VEM PRA RUA

Violência em protesto deixa pais em alerta

Com os filhos nas ruas, sentimento dos pais é de angústia e muito expectativa

Cecília Polycarpo
22/06/2013 às 11:43.
Atualizado em 25/04/2022 às 11:31

A professora universitária Valéria Auxiliadora Ramalheira não pôde participar do protesto em Campinas na última quinta-feira (20), mas deixou os filhos adolescentes exercerem seu direito à cidadania. E, como ela, muitos pais de jovens e adolescentes passaram horas de angústia em casa, sem informações dos filhos na manifestação. A passeata, que começou de forma pacífica às 17h no Largo do Rosário, terminou em confronto em frente ao Paço Municipal e nas vias do entorno. Alguns manifestantes chegaram em casa por volta da meia-noite, depois de os pais terem visto imagens pela televisão e internet de policiais arremessando bombas de gás lacrimogêneo e de pimenta na massa.

“Fiquei mudando de canal toda hora para ver se via alguma coisa de Campinas. Mas a televisão só mostrava as passeatas no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. Quando finalmente vi as imagens, fiquei angustiada”, disse a professora universitária, de 48 anos.

Valéria contou que já participou de greves e estava em meio à multidão que foi às ruas pedir o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Mas, à época, afirma, as manifestações eram menos tumultuadas. “Eu queria ter ido, mas fiquei com medo de deixar meu carro no Centro e ele ser depredado. Nos dias de hoje, manifestações assim sempre descambam para o vandalismo.”

Politizada, a vendedora Cristiana Giovana de Sampaio, de 38 anos, participou do protesto. Mas os filhos, de 16 e 17 anos, não quiseram caminhar ao lado da mãe: foram direto para o Palácio dos Jequitibás. Cristiana ficou no Centro de Convivência Cultural (CCC), no Cambuí, com um grupo de amigos, ouvindo as bombas que eram jogadas na Avenida Anchieta. “Nunca tive uma sensação de desespero tão grande, principalmente, porque os celulares dos dois estavam desligados. Não sabia o que estava acontecendo”, disse.

Por volta das 23h, depois de não ter encontrado os filhos na multidão, Cristiana foi para casa esperar pelos adolescentes. “Eles demoraram meia hora para chegar, mas foram os minutos mais longos da minha vida. Ainda bem que eles vieram são e salvos. E muito assustados com o que viram na rua.” O medo das bombas da Polícia Militar (PM) e da Guarda Municipal (GM), no entanto, não impediu que os filhos da vendedora voltassem à manifestação na noite de ontem.

Avessa a aglomerações, a aposentada Maria D’Ajuda Oliveira Pereira, de 56 anos, também passou por momentos de tortura até o casal de filhos chegar em casa. A primogênita, Gislaine Oliveira Pereira, de 22 anos, passou mal por causa do gás pimenta lançado pelos guardas municipais. “Fiquei apavorada com as imagens. Sabia que minha filha era alérgica. Se eu pudesse, trancava os dois dentro de casa. Mas eles são maiores de idade. Agora, os dois estão bem, graças a Deus”, disse Maria. O caçula, de 19 anos, voltou às manifestações na noite de ontem.

Mais tranquilo, o advogado Rodrigo Maricato, de 41 anos, disse que apenas instruiu a filha universitária a ficar longe de confusões e confrontos. “Tenho muito orgulho por ela estar participando desse momento importante da história do País. Só não fui com ela porque tive que cuidar do meu filho pequeno”, disse.

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