Universidade atuará em pesquisas, vigilância e conteúdos informativos à população
A Prefeitura de Campinas atualizou ontem o número total de casos confirmados da doença no município: 43, dos quais 23 considerados importados e 20 autóctones (Adriana Toffetti/ESTADÃO CONTEÚDO)
A Unicamp decidiu criar cinco frentes de atuação para a prevenção e o enfrentamento da monkeypox por meio do Hub de Saúde Global da Universidade. Uma das medidas anunciadas é a adequação da estrutura do Laboratório de Diagnóstico Molecular de Alto Desempenho (LDMAD) para que testes que detectem a presença do vírus sejam realizados por lá. A informação é a de que as adequações necessárias são pequenas, porém, importantes para a segurança biológica.
Inicialmente, todo o investimento virá de recursos da universidade e a expectativa é a de que o laboratório seja credenciado, em um mês, à Rede Emílio Ribas. A Unicamp já faz parte da Rede de Combate à Monkeypox, mas na área hospitalar, por meio do Hospital de Clínicas (HC).
Para os diagnósticos, os testes serão do tipo PCR, a partir de amostras de sangue, segundo informou a Unicamp. "Dominamos toda a técnica para realizar os exames. A equipe do HUB de Saúde Global da Unicamp criou sondas diagnósticas que funcionam como um sistema 'chave-fechadura' para identificar a sequência genética que forma o vírus. Elas serão produzidas em breve", explicou Plínio Trabasso, professor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e integrante do Hub de Saúde Global.
Lançado em maio de 2022, o Hub de Saúde Global atuará, além do diagnóstico, nas seguintes frentes: pesquisa clínica e básica, vigilância epidemiológica e comunicação. Dentro dessas frentes, as pesquisas serão feitas para prevenção e tratamento contra infecções e desenvolvimento de novos medicamentos, terapias e imunizantes.
As frentes de vigilância e de comunicação terão, como objetivo, identificar o cenário da doença em diversos aspectos e direcionar as ações de prevenção e controle, seja em relação a ações médicas e farmacológicas ou em conteúdos informativos que orientarão as pessoas sobre os cuidados. "É uma análise qualitativa do quadro epidemiológico que serve de base para direcionar as ações. Isso significa investigar se a doença atinge pessoas mais jovens ou mais velhas, homens ou mulheres, se ela é mais grave em imunossuprimidos, entre outras análises", detalhou Trabasso.
Pesquisa clínica e básica
Essas duas frentes focarão na continuação dos estudos desenvolvidos pela Unicamp dentro dessa área e aplicá-los ao contexto atual do vírus monkeypox. Enquanto os ensaios clínicos são dedicados às possibilidades terapêuticas, criação de fármacos e eficácia e segurança de imunizantes, as pesquisas básicas são voltadas ao vírus, investigando, por exemplo, a suscetibilidade dele a medicamentos e também qual é a sua capacidade de resposta contra fármacos e de produzir doenças em organismos.
Trabasso exemplificou a diferença. "Nos estudos clínicos, o objeto de estudo é a pessoa. Já na ciência básica, buscamos conhecimento acerca do vírus".
O professor do Instituto de Biologia da Unicamp, Marcelo Alves da Silva Mori, explicou a ideia que deu origem ao Hub de Saúde. "A Unicamp se baseou no êxito de iniciativas recentes, como a Força-Tarefa Contra a COVID-19 e a Rede Zika para criar o Hub de Saúde Global - uma organização cujo objetivo éo de centralizar ações e disseminar conhecimento científico, tecnológico e inovador, focado em medidas voltadas ao controle, prevenção e tratamento de doenças cuja incidência, prevalência ou relevância possuam impacto social, guiado por demandas da sociedade e da atualidade."
No momento, o Hub de Saúde Global tem como foco a monkeypox, buscando maneiras de viabilizar localmente testes para a detecção do vírus, fomentando pesquisas clínicas e básicas sobre o tema e disseminando conhecimento sobre a doença. Apesar de a monkeypox ser o foco atual, o Hub deve se manter de prontidão diante de quaisquer agravos sanitários emergentes, informou Mori.
Casos na RMC
A Prefeitura de Campinas atualizou na segunda-feira (22) o número de casos confirmados da doença na cidade: 43. São 23 considerados importados e 20 autóctones. Até o momento, apenas três mulheres estão entre os contaminados. Todos os pacientes possuem idade entre 22 e 57 anos, sendo que 18 saíram do isolamento, enquanto os demais estão sem gravidade e com boa evolução.
Com os novos casos, Campinas continua como a terceira cidade do Estado de São Paulo com mais infectados pelo vírus, empatada com Osasco e atrás apenas de Santo André, com 47 infecções, e da capital, com 1.868. A Secretaria de Estado da Saúde confirmou que atualmente são 2.506 casos em 103 municípios.
Na Região Metropolitana de Campinas (RMC), contando com a metrópole, são 68 casos. São mais 10 cidades que possuem casos confirmados: Santa Bárbara d'Oeste (6), Americana (3), Paulínia (3), Sumaré (3), Indaiatuba (2), Jaguariúna (2), Valinhos (2), Vinhedo (2), Hortolândia (1) e Nova Odessa (1).
Vale ressaltar que o atual surto não tem a participação de macacos na transmissão para seres humanos. O vírus da monkeypox, que faz parte da mesma família da varíola, é transmitido entre pessoas e o atual surto tem prevalência de transmissão de contato íntimo e sexual.
Entre os sintomas mais comuns da monkeypox está o aparecimento de lesões semelhantes a espinhas ou bolhas. Elas podem surgir nos genitais, ânus, mãos, pés, peito e até no rosto e dentro da boca. Febre, dor de cabeça, calafrios, cansaço, dores musculares e caroço no pescoço, axilas e virilhas são outros alertas para a população procurar uma unidade de saúde e obter o diagnóstico.