POLÊMICA

Salários na reitoria da Unicamp somam R$ 622 mil ao mês

Há pelo menos 800 funcionários que recebem salários acima do teto estabelecido por lei para o setor, que é o que ganha do governador Geraldo Alckmin (PSDB): R$ 21,6 mil

Guilherme Busch e Cecília Polycarpo
01/08/2015 às 15:54.
Atualizado em 23/04/2022 às 06:55
Unicamp: TCE determinou, em 2014, que todos os salários acima do governador fossem congelados e universidade seguiu essa recomendação  (  Cedoc/RAC)

Unicamp: TCE determinou, em 2014, que todos os salários acima do governador fossem congelados e universidade seguiu essa recomendação ( Cedoc/RAC)

O custo mensal somente com os salários vinculados oficialmente ao gabinete da reitoria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) ultrapassa os R$ 622 mil, segundo levantamento feito pela reportagem do Correio no site da própria universidade. São ao todo 60 servidores, incluindo o reitor, José Tadeu Jorge, com salários que variam de R$ 3.029,29 (apoio administrativo) a R$ 49.994,80 (reitor). O debate tem provocado polêmica, já que os dados eram mantidos em sigilo e foram divulgados em julho depois de uma ordem judicial. O presidente da Assembleia Legislativa (Alesp), Campos Machado (PTB), informou nesta semana que iá pedir explicações a Jorge sobre os salários pagos acima do teto. Em nota oficial, a Unicamp disse esperar que o deputado tome a mesma iniciativa em relação à Assembleia Legislativa do Estado, que não divulga os vencimentos de seus servidores.Há três servidores no gabinete do reitor que possuem duas matrículas, ou seja, recebem dois vencimentos. São eles o próprio reitor e seus dois chefes de gabinete — um ganha R$ 32 mil e o outro, R$ 36 mil. O salário de quatro secretárias do gabinete somam R$ 83,7 mil. Uma delas ganha sozinha R$ 34 mil. Há na Unicamp pelo menos 800 funcionários que recebem salários acima do teto estabelecido por lei para o setor, que é o que ganha do governador Geraldo Alckmin (PSDB): R$ 21,6 mil. Há ainda 19 nomes que têm duas matrículas ou mais, incluindo todos os pró-reitores.Na lista do gabinete da reitoria, 13 dos servidores não têm salários vinculados aos números de suas matrículas. O Correio também não conseguiu localizar a matrícula de três nomes divulgados no site como sendo de funcionários.Em junho, a remuneração bruta do reitor foi de R$ 49.994,80, dividido em duas matrículas (de reitor e docente), uma com salário bruto de R$ 14.938,99 e outra de R$ 35.055,81. Na mesma situação está o coordenador geral da instituição, que recebeu no mês passado R$ 43.573,79, dos quais R$ 28.634,80 em uma matrícula e R$ 14.938,99 em outra.O Tribunal de Contas do Estado (TCE) determinou no ano passado que todos os salários acima do governador fossem congelados e a Unicamp seguiu a recomendação. No entanto, uma liminar obtida pela Associação dos Docentes da Unicamp (Adunicamp) impediu a universidade de reduzir os salários para atingir o teto estipulado pela Constituição. A associação sustenta que os salários de professores e pesquisadores de carreira, com títulos acadêmicos, não pode ser equiparado a um cargo político. Por isso, o reitor frisou que não pode adaptar os salários ao limite. A associação pede que os vencimentos sejam atrelados ao salário de desembargador do Estado, hoje de R$ 26 mil. Mas apesar de rejeitarem teto, os funcionários se manifestaram contra a duplicação de salários em reunião promovida pela Adunicamp.Na lista inicial constava a remuneração dos funcionários, mas identificando o servidor apenas pelo número da matrícula. Seguindo novas recomendações do Tribunal de Contas do Estado (TCE), entretanto, a Unicamp divulgará na próxima folha de pagamento, em agosto, os salários dos servidores com o respectivo nome do funcionário, atendendo a Lei da Transparência. O TCE determinou que na nova lista conste além do nome e remuneração bruta, número da matrícula, indenizações, redutores, descontos e vencimentos. Embora os nomes ainda não tenham sido divulgados, o reitor afirmou que alguns servidores já demonstraram descontentamento com a nova metodologia, já que consideram a informação de salário pessoal e confidencial.Quantias são ‘estímulo’ para pesquisadores Professores e funcionários da Unicamp se manifestaram contrários aos salários duplicados quinta-feira (30), durante reunião na sede da Adunicamp. O encontro não valeu como assembleia, mas a presidência disse que deve ser esta posição a ser adotada pela associação. Na reunião, professores tiraram dúvidas sobre salários e carreiras na Unicamp. “Tem muitos questionamentos que não conseguimos responder, porque é a Unicamp que tem que nos responder antes. Por isso solicitamos a reitoria um conjunto de informações que não estão claras”, disse o presidente da Adunicamp, Paulo Cesar Centoducatte. Ele afirmou ainda que a associação não concorda com a dupla remuneração, pois reitores e pró-reitores já ganham uma “gratificação por representação”. No entanto, a direção irá marcar uma assembleia para definir oficialmente a posição da Adunicamp sobre o assunto.Durante a reunião, os funcionários também demostraram temer que o Estado consiga derrubar a liminar que mantém os salários acima do governador Geraldo Alckmin. Centoducatte disse que a associação defende que a Emenda Constitucional 47 de 2005 seja adotada pelo Estado de São Paulo. Na lei, é decretado que cada estado pode fixar como teto de seus servidores o salário do desembargador do Tribunal de Justiça. Para a emenda ter validade em São Paulo, no entanto, a Alesp tem que aprovar outra lei que revogue a do teto do governador. Para o presidente da Adunicamp, com o achatamento dos salários, é difícil manter pessoas qualificadas na universidade. “O professor e pesquisador começa a desenvolver outras atividades porque veem que não compensa financeiramente ficar na Unicamp”, disse. O presidente disse ainda que, no futuro, o desestímulo pode ser estendido a todas as carreira do funcionalismo público.O primeiro-secretário Adunicamp, Paulo Oliveira, lembrou que cerca 70% da pesquisa no Brasil é feita pelas universidades estaduais paulistas, Unicamp, USP e Unesp e que achatar salários seria desestimular a produção de conhecimento no País. “Por isso há uma preocupação política de defender o interesse da sociedade. Se você coloca como mercenário quem está produzindo conhecimento, alguma coisa está errada. É necessária uma perspectiva”.  Veja também Assembleia Legislativa pede explicação sobre salários da Unicamp Deputado estadual Campos Machado (PTB) quer justificativa sobre valores acima do teto pagos pela Universidade de Campinas Unicamp passa a divulgar lista com nomes e salários Amenos 800 servidores da Unicamp recebem salário bruto superior ao do governador Geraldo Alckmin (PSDB), de R$ 21.631,05, que é o teto constitucional. Unicamp: 800 servidores ganham acima do teto Entre os que recebem acima do teto (R$ 21.631,05) está o reitor José Tadeu Jorge, além de procuradores, docentes e servidores técnico-administrativos

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