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Projeto de revitalização prevê restaurar 4 prédios históricos em Campinas

Proposta de recuperação de imóveis centenários está em fase de elaboração pela Administração

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
20/07/2022 às 09:01.
Atualizado em 20/07/2022 às 09:51
De residência do Barão de Itatiba, o Palácio dos Azulejos já sediou a Prefeitura, a Sanasa e hoje abriga o Museu da Imagem e do Som (MIS) (Kamá Ribeiro)

De residência do Barão de Itatiba, o Palácio dos Azulejos já sediou a Prefeitura, a Sanasa e hoje abriga o Museu da Imagem e do Som (MIS) (Kamá Ribeiro)

O projeto de revitalização do Centro de Campinas prevê obras de recuperação de quatro prédios históricos centenários que estão sob os cuidados da Prefeitura. São: o Mercado Municipal, Palácio dos Azulejos, Pátio Ferroviário e Palácio da Mogiana, de acordo com o pacote revelado na terça-feira (19) após o anúncio da readequação da Rua 13 de Maio, a principal do comércio na área central.

De acordo com a Administração Municipal, o projeto de recuperação dos quatro prédios históricos está em fase de elaboração, mas não foram divulgados detalhes das obras, nem sobre os investimentos que serão realizados. Dos quatro prédios previstos, dois estão ocupados totalmente, o Mercadão e o Palácio dos Azulejos, e dois parcialmente, o complexo ferroviário e o Palácio da Mogiana.

A arquiteta, urbanista e historiadora Ana Villanueva vê com bons olhos a proposta para esses edifícios. “Fico feliz pela Prefeitura ter planos para esses prédios que são ícones, símbolos de Campinas, mas é algo caro e que leva tempo para ser feito. Porém, é algo que tem que começar, é preciso ter coragem e iniciar”, disse. Para ela, a recuperação desses prédios pode servir de estímulo para a revitalização de outros edifícios históricos e atrair o público para a área central.

Estrutura

“É preciso ter a experiência de estar no espaço histórico para valorizá-lo”, explica. Para Ana, a prioridade das obras deve atacar três pontos estruturais para garantir a preservação dos prédios: telhado, hidráulica e elétrica. “São prédios construídos em uma época que não havia computadores. Para que eles possam ser usados, são feitas gambiarras na rede elétrica que geram riscos de incêndios”, explica.

Para a arquiteta, a Prefeitura deve elaborar projetos e um planejamento de obras que garantam a execução dos serviços, daí a importância de priorizar os pontos estruturais. Todos os prédios previstos para recuperação são tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), que é municipal, e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, órgão subordinado à Secretaria da Cultura do Estado. O Palácio dos Azulejos é o único tombado também pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). 

CONHEÇA OS PRÉDIOS HISTÓRICOS

Mercado Municipal

Foi projetado pelo arquiteto campineiro Ramos de Azevedo, seguindo o estilo neomourístico. Com área construída de 3.110 metros quadrados, foi inaugurado em 1908 como armazém de açúcar e estocagem de produtos transportados pela Estrada de Ferro Funilense para o Porto de Santos. É cartão postal e uma das sete maravilhas de Campinas. Foi um dos primeiros pontos de comércio do século XX e ponto de encontro da elite artística e intelectual campineira.

Em 1996, uma restauração recuperou suas características originais. O documento de registro de imóvel foi entregue em maio passado em evento de comemoração dos 114 anos do patrimônio histórico. Foi um trabalho iniciado em 2017, com o usucapião da área sendo conquistado três anos depois, o que garantiu a obtenção da matrícula.

Na oportunidade, foi anunciado um investimento de R$ 5 milhões para a reforma interna e restauração da fachada. A obtenção do registro também viabiliza a busca de outras verbas dos governos federal e estadual para a reforma do entorno. 

Palácio dos Azulejos

Foi construído em 1878 para ser a residência de Joaquim Ferreira Penteado, o Barão de Itatiba, um abastado cafeicultor proprietário da Fazenda Cabras, onde hoje se situa o Lar dos Velhinhos, e da Fazenda Duas Pontes. O prédio, também conhecido como Solar do Barão de Itatiba, foi construído em taipa de pilão, tijolos e materiais importados, como mármores, tintas, lustres e metais. A fachada é revestida com azulejos portugueses, daí o seu nome, em estilo neoclássico.

O prédio foi doado pela família do barão, em 1908, e passou a abrigar a Prefeitura de Campinas e o Fórum da cidade até 1968. Em seguida, passou a ser controlado pela Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa). O prédio foi sede da empresa de economia mista até a década de 1990, quando ela se mudou para um prédio novo na Avenida da Saudade, na Ponte Preta. Em 2004, foi concluída a primeira fase de restauro do imóvel. Atualmente, ele está sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura e abriga o Museu da Imagem e do Som (MIS).

Pátio Ferroviário 

Na semana passada, o prefeito Dário Saadi (Republicanos) esteve, em Brasília, com o presidente Jair Bolsonaro (PL) para finalizar os processos de cessão de uma área de 200 mil metros quadrados (m²) do pátio da antiga Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa) para o município. É um passo considerado importante para destravar o projeto de revitalização da região central. No local, serão desenvolvidas parcerias com a iniciativa privada para a implantação de empreendimentos imobiliários e comerciais. 

A parcela que agora será cedida representa 64,52% dos cerca de 310 mil metros quadrados do complexo ferroviário, que abrigou as instalações da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, oficinas da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e, posteriormente, da Fepasa. Hoje, o imóvel é composto por edificações históricas e tombadas. A área é voltada para a Vila Industrial, margeando as Ruas Francisco Teodoro e Doutor Sales de Oliveira.

Palácio da Mogiana

O prédio foi construído em 1891 pela Companhia Mogiana de Estrada de Ferro e foi a sede da empresa até a década de 1926, quando a empresa se transferiu para São Paulo. Porém, o local continuou sendo usado como escritório regional. O edifício em estilo eclético foi cedido para uso da prefeitura em 2012 e abriga, em parte do complexo, o Centro Público de Apoio ao Trabalhador (Cpat) e também a Câmara dos Dirigentes Lojistas de Campinas (CDL).

É o prédio que apresenta maior fragilidade. O terceiro andar está fechado por causa de problemas no telhado e das infiltrações que tomam conta das salas. O palácio é um dos símbolos do auge da produção de café em Campinas, sendo um dos polos para sua expansão. 

O prédio original foi alterado em 1953, quando uma das alas foi demolida para o alargamento da Avenida Dr. Campos Salles. O prédio principal vem sendo mantido pela Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic), que realiza algumas manutenções nas instalações. Em 2010, durante as negociações para assumir o Palácio da Mogiana e a Estação Ferroviária (atual Estação Cultura), a Prefeitura previa instalar centros culturais nos prédios. Para isso, estava prevista a liberação, pelo governo federal, de uma verba de R$ 15 milhões, o equivalente na época a US$ 8,51 milhões, o que não se concretizou. Atualizado pelo câmbio atual, o valor chegaria a R$ 46 milhões.

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