LÍQUIDO & CERTO

Viúvas (e mães) de Champagne

12/05/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 17:06

A rigor, todo dia é dia de tomar champanhe. Mas, como hoje é Dia das Mães, ele é ainda mais bem-vindo. A bebida que remete ao luxo tem sua história ligada a grandes mulheres, o que inspirou a expressão, que é quase um slogan, “as viúvas de Champagne”, usada para se referir às empreendedoras que, na ausência dos maridos, alguns mortos nas sucessivas guerras em solo europeu, construíram marcas ainda reverenciadas atualmente entre enófilos, comerciantes e especialistas do mundo inteiro.

A mais famosa é Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin, ela mesma, a Veuve Clicquot. De fato, esse nome merece todas as reverências que lhe fazem. Trata-se de um champanhe sempre bem elaborado, com vocação para o sucesso e o glamour. E a viúva, nesse caso, não é apenas um nome bom de marketing (possivelmente, essa palavra nem existia na época). Barbe-Nicole tinha 27 anos e era mãe de uma menina de 6 quando teve que assumir os negócios da família. E o mundo do vinho ganhava o frescor da ousadia. Ela inventou o ridding rack, uma espécie de gaiola que inclina gradualmente as garrafas, permitindo que as sobras de levedura e sedimentos da garrafa se depositem lentamente no gargalo, facilitando a eliminação, ou dégorgement. O método deu dinamismo à elaboração do champanhe. É dela também a introdução da remuage, processo empregado para remoção de resíduos que turvam a bebida. Como líder, demonstrou espírito arrojado. Implantou um sistema de participação nos lucros a funcionários em posição de destaque e garantiu, assim, a unidade em torno do seu trabalho.

Mas a minha viúva preferida é Jeanne Alexandrine Louise Méllin Pommery, a Madame Pommery. Com a morte do marido e com dois filhos pequenos para criar, ela iniciou uma bela jornada na história do vinho. Sua grande contribuição foi ter colocado o champanhe brüt em cena, em 1874, tornando desatualizadas as bebidas excessivamente doces da época. Louise estava atendendo ao mercado inglês, que preferia vinhos secos, e acabou impondo um estilo mais elegante ao champanhe.

Na Maison Pommery está um dos lugares mágicos do vinho. São as gigantescas caves, entalhadas em pedra calcária, 30 metros abaixo da superfície. Um labirinto de 18 quilômetros de túneis escavados há 2 mil anos, no período galo-romano. Para alcançá-lo, é preciso descer uma escada de 116 degraus. O prêmio é a visão magnífica de milhões de garrafas adormecendo por décadas e décadas. O portentoso edifício em estilo neo-elisabetano gótico da Maison também é uma inspiração de Pommery.

Para coroar a sua biografia, pode-se incluir na lista de quesitos nobres o fato de ter sido uma mecenas dos artistas da época. O quadro As Respigadeiras, de Jean François Millet, foi comprado anonimamente por ela e depois doado ao governo. Ela teria pago 300 mil francos pela pintura, num período em que diziam que a casa atravessava dificuldades financeiras. Hoje, quando tanto se fala de mães batalhadoras, que sustentam famílias numerosas com os seus esforços, eu penso: isso não começou agora e merece mesmo um brinde. Saúde!

FOTOS: REPRODUÇÃO

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