HENRIQUE NUNES

Viva a vaia

Henrique Nunes
henrique.nunes@rac.com.br
09/06/2013 às 22:57.
Atualizado em 25/04/2022 às 13:06

Heitor Villa-Lobos dizia se orgulhar de ser o músico mais vaiado do mundo. Na Semana de Arte Moderna de 1922, realizou seu concerto sob intensa reação negativa da plateia. Pagou o preço pela ousadia e ajudou a romper as convenções de uma cultura ainda presa aos moldes da formalidade. Bob Dylan, outro craque vitimizado pelas críticas ferrenhas, dizia que um elogio é muito mais perigoso que uma crítica. Sabia o que estava dizendo: quando o chamavam de deus, caiu de produção; quando foi vaiado, virou deus. Pelé, ainda incomparável, deu a mesma lição no futebol. Quando era criticado, respondia fazendo arte dentro de campo.

As vaias são incômodas e necessárias. Nos tiram da lógica, da zona de conforto, da conveniente passividade que nos faz não perder o sono. Mas aos que almejam ir além, a falta de sono é causada justamente quando se sentem acomodados. As vaias apareceram, como de praxe, nas partidas roladas no final de semana. Pato foi a principal vítima. A torcida corintiana, que demonstrava paciência enorme com o atacante contratado a peso de ouro, agora desconfia da sua vontade em seguir carreira por aqui.

Mas ninguém foi mais vaiado do que a equipe da Ponte Preta. Na derrota em casa para o Botafogo e mais uma vez sem demonstrar metade da qualidade da equipe no Paulista, a torcida fez o que tinha de ser feito. Vaiou sem piedade muitos dos considerados medalhões da Macaca. Cleber e Cicinho, dois dos mais cobiçados do elenco, não jogaram nada e foram justamente "homenageados" pelas arquibancadas.

Resta saber se Cleber, Cicinho e outras tantas promessas saberão lidar com as vaias de sábado e com as muitas outras que ainda virão. Se quiserem crescer, fazer a diferença, devem fazer o trabalho pelo qual são pagos de maneira digna — correr em campo é a mais óbvia das obrigações. E, claro, aborsver o coro da massa e, quem sabe, contrariá-lo no futuro.

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