"O rio de Piracicaba vai jogar água pra fora/Quando chegar a água dos olhos de alguém que chora...". Impossível não se emocionar com Rio de Lágrimas, moda de viola que serviu de trilha sonora para o pontapé inicial do 20 Arrastão Ecológico pelo Rio Piracicaba, que reuniu aproximadamente 1.000 pessoas na avenida Beira Rio, na manhã de domingo (16). O ato simbólico em favor da preservação do Piracicaba ganhou ainda mais força diante da situação em que o manancial se encontra com a seca atípica para este período do ano. Até a tarde de domingo, a Secretaria de Defesa do Meio Ambiente (Sedema) não havia contabilizado o volume de lixo recolhido.Rose Massaruto, secretária da Secretaria de Turismo (Setur), comemorou o número de participantes do evento. "A gente percebe que as pessoas estão olhando mais para o nosso rio", disse ela, que participa pelo segundo ano. Rose destacou também a campanha Rio Vivo, da Setur e da Sedema (Secretaria de Defesa do Meio Ambiente), que tem como objetivo conscientizar sobre a preservação do rio. No entanto, neste ano, ela veio com um apelo extra diante do quadro de estiagem e chamou a atenção para a importância de se economizar água.Os voluntários começaram a recolher o lixo da margem esquerda e foram auxiliados por outros de caiaque. Por conta do baixo nível do Piracicaba, embarcações maiores foram poupadas. Entre os voluntários estavam Juliane Amaral Nunes, 7, e os seus pais Flávia Amaral Nunes e Fabiano Marcelo Nunes. Flávia conta que a preocupação de Juliane com a situação do rio estimulou os pais a levarem-na para o arrastão. "Um amigo meu me mandou fotos dos peixes mortos", contou Juliane, referindo-se à mortandade de peixes no Piracicaba esta semana. De acordo com Flávia, é a filha quem alerta para a importância de economizar água em casa.As estudantes do curso de biologia da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba) Juliana Veríssimo Oliveira, 19, e Mariana Valentin, 18, também participaram do evento. Entre os materiais que tiraram da margem do rio estavam sacolas plásticas, vidro e linha de pesca. "Muita gente reclama, mas não toma atitude e por isso viemos ajudar", disse Juliana. "É um privilégio ter um rio desses e temos de cuidar", atesta.Pedaços de borracha, cacos de vidro, linha de pesca e até uma embalagem de massa plástica foram recolhidos pelos alunos da Unimep Thuany Xavier, 17, e Bruno Favoretto, 23, que estavam acompanhados do professor da universidade Antonio Santana Galvão.TorcidaPiracicabanos apaixonados pelo XV de Piracicaba e também pelo rio que corta a cidade. Os irmãos Enzo Lima, 4, e Kaique Lima, 9, usavam a camisa do time do coração e estavam concentrados e animados durante o arrastão. Eles foram levados pelo pai, Gilson Lima. "Quero incentivá-los a sempre manter o rio limpo", justifica Lima. Kaique lembrou que não é legal sujar o rio e contou que recolheu sacolas plásticas e até um pedaço de colchão. MaiorDe acordo com Rogério Vidal, secretário da Sedema (Secretaria de Defesa do Meio Ambiente), o arrastão é um ato simbólico e é preciso uma conscientização maior das pessoas no dia-a-dia para manter o rio limpo, como colocar o lixo na rua nos dias corretos da coleta e utilizar os serviços de coleta seletiva e o Catacacareco, disponibilizados pela prefeitura. Os pneus são uma verdadeira praga no Piracicaba. Vidal lembra que há um local correto para o seu descarte, que é a na Central de Resíduos, avenida Ondas, 6.565, Ondinhas.José Carlos Masson, coordenador do arrastão desde a sua primeira edição, lembra que as pessoas estão mais educadas agora. "Melhorou muito, mas ainda não é o suficiente", pondera.Em seu discurso, o prefeito Gabriel Ferrato lembrou o navegador José Luiz Guidotti, morto em 2007, que lançou a ideia do arrastão. Ferrato também lembrou que fez parte de uma comissão que, há 30 anos, decidiu captar água do Corumbataí para o abastecimento de Piracicaba, o que está sendo decisivo neste momento de estiagem. "Temos de tomar decisões agora para que a gente preserve o rio para as futuras gerações. Vocês estão de parabéns por participar desta ação. Vamos continuar a luta pela preservação e recuperação do rio Piracicaba. Estamos com 98% do esgoto coletado da cidade já tratado. Em junho deste ano a gente chega a 100%. Piracicaba está fazendo a sua parte e a gente espera que outros municípios também façam", alfineta.Mortandade de peixesRogério Vidal, secretário da Sedema, lembrou que esta edição do arrastão é especial porque acontece em um momento de muita tristeza, disse, ao referir-se à morte de peixes no rio na quarta-feira (12). Os trabalhos para retirar os peixes mortos do leito do rio foram concluídos na sexta-feira à tarde. Ao todo foram mais de 6 toneladas. O Ministério Público requisitou à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) exames laboratoriais do meio aquático e dos peixes mortos para saber as reais causas do desastre ecológico. Vidal adiantou que vai convocar uma reunião para criar um protocolo de procedimentos para situações críticas como a que Piracicaba enfrenta hoje. Veja também Americana cria barragem artificial para abastecer a cidade Novas represas da região terão pequenas hidrelétricas Chuvas aumentam vazão do Rio Atibaia