Três profissionais de alto gabarito com carreiras consolidadas jogam tudo pro alto e conquistam a felicidade plena
Três mulheres, três histórias diferentes, mas uma vontade em comum: mudar totalmente o rumo da vida. O desafio, por si só, já não seria simples. Agora, soma-se a isso o fato de todas terem passado dos 40 anos e possuírem suas trajetórias consolidadas, seja no âmbito familiar ou profissional. A tarefa se mostra ainda mais complicada, só que Kristhine Demunno, Gil Bastos e Lara Cardoso carregam mais que um desejo semelhante, elas têm uma incrível força para superar as adversidades, além de muita perseverança. E foi assim, dando um passo de cada vez, que conseguiram finalmente atingir a tão sonhada felicidade plena. O primeiro dos casos vem de Limeira. Mãe de Maria Clara, com 15 anos, e Davi, com 10, Kristhine, de 44, lecionava pedagogia em colégios públicos e particulares da cidade. Com a carreira estabilizada, descobriu que seu caçula, então com dois meses, tinha uma malformação congênita no cérebro e seria uma criança com limitações. Passado o período da licença maternidade, voltou a dar aulas e não demorou a perceber que seria extremamente complicado conciliar as atividades. Foi quando deixou as salas de aula e aprendeu a costurar. Ela começou a fazer cangas, personalizar chapéus e vender pela internet. A nova profissão permitiu trabalhar em casa e também abriu a possibilidade de dar palestras, falando sobre inclusão. No começo, ao descobrir a doença de Davi, Kristhine se sentiu frustrada. "A princípio passei pela negação e achava que um dia tudo se normalizaria. Nos primeiros dois anos ele até comia, mas era muito complicado, pelas suas limitações, poderia aspirar os alimentos e ter pneumonia. Aí optamos por fazer uma gastrostomia e foi muito bom, ele engordou, ficou bem alimentado. Depois vieram as cirurgias para correções ortopédicas, para respirar melhor. Até hoje foram oito procedimentos e apesar da deficiência, tem uma saúde ótima", explica. Quando decidiu parar de lecionar, a mãe foi apoiada pela família. O problema é que aos poucos começou a sentir necessidade de ter uma fonte de renda. Com muito tempo em casa, teve sintomas de depressão e decidiu comprar uma máquina de costura para servir como espécie de terapia."Passei a fazer algumas bolsas e cangas atoalhadas com almofadinhas para presentear meus amigos. Gostei tanto que resolvi vender para poder comprar mais tecido e continuar produzindo. Vendia para minhas amigas, mas depois fiz uma página no Instagram, a Ponto__K e comecei a pegar encomendas, enviar para vários lugares."A decisão de parar com as aulas foi tranquila e não traz arrependimentos. Em seu coração, Kristhine sentia que precisava estar ao lado do filho, cuidando dele. "Me sinto muito realizada. Tirando os momentos em que meu filho fica doente ou passa por cirurgias, amo nossa família do jeito que é. Tenho tanto orgulho dos meus filhos, cada um com seu jeitinho", completa.Do marketing ao design Aos 42 anos, a campineira Gil Bastos decidiu que precisava mudar sua vida. A meia década como executiva de marketing de uma importante multinacional tinha um grande espaço em seu coração, mas a vontade de ser mãe falou mais alto. "Eu amava o que fazia, só que em algum momento senti que era hora de me dedicar à família. Ou melhor, começar uma. Era casada e queria ter uma filha", conta.Responsável pelas campanhas para a América Latina da empresa de celulares, ela deu início à nova trajetória quando sua filha completou 2 anos. Com o apoio do marido, tornou-se artista plástica, criando estampas. "Conto histórias por meio de imagens. Se antes fazia isso através de campanhas, hoje conto minhas próprias histórias usando estampas que crio. Eu amo a flexibilidade da criação, me encontrei totalmente."Movida por novidades desde criança, a mulher não se arrependeu em nenhum momento, ainda que guarde com carinho o período em que trabalhou na área do marketing. "Curti até o último momento e aproveitei todos. Foram cerca de 20 anos trabalhando em empresas incríveis, fazendo campanhas muito impactantes, trabalhando com pessoas brilhantes", ressalta.Hoje, com 47 anos, Gil aprecia o fato de ter o horário bastante flexível. Boa parte de suas criações acontecem de noite ou até mesmo de madrugada, quando a casa está mais tranquila. Do antigo trabalho ficou a saudade das viagens. "Fui para muitos lugares a trabalho, como por exemplo Finlândia, onde dificilmente eu iria sem ser por motivo comercial. Já amanheci nos Estados Unidos, almocei no México e jantei no Brasil. Eu amava isso, adoro aviões."Sonho de criança Ao questionar uma criança sobre o que quer ser quando crescer, é normal ouvir variadas respostas. Entre as mais citadas está se tornar ator. Contudo, boa parte dos pequenos desistem do sonho por vários motivos. Seja pressão familiar para seguir uma carreira mais estável ou até mesmo as dificuldades para se tornar um profissional na área. No caso de Lara Cardoso, ela não esqueceu o sonho, apenas o deixou adormecido.Natural de Campinas, Lara trabalhava com recursos humanos até 2016, e resolveu abrir mão de um bom salário para investir no seu antigo desejo. Ela atuava na área de desenvolvimento organizacional com treinamento, e desenvolvimento de funcionários, mas tinha a vontade de passar mais tempo com sua família, além de virar atriz."Quando enfim tomei minha decisão e chamei meu marido para conversar, eu disse que queria ser feliz, e ele me respondeu 'vá ser feliz'. Ele e minha filha me apoiam, me aconselham e me encorajam todos os dias. Sempre temos receio do que não conhecemos, ainda mais quando envolve emprego fixo e estabilidade financeira, é trocar o certo pelo duvidoso. Isso requer pensar, repensar… Passei noites em claro", diz.Foram mais de 10 anos atuando em RH e o sentimento é de gratidão. "Sou muito grata pelas empresas em que trabalhei, às pessoas que conheci e aos amigos que ganhei durante toda minha carreira corporativa. Agradeço todos os dias pelas oportunidades que tive. Foi no mundo corporativo que, por exemplo, aprendi a ler teleprompter, coisa que nunca pensei que um dia seria de extrema importância à profissão atual."Com 44 anos, Lara trabalha como atriz e apresentadora. Ela também tem o canal no Youtube Helô Heloilda, em que é roteirista, atriz e produtora. "Essa personagem traz o humor à tona em episódios que contraceno ao lado de outros artistas. É um aprendizado contínuo e temos que estudar diariamente, o que para mim é um presente", afirma.Sobre mudar de vida após os 40, a mulher vê a idade como um divisor de águas. "A idade traz uma sabedoria emocional e nós perdemos o medo de se reinventar. A gente para e começa a pensar naquilo que realmente queremos pra vida. O importante é se encontrar e ser feliz, independentemente de quantos anos tenha. É viver por completo."