Foram os piores. O primeiro porque estava muito insegura, não tinha experiência alguma e era a primeira vez que ia para a cama com um desconhecido. Não fazia duas horas que tinha fugido da casa dos meus pais. Eu ficava olhando aquele homem que nunca tinha visto e não conseguia parar de pensar na minha família e no que estava fazendo comigo e com minha vida. No último, eu estava extremamente ansiosa para acabar logo com aquilo. Ele pagou três horas para ficar comigo e parecia uma eternidade. O tempo não passava, eu não tinha vontade de fazer mais nada, não consegui nem fingir estar com prazer. Mas quando ele foi embora, senti um alívio que nunca havia sentido antes.
Você interpretava uma personagem?
Na maioria dos programas era apenas a Bruna. Conseguia separar bem isso. O meu prazer era falso, mas fingia tão bem que nenhum homem duvidou. Um deles disse: "Te deixei louca de prazer, você gozou quatro vezes comigo". Quando na verdade, não tive nenhum orgasmo com ele.Mas o trabalho da prostituta não é apenas “alugar o corpo”, é também elevar a autoestima do cliente, colaborar com o ego masculino de cada um, afinal os homens têm necessidade de ver o quanto são bons na cama.
Qual foi sua participação no roteiro do filme?
A história foi baseado no meu primeiro livro: “O doce veneno do escorpião” e nas conversas que tive com o diretor (Marcus Baldini) sobre minha vida. Não colaborei na escrita, mas fiquei tranquila por saber que estava sendo escrito por excelentes roteiristas. Assim que o roteiro final ficou pronto, li e aprovei. Não tive vontade de mudar nada. o filme não é 100% fiel à minha vida.
Comentei que sentia falta de ter um irmão, então o diretor me presenteou com um na história (na vida real, teve duas irmãs). Tudo bem que não era o tipo de irmão que gostaria de ter tido, mas ganhei um. Há detalhes que apenas eu entendo ao assistir o filme. A Deborah se entregou ao personagem de tal maneira que mesmo havendo diferenças físicas entre nós, eu me vejo nela em todas as cenas e momentos.
O tráfico humano está em evidência graças à novela Salve Jorge. Já recebeu convites?
Nunca sai do Brasil para me prostituir, mesmo sabendo que poderia ganhar muito mais dinheiro no exterior, mas sempre soube sobre o tráfico de mulheres e não queria correr este risco. Conheci meninas que foram para vários países e tiveram sorte, ganharam muito dinheiro.Morei com uma garota que foi para a Espanha e nunca mais deu notícias, simplesmente sumiu.Eu não acompanho a novela, mas sei que o que fazem com as mulheres traficadas é desumano.
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