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Vai quem quer

Folia de rua em Campinas já tem 44 blocos e a estimativa de participação é de 138 mil foliões

Adriana Menezes
17/02/2020 às 15:31.
Atualizado em 29/03/2022 às 21:26

Quem disse que Campinas não tem Carnaval de rua? Os 44 blocos carnavalescos da cidade levarão às ruas mais de 138 mil pessoas ao longo do mês de fevereiro. A folia começou no dia 1º do mês e só termina no dia 29. Não precisa inscrição, fantasia ou pagamento: vai quem quer na folia. O fenômeno dos blocos que nos últimos anos cresceu em todo o Brasil, também contagiou Campinas, onde há grupos de todos os tamanhos e em diversas regiões da cidade.O maior de todos, City Banda, saiu às ruas ontem, dia 15, na Arautos da Paz. A estimativa de público era de 50 mil foliões. A fama do bloco já rompeu fronteiras e hoje atrai carnavalescos de toda a região, que chegam em ônibus e turmas para curtir o Carnaval de rua da cidade. O City Banda cresceu tanto que deu origem a novos blocos, como o Cordão do Félix, que esperava reunir mil pessoas nesta sexta-feira, dia 14, na Praça Carlos Gomes. Neste domingo, dez blocos arrastarão foliões pela cidade, nos mais diversos estilos: do menor - Bloco de Terreiro Unidos do Axé – ao mais antigo - Nem Sangue Nem Areia –, todos prometem animar as ruas em bairros espalhados por toda a cidade, de Barão Geraldo a Jardim Bandeira, Vila Industrial, Vila Padre Anchieta e Vila União. Entre os blocos oficiais na Secretaria de Cultura de Campinas, o Terreiro Unidos do Axé é o menor em número de foliões. Ele espera animar cerca de cem pessoas na Praça do Coco, em Barão Geraldo, na tarde de hoje. TradiçãoO mais antigo bloco de Campinas, Nem Sangue Nem Areia, também sai às ruas hoje, a partir das 13h na Vila Industrial, com expectativa de atrair 3 mil pessoas. Fundado em 1946, o bloco deixou de desfilar em 1976 e após 33 anos voltou às ruas mantendo o estilo do Carnaval de bairro. Os jornalistas Paulo Reda, Roberto Cardinalli e Eric Iamarino se juntaram a Helder Bittencourt, em 2009, para reavivar o tradicional bloco.Helder agora é lembrado pelos amigos, todos os anos, na imagem do boneco gigante (como os famosos bonecos de Olinda) que se mistura aos foliões esperados na Rua Francisco Teodoro. Esse ano o samba-enredo faz homenagem aos trens. Imprimindo profissionalismo na organização, Nem Sangue Nem Areia promove concurso de samba-enredo para um tema escolhido a cada ano, nos mesmos moldes das escolas de samba paulistas e cariocas. Toda a animação é feita por profissionais. O bloco também vende camisetas, mas mantém a participação gratuita e aberta para quem chegar, assim como todos os blocos carnavalescos.AmigosA jornalista Ivaci Oliveira está pronta para ir hoje à Vila Industrial atrás do trio elétrico do Nem Sangue Nem Areia. Ela é integrante do BaitaClã, bloco informal que nasceu dentro do Nem Sangue Nem Areia no Carnaval de 2017, composto por 16 mulheres e três homens. “Começou com meia dúzia de amigas vestidas de Mulher Maravilha, depois foi crescendo e no ano passado nos inspiramos nas meninas do Bataclã de Jorge Amado. O legal é que a diversão começa muito antes do Carnaval, porque nós nos reunimos para definir fantasia, depois participamos de toda a programação do Nem Sangue Nem Areia, desde a escolha do samba, até o lançamento e o dia que sai nas ruas", descreve Ivaci, que segundo ela não é carnavalesca desde criancinha. "Virei carnavalesca em 1992, quando conheci o Carnaval de rua do Recife, depois o de Salvador. E agora eu aderi a este retorno dos blocos de rua. Antes disso, quando eu ficava em Campinas no Carnaval, preferia acampar.”Volta às origensA arquiteta e comerciante Berenice Pereira este ano se vestiu de ET no bloco Curruíra, que saiu às ruas com o Cordão do Félix na sexta-feira. “Curruíra nasceu em 1999 dentro do City Banda e depois formou o Bloco do Félix junto com o Unidos, porque o City cresceu demais”, diz a carnavalesca que é também fundadora do Bloco da Galinhada, há dez anos em Joaquim Egídio. Ela lembra que o próprio City Banda promovia concursos entre os pequenos blocos que surgiam dentro dele, sempre organizados por grupos de amigos. Unidos e Curruíra se juntaram e formaram o Bloco do Félix. “Fizemos uma homenagem a Edno Félix, um amigo que faleceu e que sonhava em unir os blocos concorrentes”, diz Renato La Selva, proprietário de restaurante em Americana e também integrante do Curruíra.“A nossa motivação é brincar com os amigos. Campinas não tem Carnaval de escolas de samba, que foram extintas. As prefeituras quebradas não conseguem mais preservar o Carnaval. O que é uma pena, porque o Carnaval faz parte de nossa cultura. Por isso que os blocos cresceram. Foi uma coisa que se consolidou e as pessoas voltaram às origens, para curtir o Carnaval mais familiar, que nos remete ao passado. E também porque Carnaval é alegria”, avalia La Selva. Curruíra tem bateria própria há três anos, que ensaia ao longo do ano com os cerca de 30 integrantes. No ano passado, o Cordão do Félix viu nascer mais um bloco entre seus integrantes: o Vem Comigo.TransgressãoPara o secretário de Cultura de Campinas, Ney Carrasco, o Carnaval de rua conserva o caráter caótico e de liberdade das origens do Carnaval. “Você não precisa estar inscrito ou ensaiar obrigatoriamente. Você vai se quiser. Se você pegar as origens do Carnaval brasileiro vai ver que sempre foi um fenômeno de rua, como o Zé Pereira, os desfiles de corsos e o costume de jogar água no outro. A cultura carnavalesca tem este caráter da inversão e transgressão”, relembra Carrasco.A institucionalização das escolas de samba, diz ele, fizeram com que esta forma mais descomprometida de pular o Carnaval se perdesse. Nas décadas de 1920 a 1930, as escolas de samba promoveram a integração das comunidades, fazendo com que se transformassem no que são hoje, mas os blocos foram desaparecendo e somente alguns mais tradicionais, como Bola Preta no Rio de Janeiro e Galo da Madrugada no Recife sobreviveram. Nos últimos anos, no entanto, com o decréscimo do Carnaval institucionalizado - por diversos fatores, especialmente o econômico e a falta de subsídio das administrações públicas - houve um crescimento do Carnaval de rua, dando vazão à cultura popular. Para abrir um bloco em Campinas, qualquer cidadão pode se inscrever na Prefeitura. Uma vez oficializado, será agendada uma data e lugar para a brincadeira e a administração pública deve garantir uma infraestrutura básica, que envolve Emdec, Guarda Municipal, Setec, Polícia Militar, Departamento de Urbanismo, Limpeza Urbana, Serviços Públicos e as câmeras de segurança.

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