DO ANTIGO AO MODERNO

Em Campinas, demolições de imóveis sobem mais de 70% em dois anos

Em quatro meses, foram concedidos 184 alvarás este ano, ante 107 em 2020

Thiago Rovêdo/ [email protected]
10/06/2022 às 09:28.
Atualizado em 10/06/2022 às 09:28
Especialistas acreditam que proprietários optam por demolir imóveis antigos para possibilitar a construção de empreendimentos que sejam rentáveis (Ricardo Lima)

Especialistas acreditam que proprietários optam por demolir imóveis antigos para possibilitar a construção de empreendimentos que sejam rentáveis (Ricardo Lima)

A Secretaria de Planejamento e Urbanismo de Campinas confirmou que o número de imóveis demolidos em Campinas cresceu mais de 70% quando comparados os quatro primeiros meses de 2020 com o mesmo período de 2022. É nesse cenário que, no final de maio, uma reportagem do Correio Popular mostrou que o centenário prédio da Fábrica de Chapéus Vicente Cury, um dos marcos do processo de industrialização, deu adeus à cidade, e foi praticamente inteiro colocado no chão.

Segundo a Secretaria de Planejamento e Urbanismo, somente nos quatro primeiros meses deste ano, foram liberados 184 alvarás de demolição. É um número bem maior do que as 107 demolições autorizadas no mesmo período de 2020 e os 117 alvarás concedidos no primeiro quadrimestre de 2021. Portanto, em dois anos, houve um crescimento de 71,96%.

Neste ano, março foi o mês com maior número de pedidos autorizados — 59. Em seguida, vem o mês de abril, com 50 pedidos; depois fevereiro, com 42; e janeiro teve 33. Em 2020, o primeiro mês do ano teve 44 registros, fevereiro 41, março 17, e abril foi o mês com menos ocorrências, apenas cinco. 

Para realizar uma demolição, o interessado deve protocolar o pedido na Prefeitura. A análise dos projetos é feita pela ordem cronológica de entrada e o sistema avisa o responsável, quase que imediatamente, sobre a falta de algum tipo de documento. O ingresso no sistema deve ser feito por um profissional habilitado cadastrado na Secretaria, que precisa indicar o número de registro na respectiva entidade de classe.

Revitalização do Centro

O presidente da Associação Regional de Habitação de Campinas (Habicamp), Francisco de Oliveira Lima Filho, acredita que vários fatores influenciaram nesse crescimento dos alvarás de demolição: desde a modernização de imóveis antigos, passando por questões de revitalização da região central, e até mesmo reduções tributárias que contribuem para a instalação de pequenas empresas na cidade. 

"Entendo que Campinas passa por uma repaginação entre o Centro da cidade e o que está próximo da área central. Então, tem muita coisa antiga que acaba sendo demolida e dando espaço para novas construções, como prédios residenciais, comerciais ou até mesmo pequenos escritórios ou galpões", explicou. Para o presidente, a demolição também é a forma dos proprietários transformarem e valorizarem seus imóveis. 

"Uma outra saída muito procurada pelas pessoas é transformar seus imóveis. Às vezes, um determinado imóvel custa muito caro para manter. Ou com os aluguéis caros, a pessoa não consegue alugar. Vejo que também há demolições sendo realizadas para a construção de pequenos galpões. Com isso, proprietário pode alugá-lo para a instalação de uma empresa ou indústria de menor porte. O dono do local passa a ter uma renda e o imóvel não fica mais desocupado", avaliou.

Benefícios fiscais

Lima Filho cita que a requalificação do Centro também faz com o que os proprietários na região central e do entorno transformem seus imóveis. Se o local vai ganhar uma cara nova e mais atrativa, o proprietário quer ser imóvel repaginado, porque ele também ficará valorizado. Outro fator é a própria questão econômica. "Os impostos, como o IPTU, são mais caros quando há mais área construída, então, às vezes, um galpão compensa mais. 

Outro fator são os benefícios tributários que a Prefeitura de Campinas oferece para quem abre uma empresa, gera empregos, etc. Por isso, a pessoa acaba demolindo a casa antiga para transformar o imóvel num local de trabalho. Assim, toda a escala gira, criando até mesmo empregos na construção civil", finalizou.

O empresário Miguel Roliarro está construindo uma farmácia no bairro Ponte Preta. Antes, no terreno, havia uma casa, que precisou ser demolida para a construção do novo empreendimento. Ele considera que a demolição vai sempre fazer parte de uma cidade que está em constante mudança.

"No meu caso, se fazia necessário. Não tinha como abrir a farmácia no imóvel antigo. Acho que tem sempre que tomar cuidado, porque pode ser um imóvel tombado ou que tenha um valor muito histórico para a região em que ele se localiza. Mas, por outro lado, é natural que se derrubem uns para outros serem construídos", disse. 

Antiga fábrica do Chapéus Cury dará lugar a condomínio

Localizado na Rua Barão Geraldo de Rezende, no Botafogo, o prédio do Chapéus Cury foi demolido para dar lugar a um empreendimento imobiliário que será construído no terreno de 5,2 mil metros quadrados. Continuam em pé apenas a chaminé e a parede da fachada, que foram tombadas pelo patrimônio histórico e, por isso, deverão ser incorporadas na nova construção. As paredes internas de Chapéus Cury, como a empresa ficou popularmente conhecida, foram derrubadas. No local, a céu aberto, escavadeira e funcionários da construtora fazem a limpeza da área, que está em processo de preparação para o início das obras do condomínio. 

Em 1920, Miguel Vicente Cury e seu pai, Vicente Cury, iniciaram as atividades da fábrica de chapéus. Eles aplicavam a experiência obtida com a oficina de reforma de chapéus que tiveram em Mogi Mirim. 

Era uma época em que a industrialização de Campinas estava engatinhando. A maior indústria era a Companhia Mac Hardy, fundada em 1875, fabricante de máquinas de beneficiamento de café. A empresa do escocês Gilherme Mac Hardy mantinha grandes oficinas de fundição na Avenida Andrade Neves, que empregavam 170 funcionários. A fábrica Chapéus Cury nasceu nesse ambiente, uma época em que Campinas tinha pouco mais de 38 mil habitantes. 

Agora, a área do imóvel acompanhará as mudanças pelas quais as ruas próximas passaram, hoje tomadas por clínicas, pequenos comércios e prédios residenciais.

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