Coluna publicada na edição de 7/3/19 do Correio Popular
O Guarani perdeu um de seus principais reforços para a temporada de 2019. Minutos depois do empate com a Ferroviária no Brinco de Ouro, o clube anunciou o desligamento de Victor Ramos. O ex-zagueiro do Palmeiras disputou apenas quatro partidas e sua precoce despedida tem ligação direta com dois assuntos abordados pela coluna na semana passada. O primeiro diz respeito à expectativa que um torcedor de clube médio deve ter no atual momento do futebol brasileiro e como ele deveria se comportar no estádio. O Guarani foi engolido pela Ferroviária no Brinco de Ouro e o ponto conquistado caiu do céu. Os visitantes jogaram melhor do início ao fim da partida e nem mesmo na derrota por 3 a 0 para o Santos no Pacaembu a equipe de Osmar Loss foi tão envolvida. Nenhum bugrino deve ficar satisfeito com uma atuação ruim diante de outro time do Interior, mas o papel do torcedor deveria ser o de ajudar o time a conquistar seus objetivos, mesmo nas atuações ruins. Mas no Brasil isso não existe. Em Campinas, menos ainda. O torcedor só quer grandes atuações. Diante disso, o melhor a se fazer é aprender a conviver com as vaias, inclusive nas vezes em quem forem injustas. Isso vale para os técnicos, sempre muito visados, e principalmente para atletas. Victor Ramos deixou o gramado gesticulando para a torcida, reclamando das críticas. É aceitável que o torcedor vaie quando deveria se esforçar para aplaudir. Afinal, ele é passional. Sai de casa achando que seu time vai passar por cima do adversário, mesmo quando nada indica que isso seja possível. Já o atleta é um profissional. Entre muitas de suas atribuições está a de respeitar clube e torcida. Victor Ramos ignorou a insatisfação do torcedor. Foi embora sem ter o menor envolvimento com os objetivos do clube. Nesse aspecto, o zagueiro foi o oposto de Jael, atacante que deixou o Grêmio pela porta da frente. O comportamento do atacante foi elogiado na coluna de sábado. Ele foi humilhado em 2017, temporada na qual não marcou gol. Virou piada, mas nunca ofendeu a torcida ou pediu para ir embora. Ao contrário, quis ficar mesmo quando teve boas propostas para ser negociado. Em 2018, fez muitos gols e hoje ganha três vezes mais no Japão. Saiu do Olímpico respeitado, como ele mesmo afirmou. Jael agiu com profissionalismo, dentro e fora de campo. Diante da vaia, aumentou seu esforço. Respeitou clube e torcida. Victor Ramos fez tudo ao contrário. Um bom dirigente de futebol jamais deveria contratar um atleta sem antes avaliar se o perfil dele é mais parecido com o de Jael ou com o de Victor Ramos. Dar a esse aspecto a devida importância é fundamental para o sucesso na montagem de um elenco.