Yelena Isinbayeva, com ou sem salto

Yelena não ama o que não é espelho, caro Caetano, mas e daí? Yelena é troiana, mas não Helena, é uma Amélia às avessas, prova de que beleza não é assim tão fundamental, amigo Vinicius. Dizer que Yelena é bela é fundamentalismo puro.O helenismo de Yelena desmoronou o Olimpo. Yelena é a mais grega das mulheres russas, vodka pura nos olhos dos puristas.O que faz Yelena no mundo e na vida dos pobres mortais? Não tente entender Yelena. O corpo perfeito não se veste de modéstia, tampouco simplicidade. É tão escultural quanto complexo. Cartesiano, preciso, irretocável e, ainda assim, humano. Demasiadamente humano.Mas Yelena não nos deixa enganar. Desdenha os deuses como se não quisesse saltar ainda mais alto. Sabe que a queda é maior aos que não se entregam, lutam, cavam, buscam, escalam, correm, pulam para outro plano, o plano dos atletas imortais.Yelena não é doçura. Yelena não é cosmético. Yelena não é só açúcar e afeto Yelena, na verdade, apenas é. Quando corria para recuperar o trono que lhe é de direito, sabia que seria campeã. Sorria, no entanto, como se fosse a primeira vez, sem dor, tampouco trauma. Vivenciara a experiência de ser a melhor, embora isso nunca seja motivo para que se assoberbe diante das rivais.Yelena gera respeito porque respeita a todos e todas. Como uma anti-heroína que teme ser apenas mais uma beldade sem conteúdo nas passarelas olímpicas. O fato é que Yelena não salta, Yelena desfila. Sem salto alto. De sapatilhas, sorriso e muita vontade de vencer. O esporte precisa mais de Yelena Isinbayeva do que o contrário.Enquanto a casa de antigos mitos anda caindo a cada minuto por uso de drogas, crimes hediondos, desvio de dinheiro, filhos bastardos esquecidos, falsificação de identidade, dopings e mais dopings, Yelena segue seu caminho sem saber exatamente onde está indo. O certo é que o que já fez, pouco importa à História. O que conta mesmo é como Yelena faz: a perfeição não é o bastante.Yelena, é bom que se diga, sabe separar o joio do trigo. Seu nome, variação russa do grego Helena, significa na maior parte do mundo “luz, fogo, iluminação”.E o fogo que carrega não é para sempre. Deve durar apenas até que alguma concorrente, mais jovem e dedicada, desbanque todos os feitos conseguidos por Yelena até agora. Mas a imagem que fica, a foto gravada na retina de quem a viu em ação, vai ser sempre o maior de todos os prêmios.