“... fizemos uma reunião para planejar um pouso na água; cada um voltou ao seu lugar; colocamos os cintos e aguardamos o momento final...”. Assim terminou, domingo passado, o relato da aventura da comissária campineira Paula de Paula sobre o Atlântico rumo a Portugal, a bordo de um jato com as duas turbinas em chamas, mais de cem passageiros e vários tripulantes. O que vem por aí só Deus não duvida. Essa e muitas histórias estão no livro da Paula “Idas e vindas”, edição virtual pela Saraiva. Pode falar, Paula? (brrr!): “Se estou aqui contando tudo é porque o avião não caiu. Não? Chegamos ao terminal e ninguém falou mais nada. Segui em silêncio até o hotel e ninguém saiu dos quartos. No dia seguinte estava toda a tripulação no café da manhã, quando chegam Ronaldão e o mecânico de Lisboa: ‘Fizemos uma inspeção nas duas turbinas e a pane aconteceu, SIM!, nas duas!’. Silêncio... Estava anestesiada com tudo e me vi voltando para o quarto. O copiloto me convidou para tomar um café. Aceitei. Se realmente a pane era nos dois motores, como conseguimos chegar? “‘Poltergeistcamente’, chegamos. É a única explicação que consigo te dar agora.”. Começou o dia mais estranho, alguns podem chamar de maluco, da minha vida. Religiões dizem que quando uma pessoa morre de maneira brusca, demora a entender que morreu. Fiquei com isso na cabeça. Liguei para o meu pai, se ele falasse comigo, eu estava viva. Não consegui falar com ele. A dúvida de todos: morremos e não sabemos? Fomos tentar descobrir. Escolhemos Belém por ser destino turístico e por termos de pegar ônibus. Nós nos tocávamos, dávamos tapas uns nos outros, mas ainda assim, nada estava provado. Afinal, se morremos juntos e estamos juntos, podemos ter a sensação de que sentimos. Começamos a parar as pessoas aleatoriamente nas ruas para pedir informação, dar ‘boa tarde’, para saber se estavam nos vendo. Todos respondiam. Sentíamos o vento bater no rosto, o cheiro das flores, jogamos água no rosto. Mas uma de nossas colegas que é espírita falou: -- Gente! Vocês nunca leram ‘Nosso Lar’? Se morremos, estamos em outra dimensão e todas essas pessoas que falam conosco também estão mortas. Paramos perto da Torre de Belém e sentamos na grama. Impossível conter o choro, por longo tempo. Agora, podíamos chorar, já tínhamos cumprido nosso papel dentro do avião. A realidade estava tomando conta de nós e era necessário colocar tudo aquilo para fora. Após aquele dia intenso, fui ao quarto da Queilinha, pessoa desligada do mundo... Mal percebeu o que se passou; dormiu até chegar a Lisboa. Com toda aquela tensão a bordo, ela dormia no assento de descanso. Não estava entendendo nada, nem sabia o que tinha acontecido. No jantar, divagamos até decidirmos entregar nas mãos de Deus, até um dia descobrir se estávamos vivos. Na duvida, vamos comemorar outro nascimento. E aquela sensação, aquele momento nos jardins da Torre me fizeram reavaliar muita coisa. Até o pouso em Lisboa, nenhum passageiro acordou!!! Pregado no poste: “Fingimos que fumos e vortemos...?”