Editorial

"Vaquinha", lanchinho e coisinhas

Correio do Leitor
20/03/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 23:59

Campinas acabou de passar por um terremoto político: crise sem precedentes, dois prefeitos cassados, uma empresa conceituada no olho do furacão, a Sanasa, e desdobramentos econômicos com embargo de vários empreendimentos imobiliários. A cidade, atingida em seu núcleo administrativo, passou a ser notícia negativa em todo o País, motivo mais que suficiente para afetar o orgulho e a estima de um povo historicamente dedicado ao trabalho.

O processo de reconstrução da política em Campinas ainda está em franco andamento. O governo Jonas assumiu com muitas ideias. Há grande esperança em sua gestão. Na Câmara, a renovação superou os 50%, fruto do desejo do eleitor de mudar não só os nomes que vinham ocupando os 33 assentos, mas também o jeito de legislar. É neste contexto que os agentes públicos assumiram. É por meio desta perspectiva que deveriam conduzir seus atos.

No momento, porém, o debate que viceja na Câmara não é sobre nenhuma lei de relevante interesse público, mas sim a decisão da presidência da Casa de abrir uma concorrência para contratar empresa fornecedora de lanches para as sessões, num custo estimado de até R$ 48 mil por ano. O edital publicado no site da Câmara prevê um cardápio apetitoso: sanduíche de metro, croissant, bolos, pão de queijo, três frutas da época, patê de azeitona e frango, leite, chocolate em pó, geleia, manteiga e suco de frutas. O menu envolve todo um aparato de serviço, com garçons, talheres e até decoração de mesa. Por sessão, seria algo em torno de R$ 700. Hoje, o lanchinho dos vereadores é oriundo de uma prosaica “vaquinha” feita por eles mesmos, em cardápio aceitável de pão, mortadela, presunto, queijo e refrigerante. Precisa mais?

O presidente da Casa, Campos Filho (DEM), reiterou que a licitação se justifica porque a “vaquinha” é uma “compra feita de forma individual e sem respaldo jurídico”, no que ele tem toda a razão, semanticamente falando.

No dicionário do interesse público, no entanto, a licitação não é uma coisinha tão simples assim. O gasto público desnecessário é evidente. Alguns vereadores, inclusive, já se manifestaram contrários ao edital. As vozes são escassas, mas existem.

Além disso, o risco de a mesa farta da Câmara gerar desperdício é altíssimo, levando-se em contato a saída precoce dos parlamentares das sessões. O caso é ainda um exemplo mais que didático da inversão da causa pública: enquanto homens privados, é de se supor que estes vereadores não dariam contribuição tão generosa para um lanche parecido com o que o edital prevê. Mas como homem público... Aí, já é outra história.

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