CAMPINAS

Violência no Centro muda a rotina dos comerciantes

Lojistas trocam telefones para avisar sobre suspeitos e reforçam segurança contra grupo de radicais

Inaê Miranda
26/06/2013 às 10:10.
Atualizado em 25/04/2022 às 10:44

Os ataques de vândalos durante os protestos em Campinas fizeram os comerciantes da região Central mudarem o comportamento na tentativa de evitar ou minimizar os prejuízos. Preocupados com saques e depredações, eles criaram uma rede informal de contatos, com uma lista de telefones, para trocar informações e alertar os vizinhos em caso de risco.

Além disso, passaram a reforçar a estrutura das lojas, colocando portas de aço nos estoques, por exemplo. As mercadorias estão sendo retiradas no começo da tarde. Algumas pessoas chegam ao extremo de passar a noite dentro das lojas. Na terça-feira (25), muitos amanheceram o dia contabilizando os prejuízos e reparando os estragos da noite de segunda (24).

A comerciante Rosana Rottoli tem uma loja na Thomaz Alves e, como mora na região, consegue ter visão para a rua. “Quando vejo a polícia e tumulto já fico preocupada, porque não sei como vou encontrar a loja no outro dia. Estamos todos com medo, fechando mais cedo. A gente tem que se unir. Estamos nos mobilizando para trocar telefones e tentar salvar o comércio. Tem donos dormindo dentro da loja na tentativa de impedir ataques”, disse.

A região da Avenida Anchieta e ruas General Osório e Thomaz Alves, nas proximidades do Paço Municipal — palco das manifestações por redução da tarifa e mais transparência —, é uma das mais prejudicadas com saques, tentativas de arrombamento e depredações promovidas por um pequeno grupo que se aproveita dos protestos para cometer crimes. Mercados, butiques e bancos. Nada escapa das ações dos vândalos.

O minimercado Extra, saqueado na última quinta-feira, voltou a ser alvo de depredação. Dessa vez, no entanto, o estrago foi na porta. Os criminosos não tiveram a chance de levar mercadorias. Pela manhã, a gerência providenciou os reparos. No quarteirão seguinte, o proprietário de uma loja de roupas, Maurício Sulinsk, também trocava a porta quebrada.

Segundo ele, o local só não foi saqueado porque o alarme tocou. Sulinsk também foi avisado por outros comerciantes que faziam vigília nas proximidades e chegou ao local praticamente junto com a polícia. “Muitos lojistas estão ficando em seus comércios. E se tiver novos protestos eu também vou passar a noite aqui”, afirmou. O prejuízo dele foi de aproximadamente R$ 3 mil.

“O pior prejuízo nem é o financeiro, mas o medo que fica. Tínhamos a gangue da marcha a ré, agora temos a gangue da manifestação. Os caras que fizeram isso não são os que foram protestar por melhorias no País. São saqueadores, ladrões”, disse.

Na Rua Thomaz Alves, pelo menos três endereços foram alvos de saqueadores. Um deles, uma loja de roupas femininas, teve a porta completamente destruída e mais de 80% dos produtos foram furtados. O que restou coube em uma pequena caixa.

“Na hora em que viram, ligaram para a gente. Nós viemos, mas eles já tinham completado a ação. É um grupo grande e eles fazem tudo muito rápido”, disse Willian Galluci, que está com a loja instalada há anos no local e nunca havia registrado perdas com roubos ou furtos.

O prejuízo pela ação dos saqueadores, segundo ele, foi de pelo menos R$ 10 mil. “A sensação é de indignação. A gente batalha para conseguir montar um negócio para destruírem dessa forma.”

Na mesma rua, uma loja da rede O Boticário e a Elit Boutic tiveram as portas amassadas.

“Tentaram arrombar. Só não conseguiram porque os seguranças do comércio subiram correndo e conseguiram impedir”, afirmou a comerciante Ityara Cardoso, proprietária da Elit.

Pela manhã, foi necessário desamassar a porta de metal para ela conseguir entrar na loja. “O seguro vai disponibilizar dois seguranças para ficar aqui à noite.”

Com medo de saques, uma loja de sapatos da Avenida Benjamin Constant começou a recolher toda a mercadoria da loja a partir das 14h, desde a última quinta-feira, quando houve o primeiro protesto.

Além disso, está providenciando uma porta de aço para colocar no estoque, onde a mercadoria poderá ser armazenada com maior segurança. “Todo os dias estamos tirando e colocando a mercadoria em sacolas. Pela manhã, nós recolocamos”, afirmou a vendedora Nádia Hansen.

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