O valor, que teria sido dividido pelo grupo, é referente ao pagamento de "comissionamentos"
Vista parcial da Refinaria de Paulínia (Replan): citada em delação (Elcio Alves/ AAN)
Obras realizadas na Refinaria de Paulínia (Replan) entre os anos de 2008 e 2009 renderam, segundo o doleiro Alberto Youssef, cerca de R$ 10 milhões em propina aos bolsos dele, do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e do ex-assessor do PP João Cláudio Genu. O valor, que teria sido dividido pelo grupo, é referente ao pagamento de “comissionamentos” feitos em cima de contratos firmados com as empresas Mendes Júnior e Galvão Engenharia. A informação foi dada em depoimento à Polícia Federal por Youssef, apontado como o operador do maior esquema de corrupção já descoberto no País. Ao lado de outros envolvidos, o doleiro está preso em Curitiba e firmou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal para contar o que sabe. O Correio teve acesso, com exclusividade, ao seu depoimento. O suposto acerto entre as partes definiu que o grupo receberia 1% do total dos contratos das duas empresas. De acordo com o relato de Youssef, houve “uma certa demora” para o início dos pagamentos. As comissões foram repassadas entre os anos de 2009 e 2011, sendo que a maior parte do montante foi paga em 2010, por conta de necessidade de se fazer caixa para a campanha eleitoral daquele ano. No caso da Galvão Engenharia, o acerto foi firmado entre Costa, Genu e o diretor-presidente da Divisão de Engenharia Industrial da companhia, Erton Medeiros Fonseca. O encontro aconteceu no Hotel Meliá, em Brasília. Já em relação à Mendes Júnior, a conversa ocorreu no Hotel Tivoli, em São Paulo, e contou com a presença de Youssef, Costa, Genu e Sérgio Mendes, vice-presidente executivo da empresa, aponta o doleiro em sua delação. Nos dois casos, para não levantar suspeitas, os pagamentos foram feitos por meio da emissão de notas de empresas como a MO Consultoria e Laudos Estatísticos que, segundo as investigações da PF, Youssef teria criado justamente para captar valores de clientes empresários e dar fluxo ao esquema de propinas a agentes públicos corruptos. As notas apresentadas sempre correspondiam a contratos de consultoria ou prestação de serviços. AditivosEm seu depoimento, Youssef afirma ainda que houve aditivos nestes dois contratos — novas demandas por obras — e, mais uma vez, a combinação de um pagamento de “pedágio”existiu. Em cima apenas do aditivo relacionado ao trabalho da Mendes Júnior, a comissão foi de 2%. O valor exato não foi divulgado, mas o doleiro informou à Justiça que o pagamento teria sido feito em seu escritório. Os detalhes do repasse do dinheiro extra, de acordo com Youssef, foram tratados por Genu. O doleiro ainda contou que algo semelhante teria sido firmado com os representantes da Galvão Engenharia, mas, aparentemente, não houve tempo hábil para a realização do pagamento por conta do desligamento de Costa da diretoria de Abastecimento da Petrobras, em abril de 2012. Youssef disse em sua delação que “não se recorda” se o pagamento da Galvão foi feito. ]Recentemente, foi divulgado na imprensa o depoimento do engenheiro da estatal Luiz Antônio Kalil Horta e, mais uma vez, o nome da Replan surgiu. Ele afirmou que era pressionado por subordinados do ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco a negociar licitações acima dos valores reais de mercado. De acordo com o engenheiro, em uma licitação para a ampliação da Casa de Força da Replan, em 2007, o menor lance dado pelas empresas que participaram do procedimento foi de R$ 919 milhões, algo bem acima do valor estipulado pelos técnicos da estatal, que foi de R$ 506 milhões na época. Essa diferença gerou suspeitas e motivou o cancelamento de todo o processo na ocasião. Mesmo pressionado, Horta realizou outra licitação, dessa vez com valores dentro dos padrões estabelecidos tecnicamente. No mesmo ano, situação semelhante ocorreu com uma licitação para a ampliação da Estação de Tratamento de Água (ETA) da Refinaria de Paulínia. Novamente, Horta cancelou o processo com valores superdimensionados. Na segunda tentativa, uma empresa apresentou um valor próximo do estipulado, mas, durante o andamento do processo, um funcionário do Serviço de Engenharia (Segen) da estatal aumentou a estimativa do contrato. “Essa medida não teve nenhuma justificativa”, disse o engenheiro à Polícia Federal, de acordo com reportagem do jornal O Estado de S.Paulo. Cobrado por Horta para explicar esse aumento dado ao valor do serviço, o funcionário teria reduzido a sua avaliação no final do mesmo dia. Segundo consta, esta licitação não foi concluída.