Todos temos mais informações publicadas on-line do que podemos imaginar ou gostaríamos; mas, até que ponto esse histórico de fácil acesso pode ser prejudicial?
Página Dupla ( Divulgação)
Em tempos de Web 3.0, de alta conectividade e grande acessibilidade, localizar informações sobre determinados perfis é tarefa tranquila. Diga-me o que posta, quem segues e o mundo saberá quem és, queira você ou não. Omitir ou deletar dados torna-se, então, parte de uma batalha trabalhosa pela minimização do chamado karma virtual. Paulo Crepaldi, fundador da ING Marketing & Training, empresa expert na implementação do conceito Behavior Designer no Brasil, defende a ideia de que, desde que nascemos, passamos a ter um histórico inegável da nossa vida na Web 2.0 (Facebook, LinkedIn, Twitter, Youtube etc). “Os próprios pais, sem a autorização do filho, começam a colocar informações, vídeos e fotos desde o nascimento como uma forma fácil de compartilhar e utilizar a sua imagem para divulgar a família”, pontua. Com o passar dos anos, agimos da mesma maneira tanto em páginas que administramos quanto alheias. Crepaldi alerta para o fato de que o cuidado deve ser redobrado, sobretudo, quando se pretende fortalecer – e não macular – a imagem e a reputação profissionais. Que tipo de marcas você pretende deixar e quem pretende que as siga? Foto: Divulgação Metrópole – O conceito de karma virtual nasceu com o advento da Web 2.0? Pode definí-lo? Paulo Crepaldi – Sim, o conceito surgiu com a Web 2.0, mas a compreensão de como ele nos afeta é algo recente. Karma virtual são históricos, rastros que deixamos na World Wide Web (WWW) ao longo de nossa vida on-line.Quais são os riscos do excesso de informações disponibilizadas na internet?Há a utilização desse karma para conseguirmos um emprego ou até mesmo definirmos nossos gostos e hobbies para novos amigos e encontrar pessoas de mesma filosofia de vida. Nós que estamos nas mídias sociais possuímos um portfólio pessoal, ou seja, uma demonstração de nossa marca e exposição. Utilizamos desse portfólio a nosso favor, principalmente, para mostrar quão felizes somos ou “relacionados” estamos. Antigamente, você precisava de tempo para conseguir criar impressão em alguém, mas, com tanta exposição, todos nós precisamos de um treinamento de marca pessoal. Sabemos realmente do impacto da WWW? Entramos na página de Facebook de um recém-conhecido para xeretar fotos, posts e amigos relacionados. Se isso já é comum para nós, imagina o que as organizações e os departamentos de recursos humanos não fazem para saber se você se encaixa na filosofia e nos critérios de determinado cargo.Neste caso, o que jamais deveríamos publicar na web se quisermos deixar de correr riscos?Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Não acredito que exista uma única resposta ou solução. Se pudesse dar uma dica “valiosa” diria que o termo global demonstra o seu significado na web e que precisamos entender que, hoje, somos globais sem precisar trabalhar na TV. Você on-line é do mundo, enquanto que você off-line é da sua tribo.Em recente declaração, Vint Cerf, vice-presidente do Google e co-criador da web, alertou sobre uma possível “idade das trevas digital”, por conta das constantes atualizações de hardwares e soft- wares. Seria essa previsão a solução ao karma digital?Vint Cerf fala, na verdade, do medo de se perder tudo que criamos até hoje na WWW. Assim como aconteceu aos homens das cavernas. Muito de seus desenhos foram apagados com o tempo. Cerf acredita que isso acontecerá também com os dados de hoje. Em um futuro distante não teríamos capacidade de interpretar ou ler esses dados atuais devido ao avanço da tecnologia. Mas não seria a solução do karma virtual ou a destruição dele. Karma virtual não é uma estratégia de longo prazo, mas para o hoje.Experts de diversas áreas extraem boa parte dos padrões de consumo do Big Data. Existe alguma maneira de blindar as empresas de saberem mais sobre nós do que nós mesmos?Empresas hoje se preocupam com a confiabilidade dos dados ou informações expostas. Blindar não acho que seja, uma palavra que agrade às novas gerações. Essas não blindam e, sim, compartilham. O que as empresas precisam entender é como filtrar o que é compartilhado ou o quanto essa informação é verdadeira e agressiva.Criar um perfil profissional e outro pessoal pode ajudar a minimizar traumas futuros?Tentamos fazer isso na vida física (não misturar profissional e pessoal) e sabemos o quão difícil é e continua sendo. Fazer isso virtualmente torna-se quase impossível. Imagine ter de entrar em duas contas de Instagram, Facebook ou Twitter. Uma delas, com certeza, seria tão desatualizada que perderia “seguidores”, curtidas e interesse. Portanto, não seria uma solução, mas criaria dois problemas ao invés de lidar com um.Em um mundo integrado e conectado, como dirimir a exposição das crianças?Falar para pessoas evitarem postar foto de suas crianças no momento que vivemos hoje seria como escravizar alguém na época colonial. Diria que as pessoas precisam aprender a utilizar melhor as ferramentas. Isso seria a solução para que o karma virtual fosse muito mais positivo do que negativo. As pessoas usam o básico da web e ela oferece inúmeros recursos. Por exemplo, você pode criar um álbum digital e selecionar as pessoas que poderão visualizá-lo. Ser “inteligente digital” é muito mais divertido do que “excluído digital”.Você acredita que privacidade na web será um luxo daqui a dez anos?Acho que a privacidade será na verdade tão importante que o sistema jurídico necessitará dar maior suporte às pessoas leigas para que elas não sejam prejudicadas e sua privacidade invadida. Quem posta uma foto ou algo na mídia social não está ali porque se preocupa com a privacidade. A real preocupação é: como as informações postadas por você serão utilizadas.O caso WikiLeaks foi prova pontual de que o karma virtual pode ser mais pesado do que se imagina, até para diplomatas e a segurança nacional?Sem dúvida, foi prova de que o karma virtual deveria ser mais pensado do que é hoje e que as pessoas precisam entender que ele faz parte de nossas vidas. Se você já colocou algum dia o seu ponteiro do mouse em algum site na internet, seja bem-vindo. Você, assim como eu, tem um karma virtual.