GENEROSIDADE HUMANA

Casal que ‘mora’ dentro de carro ganha emprego e lar

Reportagem exclusiva do Correio Popular provocou uma onda de solidariedade

Isadora Stentzler/ [email protected]
07/11/2023 às 09:03.
Atualizado em 07/11/2023 às 09:03
Na tarde de segunda, Jader e sua esposa, Miriam, irradiavam felicidade, alimentados pela esperança que ressurgiu em suas vidas após a veiculação da reportagem no Correio Popular (Alessandro Torres)

Na tarde de segunda, Jader e sua esposa, Miriam, irradiavam felicidade, alimentados pela esperança que ressurgiu em suas vidas após a veiculação da reportagem no Correio Popular (Alessandro Torres)

Após o Correio Popular divulgar, na edição de sábado (4), a comovente história de Jader Alves Martho, 60 anos, e Miriam Martins de Almeida Martho, 53, que desde março viviam em um veículo Apollo de 1991 no Parque Via Norte, uma onda de solidariedade se espalhou pelas redes sociais. Como resultado, o casal não apenas conquistou o emprego almejado, mas também assegurou uma moradia digna.

Na segunda-feira (6), eles formalizaram contrato com um posto de gasolina em Sumaré. Jader desempenhará a função de frentista, enquanto Miriam assumirá responsabilidades ligadas aos serviços gerais. Além da oportunidade de emprego, o estabelecimento ofereceu, generosamente, acomodação gratuita ao casal pelos próximos três meses. A transição para o novo lar está programada para ocorrer ainda nesta semana, com o apoio de uma igreja local.

A equipe de reportagem esteve presente com o casal na tarde de ontem. "Eu não sabia o que fazer com tanta bênção", expressou Jader, ao refletir sobre a repercussão de sua história e a incrível ajuda recebida desde a veiculação da matéria.

Conforme relatado por Jader, foram oferecidos três empregos, além de contribuições financeiras e propostas relacionadas a moradia e até mesmo aquisição de um veículo para facilitar seu retorno ao trabalho.

Desde março deste ano, o casal viu-se forçado a transformar seu veículo Apollo em lar, após ambos perderem seus empregos e não conseguirem arcar com o aluguel e demais despesas. A acumulação de uma dívida expressiva, atingindo a cifra de R$ 12 mil, levou-os a abrir mão de sua residência no Parque Via Norte, composta por dois quartos, sala, cozinha e garagem, optando pela acomodação no veículo.

O ponto de virada que precipitou essa situação foi um assalto sofrido por Jader há um ano e meio, enquanto desempenhava suas funções como motorista de aplicativo. A esposa, vítima de ameaças, mergulhou em um estado depressivo, afastando-se do trabalho, enquanto ele enfrentava dificuldades em honrar as dívidas acumuladas pelos consertos em veículos antigos que revendia.

A divulgação da história pelo Correio Popular no Instagram provocou uma comoção notável, resultando em centenas de curtidas e diversos comentários de pessoas que ofereciam emprego ou buscavam alternativas para auxiliar o casal. Algumas dessas pessoas entraram em contato diretamente com o jornal, enviaram mensagens pelo WhatsApp da redação ou telefonaram para o Correio Popular, demonstrando uma nobre disposição em prestar auxílio.

Um dos leitores compartilhou a reportagem com um grupo de empresários, buscando sua intermediação para estabelecer contato com empresas transportadoras. O intuito era obter uma carta de recomendação que possibilitasse o retorno de Jader à profissão de motorista, considerando sua experiência na categoria E e os muitos anos dedicados a essa atividade, seja viajando pelo Brasil ou atuando como motorista de ambulância.

Outro leitor sugeriu a criação de uma campanha de doações em prol do casal. A igreja situada nas proximidades do local onde o casal reside manifestou solidariedade, oferecendo suporte com alimentos, vestuário, auxílio financeiro, propostas de trabalho e apoio espiritual. A instituição ainda ressaltou que os banheiros sempre estiveram disponíveis para o casal durante os horários de culto.

A comoção gerada pela reportagem também sensibilizou a imprensa, que buscou o casal para contar sua história. A primeira oferta de emprego, conforme relatou Jader, surgiu no domingo (5) para trabalhar em uma chácara em Indaiatuba. Diante da falta de telefone celular, as pessoas dirigiramse ao local onde o casal se encontrava com o veículo, na Rua Umberto Aveniente.

Jader informou que, recentemente, uma pessoa até se prontificou a levar seu celular danificado para conserto, com previsão de devolução hoje. A onda de solidariedade atingiu seu ápice com a conquista do emprego atual em Sumaré.

"Eu queria poder fazer alguma coisa por todas essas pessoas que vieram aqui. Me senti mal em negar um emprego pelo outro, porque foi tanta ajuda. Tanta gente nos procurando", disse Jader.

À reportagem, o gerente do posto de combustíveis, que preferiu não ser identificado, revelou que o proprietário do estabelecimento viu a reportagem e se solidarizou com a situação do casal. "Ele pediu para eu conversar com eles e ver como poderíamos ajudar", relatou. "Ao falar com eles, levei-os para uma entrevista no RH. Ela já tinha experiência em serviços gerais, ele possui habilidades em caminhões, e conseguimos encontrar uma maneira de encaixá-los no posto. Além disso, oferecemos um local próximo para morarem."

"É uma mudança grande", acrescentou Jader, que já chama o gerente de "nosso gerente". "São pessoas maravilhosas. É bênção até demais", afirmou.

O casal recebeu ontem os uniformes do posto e expressou ansiedade para começar. A nova moradia, segundo eles, proporcionará espaço para ambos e para a cadela Dora, que conviveu com o casal todos os dias ao lado do carro.

Na tarde de ontem, o casal irradiava felicidade. Dessa vez, Miriam não derramou lágrimas e exibiu um sorriso que refletia a realização de um sonho. Jader, inclusive, pegou o violão para tocar. Ele mencionou que planejam renovar seus votos de casamento, desta vez na igreja, já que inicialmente se casaram apenas no civil. Aos poucos, compartilharam os novos sonhos que começavam a surgir com a virada de chave em suas vidas.

Ao conquistarem um emprego, o casal não apenas assegurou sua subsistência, mas também experimentou a compaixão e a solidariedade humanas. Se um assalto os havia lançado à desesperança no passado, foi a corrente de generosidade e apoio mútuo que os resgatou no presente.

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