ZEZA AMARAL

Vergonhas da bola

Zeza Amaral
28/07/2015 às 05:00.
Atualizado em 28/04/2022 às 17:37
ig-zeza-amaral (AAN)

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Eles farão o possível para nos convencer que jogam futebol. Eles têm chuteiras, meiões, calções, camisas e tatuagens nos braços. Mais parecem paredes pichadas por idiotas suburbanos. Têm cabelos de cortes bizarros, usam sempre óculos escuros e fones nos ouvidos quando chegam nos aeroportos, principalmente para não ouvir os apupos da torcida. Têm uma língua presa comum, não conseguem concluir uma frase e, quase sempre, coçam a cabeça e arrumam sobrancelhas e outros pêlos do nariz, ouvidos e têmporas. É fato: trata-se de um boleiro, jovem, ganhando milhões de euros e se achando o rei da cocada preta — e que não se incomodam pela derrota sofrida. Quanto aos sete a um que levamos na última Copa do Mundo, ninguém fala nada. E muito não falarão da desastrada desclassificação da Copa América. Segue a vida e a Libertadores é um pesadelo para os times brasileiros. Vamos dançar salsa nos próximos anos. E os meus velhos pesadelos anunciam que estaremos fora da próxima Copa do Mundo. Não consigo imaginar tamanha tristeza. Posso entender uma goleada por sete a um, mas, jamais, ficar de fora de um Campeonato Mundial. E tudo caminha para tanto — ou a CBF vai entrar nos eixos e acabar com a farra de empresários e cartolas que fizeram do nosso honesto e romântico futebol uma grande lavanderia financeira? Futebol, para mim, é a Ponte Preta. Sempre foi. O raro leitor sabe disso e bem sabe que tenho carinho pelos contrários. E os nossos meninos enfrentaram o Internacional com a sempre histórica garra pontepretana. Dizem por aí que o elenco é mais importante que um time. E qual time brasileiro tem um time e um elenco? A Ponte Preta vem mostrando que tem um time e um bom elenco. Biro Biro, que, após superar suas limitações emocionais (o que é natural na juventude), faz do ofício a sua vida, agora compreendendo o jogo coletivo, e, espero, se divertir ainda mais, servindo seus companheiros, e, mais uma vez, fazer a alegria da torcida, com a noção que o trabalho bem-feito sempre será reconhecido. Pentacampeão é apenas nada. E alguma coisa a mais significa tudo. Vergonha na cara é uma coisa. E vergonha no bico da chuteira é outra coisa. E vergonha é o que não falta no cimento das arquibancadas brasileiras. E eis o Brasil do futebol, do menino brasileiro. E velho estou e torcendo pelos sonhos dos meus netos. Vergonha na cara, Brasil! Vergonha na cara, boleiros!Bom dia.

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