comportamento

Vida compartilhada

Eles são alegres, comprometidos mais com o ser do que com o ter, e vivem uma rotina desapegada e de consumo colaborativo

Katia Camargo
katia.camargo@rac.com.br
22/10/2018 às 18:40.
Atualizado em 06/04/2022 às 01:11

Virou mania: a onda do momento é compartilhar carros, bicicletas, escritórios, livros e roupas com outras pessoas. O comportamento meio egoísta do ‘é meu’ sai de cena para dar lugar ao democrático ‘é nosso’. No ano passado, o instituto Akatu lançou a campanha “Quero Compartilhar”, que informa e convida a população a priorizar o compartilhamento de bens em vez de sua aquisição. Na era da economia colaborativa (compartilhada ou em rede, como também é conhecida), o verbo não é mais possuir, mas sim usufruir. E, na maioria dos casos, esse ambiente econômico é digital e colaborativo. Para Patrícia Lopes, 34 anos, uma empresária da área de comunicação, da Novità Comunicação, o compartilhar se tornou uma proposta de vida. Ao se mudar de Campinas para o Rio de Janeiro, no ano passado, ela decidiu que era hora de abrir mão de ter um carro para chamar de seu. “Foi uma decisão difícil, pois era bem apegada ao veículo e gosto bastante de dirigir. Mas, com a mudança de estado, decidi moldar minha vida para não precisar mais ter carro. Mudei para um bairro que conta com um leque de serviços bem próximos de casa e posso ir caminhando até ao supermercado ou à farmácia. Além disso, hoje faço tudo de Uber ou por sites de caronas compartilhadas, e vivo muito mais feliz”, diz. Patrícia conta que seu irmão também aderiu a ideia ao criar um grupo de carona compartilhada de Campinas até Guaxupé, em Minas Gerais, terra onde moram os pais. A jovem também é adepta ao grupo que hoje já conta com 2800 membros. “Venho para Campinas uma vez por mês, algumas vezes de ônibus, outras de avião ou com o BlaBlaCar, que é uma plataforma de caronas de longa distância. E quando vou para Minas visitar meus pais, uso o grupo de carona porque é muito mais rápido e barato que o ônibus. Essa mudança acabou virando um estilo de vida e me faz conhecer novos amigos, além de economizar e trabalhar o desapego, substituindo o ter pelo ser. Antes oferecia carona e hoje pego carona”, conta. Até a casa que Patrícia mora no Rio de Janeiro foi alugada pelo Airbnb, serviço online comunitário para as pessoas anunciarem, descobrirem e reservarem acomodações e meios de hospedagem. “Mudou tanto minha visão de mundo que hoje em dia eu nem penso em comprar uma casa ou um carro. Moro de aluguel, não tenho carro e a cada dia descubro novidades incríveis dessa vida compartilhada. Entre elas estou encantada com uma plataforma digital chamada Tem Açúcar, que busca resgatar o contato com os vizinhos e incentiva o empréstimo desde uma simples xícara de açúcar, até ferramentas e outros itens diferenciados”, destaca. Tendência O Brasil é o líder em iniciativas de economia colaborativa na América Latina, segundo estudo do IE Business School e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), realizado em 2016. Maurício Bueno, 36 anos, cofundador da Weme - uma rede criada em Campinas que acelera a inovação e o empreendedorismo -, afirma que a economia compartilhada se tornou possível por conta da tecnologia que facilita cada vez mais o número de ofertas desse tipo de serviço. “Isso começou a ocorrer a partir de 1970, e segundo estudos, a projeção é que até 2025 a economia compartilhada passe a movimentar 335 bilhões de dólares”, diz Maurício. A ideia do compartilhamento tem dado tão certo que o terapeuta, engenheiro civil e especialista em sustentabilidade Ricardo Amarante, 49 anos, resolveu trocar o excedente de energia solar gerada em sua casa, em Sousas, pelo aluguel de uma sala dentro de um cooworking. “O que não uso de energia a CPFL volta como crédito, daí transfiro o crédito para o escritório compartilhado no qual faço meus atendimentos. No final do mês fazemos um balanço para ver se deu tudo certo no quanto usei o espaço e transferi de energia”, revela. O contador Sergio Michelassi, 52 anos, não só usa o Airbnb quando viaja como também recebe pessoas pelo site em sua chácara, em Jaguariúna. “Começamos usando em viagens nacionais e hoje, quando vamos para fora do Brasil, é pelo Airbnb. Já nos hospedamos na França, Itália, Espanha e em Portugal. Nunca tivemos problemas, pelo contrário, conhecemos pessoas de vários países. O mais legal desse tipo de experiência é ter a visão do morador local, que nos dá dicas muito boas de lugares para conhecer e para comer que vai muito além do turismo”, destaca. A experiência de compartilhar a chácara também é muito positiva. “Recebemos pessoas de todos os lugares e acabamos fazendo novos amigos”, diz. Conhecimento Buscando facilitar o dia a dia dos clientes, que, muitas vezes, trabalham ou têm afazeres profissionais, o Campinas Shopping conta um local dedicado ao trabalho compartilhado, o Espaço do Conhecimento, localizado em frente à loja Pontal Calçados, aberto ao público e gratuito. O ambiente foi pensado para o trabalho autônomo e também possibilitar networking. Além disso, proporciona vivência para uma nova realidade, que é a dos freelancers e das start-ups, por exemplo. Muitos optam por trabalhar em locais como este para obter, inclusive, maior inspiração para o cotidiano dos negócios. Não há necessidade de reserva para a utilização. O Espaço do Conhecimento conta com cadeiras e mesas, lousa para aulas e palestras, entradas para carregar notebooks e celulares na energia, acesso à internet, poltronas e é todo ambientando como um escritório. O local pode ser utilizado para reuniões, receber clientes ou mesmo para realizar o trabalho habitual.  Espaço Livros Livres Criado em 2016, o espaço Livros Livres, no Shopping Parque das Bandeiras, surgiu com o objetivo de ser um ambiente de descanso e de confraternização de livros e revistas. Para participar, basta pegar o livro que gostou e deixar outro livro que não quiser mais para que outras pessoas possam viajar no mundo da imaginação possibilitada pela leitura. Os livros também ficam disponíveis para os clientes que querem um momento de descanso em meio às compras e podem fazer uma leitura momentaneamente e depois deixar a obra no espaço para outros leitores. Guarda-roupa compartilhado Quem nunca comprou uma peça de roupa ou um sapato novo e nunca usou, que atire a primeira pedra. Pensando nesse público, a empreendedora Milena Carlström, 40 anos, lançou a Entreroupas, que visa compartilhar roupas e acessórios de forma consciente, econômica e sustentável. Funcionando dentro da Oca Urbana - um espaço de cooworking que fica em frente à Lagoa do Taquaral –, por meio de uma mensalidade as mulheres têm acesso a um grande acervo de roupas e acessórios de diferentes estilos e que podem ficar até 10 dias com as clientes. “As pessoas podem ousar mais, pois levam para casa peças que nem sempre comprariam”, diz. A Entreroupas conta com pelo menos 300 peças, muitas delas de marcas consagradas como Dior, Gucci e peças de lojas populares também. “O objetivo é que a pessoa sinta como se estivesse abrindo o armário da casa de uma amiga. Mas, uma amiga de muito bom gosto”, destaca Milena. O modelo de negócio surgiu na Europa e seu caráter inovador logo conquistou também os Estados Unidos e já chegou por aqui. Tem açúcar? O Tem Açúcar é uma plataforma que facilita o compartilhamento de coisas entre vizinhos. O objetivo é resgatar o hábito de bater na porta do vizinho para pegar algo emprestado e emprestar suas coisas. Com isso economiza-se dinheiro, além de agir de forma sustentável e quebrar o gelo na hora de conhecer os vizinhos. Detalhe: não é preciso dar nada em troca e nem pagar por isso, tipo aquele ditado: gentileza gera gentileza. Entre os itens emprestados, além do açúcar, dá para incluir furadeiras, martelos, escadas, liquidificador, ou seja, o que a pessoa quiser disponibilizar.

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