LÍQUIDO&CERTO

Vinho para chocolate

24/03/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 23:35

No fundo, no fundo, acho divertido replicar aqui os resultados de pesquisas sobre os benefícios do vinho para a saúde. Desconfio que a maioria de nós não cultiva o hábito de esvaziar taças pensando no coração, no colesterol, no diabetes, na libido ou em qualquer outro tema ligado à saúde, mas, sim, pelo prazer que a bebida proporciona. E sempre me surpreendo com os esforços da ciência em confirmar o que a intuição e a experiência sabem há quinquênios.A última: a combinação de vinho e chocolate faz bem para a mente. A afirmação parte da Northhumbria University. Segundo os pesquisadores, a presença generosa de polifenóis, tanto no vinho como no chocolate, ajuda a dilatar as veias, facilitando o fluxo sanguíneo ao cérebro, o que significa mais oxigênio e mais açúcares, portanto, melhor desempenho intelectual, especialmente para pessoas com mais idade.

Bem, a ciência resolveu uma encrenca antiga. Harmonizar vinho com chocolate, ainda que os enófilos e sommeliers desenvolvam uma lista de possibilidades, é um desafio. O problema é que o chocolate deixa um resíduo de gordura na boca, o que obstrui as papilas gustativas e impede qualquer percepção do vinho. Bebidas de teor alcoólico elevado conseguem quebrar esse efeito, daí os bombons recheados com uísque, licor, conhaque e cachaça viverem tão felizes.

E o vinho? Pois é, os estilos mais alcoólicos são os doces, ou de sobremesa, que ficam em torno de 20% de álcool (os destilados chegam fácil à casa dos 50%), daí a dificuldade em encontrar o rótulo certo.

Outra preocupação é com a doçura. Para valer a pena, a bebida tem que ser mais doce do que a sobremesa, senão o açúcar vai passar como um trator por cima do vinho. Como se vê, a chance de dar errado é grande e o melhor a fazer é diminuir os riscos. Uma providência é dar preferência para os chocolates amargos ou meio amargos e para os vinhos doces fortificados, que têm mais estrutura e álcool. Vinho do Porto, Marsala, Vin Santo, Passito, Tokay, Jerez, Moscatel de Setúbal e Madeira são as opções mais frequentes.

Banyuls, um clássico

O francês Banyuls, produzido na área de Roussillon com a uva grenache noir, é detentor do título de melhor acompanhante do chocolate. É produzido em vários estilos, de acordo com o período de envelhecimento e, a rigor, não há nada tão especial assim que o coloque nessa posição, a não ser a fama, que vem de longa data. Ele está no rol de combinações clássicas infalíveis, ao lado do foie gras com Sauternes, ostras com chablis, caviar com champanhe, queijos azuis com Porto.

Bem, isso é tudo o que tenho a dizer. Quase tudo. Gostaria de acrescentar que, em alguns casos, é possível sobreviver sem o vinho. Se para você a harmonização é muito complicada, seja simples: devore o chocolate primeiro e curta o vinho doce depois. Saúde!

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