Denúncia foi feita em reportagem inédita publicada no Correio Popular
Restos mortais eram removidos enquanto ainda havia prazo para pedido de exumação por parte das famílias (Rodrigo Zanotto)
A Serviços Técnicos Gerais (Setec) abriu sindicância administrativa para apurar denúncia publicada pelo Correio Popular na edição do dia 6 de maio. A medida foi oficializada na edição da última sexta-feira, dia 12, do Diário Oficial (DO) do município e é uma resposta ao suposto erro cometido por servidores da autarquia no Cemitério Parque Nossa Senhora da Conceição, popularmente conhecido como ‘Amarais’. Conforme noticiado, restos mortais de falecidos em abril de 2020 e enterrados em covas públicas estavam sendo removidos sem conhecimento dos familiares e antes mesmo que as famílias pudessem reclamar o conteúdo dos túmulos para dar fins específicos, como a cremação, por exemplo. Os restos mortais já eram removidos enquanto ainda havia prazo para pedido de exumação por parte das famílias.
A irregularidade foi identificada pela administradora de empresas Roberta Artiolli, de 38 anos, que flagrou coveiros da Setec realizando exumação de restos mortais na mesma quadra em que o pai dela estava enterrado. O caso, que aconteceu no dia 3 de maio, assustou a jovem e gerou confusão na administração do cemitério, já que uma publicação no Diário Oficial do Município do dia 24 de abril assegurava prazo de 30 dias para que familiares reclamassem o conteúdo dos túmulos 165 a 648 da quadra 35, o que já vinha sendo feito pelos funcionários do cemitério e foi flagrado e registrado por Roberta. Por fração de segundos a sepultura 183, onde o pai dela foi enterrado, não foi aberta e os restos jogados no ossuário geral.
Na Ocasião, a Setec se manifestou por nota e informou que abriria a sindicância para “apurar suposta conduta irregular no corpo de servidores”. Na publicação que instaura a apuração, disponível no DO do dia 12, o texto oficializa o posicionamento e diz que o objetivo é “regular apuração dos fatos narrados de suposta má conduta no cemitério”.
O texto diz ainda que a comissão será composta pelos servidores Dr. Breno Nogueira Leal Rebelo, que é procurador e preside a ação, Maria Socorro Ferreira da Silva e Aparecida de Fátima da Silva, ambos membros do setor administrativo. A publicação leva a assinatura do presidente da Setec, Enrique Javier Lerena.
A reportagem procurou a presidência da autarquia para saber sobre a nomeação dos servidores e a importância de se apurar o caso. Através da assessoria de imprensa, a empresa disse que vai aguardar a conclusão do trabalho para se manifestar. “Devido à sindicância já ter sido instaurada, a presidência prefere não dar nenhuma declaração agora, até mesmo para não interferir na apuração dos fatos. Assim que a comissão finalizar os trabalhos, a Setec irá divulgar o resultado e as ações decorrentes do mesmo”, diz.
“MAL ADMINISTRADO”
Em nova conversa com a reportagem na tarde de terça-feira (16), Roberta avaliou como importante a sindicância, mas não como suficiente. “A medida é necessária e é importante que se apure para que não volte a acontecer. Que se encontre o responsável pelo erro e que se puna, mas e as famílias? As ações não devem se esgotar por aí. É extremamente insuficiente”, critica.
Um servidor da Setec confidenciou à reportagem que o erro aconteceu na ordem de retirada dos restos mortais, que identificou a sequência incorreta de sepulturas. “Eles mandaram tirar da 165 até a 290 e nós tiramos”.
Na terça-feira, Roberta contou novos detalhes do caso. Segundo ela, um coveiro apresentou um papel que identificava várias sepulturas que já haviam sido esvaziadas, de modo que os restos mortais de todos foram misturados em um tonel usado durante a operação, impossibilitando a identificação dos falecidos caso a família assim decidisse.
Na administração do cemitério, uma confusão se instaurou quando Roberta chegou com o DO em mãos questionando a retirada. Uma servidora que se identificou como Vanessa teria entrado em discussão com os coveiros onde um cabo-deguerra foi protagonizado entre os funcionários para achar o culpado pelo erro. Mesmo assim, Roberta acusa a administração de má-fé com quem depende do serviço público. “Enquanto eu estava na administração, uma senhora humilde chegou dizendo que queria comprar uma sepultura para colocar os restos da mãe dela. Essa Vanessa olhou para ela e disse ‘olha, sinto muito, não tem espaço nenhum’. É muito descaso com as pessoas, que já estão passando por uma situação de fragilidade”, denunciou.
Recentemente, a Setec anunciou a disponibilidade de 36 jazigos no cemitério da saudade, com valores tabelados a R$ 28,7 mil. A ação abre, temporariamente, a possibilidade de exumação para quem deseja tirar os restos mortais do espaço público, por exemplo.