LAVA JATO

Vaccari usou gráfica ligada ao PT com dinheiro de propina

Empresa foi punida junto com a CUT por fazer propaganda eleitoral ilícita em favor da então candidata Dilma Rousseff em 2010; tesoureiro nacional do PT foi preso hoje na 12ª fase da Operação Lava Jato

Agência Estado
15/04/2015 às 14:37.
Atualizado em 23/04/2022 às 16:33
Vaccari usou gráfica ligada ao PT com dinheiro de propina (Evaristo Sa/ AFP)

Vaccari usou gráfica ligada ao PT com dinheiro de propina (Evaristo Sa/ AFP)

Em novo depoimento à força tarefa da Operação Lava Jato, prestado no dia 31 de março, o executivo Augusto Mendonça, da Setal Óleo e Gás (SOG) - uma das empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras -, afirmou que o tesoureiro do PT João Vaccari Neto pediu R$ 2,5 milhões, não em forma de doações ao PT, mas em pagamentos à editora Gráfica Atitude, sediada em São Paulo. Segundo Mendonça, o tesoureiro solicitou que tais pagamentos fossem realizados para cobrir propagandas em revista pertencente à editora, que mantém vínculos com o PT. A Editora Gráfica Atitude Ltda. foi punida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por propaganda ilegal da campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010. A gráfica foi punida juntamente com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) por fazer propaganda eleitoral ilícita em favor da então candidata Dilma Rousseff, e contrária a José Serra, candidato do PSDB em 2010. (Leia texto completo abaixo) Vaccari Neto, tesoureiro nacional do PT, é preso pela Polícia Federal Para oposição, impeachment de Dilma volta à pauta com prisão de Vaccari Líder do PT diz que prisão de Vaccari é política O delator disse que "em pelo menos três oportunidades" Vaccari solicitou a ele que efetuasse tais contribuições ao PT mediante pagamentos à Editora Gráfica Atitude, cada uma delas nos anos de 2010, 2011 e 2013. Ele disse que os repasses somaram R$ 2,5 milhões por meio de suas empresas, SOG/Setal. Os pagamentos foram efetuados parceladamente, "mês a mês, neste período"."Segundo essa nova revelação, os recursos criminosos teriam sido utilizados não só para a realização de doações registradas ao Partido dos Trabalhadores, mas também para a realização de pagamentos por serviços, total ou em parte, simulados pela referida Editora Gráfica Atitude, isso por indicação de João Vaccari Neto", escreveu o juiz Sérgio Moro ao decretar a prisão preventiva do tesoureiro do PT.Segundo o juiz, "pelo relato de cinco criminosos colaboradores, João Vaccari Neto participou intensamente do esquema criminoso do pagamento de propina e de lavagem de dinheiro que contaminou as operações da Petrobras e da Sete Brasil, cabendo a ele o recolhimento de valores em favor de agentes políticos do Partido dos Trabalhadores". Editora investigada na Lava Jato foi punida por campanha ilegal de Dilma em 2010 Investigada pela Operação Lava Jato, a Editora Gráfica Atitude Ltda. foi punida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por propaganda ilegal da campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010. A empresa teria recebido R$ 2,5 milhões do esquema da Petrobras a pedido do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, apontado pela força-tarefa como operador do PT no esquema de corrupção da estatal. O petista foi preso nesta quarta-feira na 12ª fase da operação. O pagamento à gráfica teria sido feito pela empresa de Augusto Mendonça, um dos delatores do esquema, a pedido de Vaccari. Os investigadores buscam a quebra dos sigilos bancários e fiscal da gráfica para avaliar se outras empresas do esquema da Lava Jato também fizeram pagamentos. A gráfica foi punida juntamente com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) por fazer propaganda eleitoral ilícita em favor da então candidata Dilma Rousseff, e contrária a José Serra, candidato do PSDB em 2010. Os ministros do Tribunal entenderam que tanto a CUT como a gráfica desrespeitaram a legislação eleitoral ao promoverem a candidatura de Dilma em jornal bancado pela central e em revista produzida pela editora, respectivamente em setembro e outubro de 2010. Cunhada de Vaccari lucrou 100% em negócio com empreiteira A cunhada do tesoureiro do PT fez um excelente negócio imobiliário com a empreiteira OAS - alvo da Operação Lava Jato - e lucrou 100% em um breve espaço de tempo, apontam investigadores da força-tarefa que desmantelou esquema de corrupção na Petrobras. Os investigadores falam em "caráter fraudulento da operação" realizada por Marice Correa de Lima, a cunhada de João Vaccari Neto. Eles suspeitam que o negócio "serviu para ocultar e dissimular a origem ilícita dos recursos, tratando-se de possível vantagem indevida paga pela OAS a João Vaccari Neto".Nesta quarta feira, 15, a Polícia Federal prendeu o tesoureiro do PT e fez buscas na residência de Marice, que também tem contra si decreto de prisão temporária. Ela ainda não foi localizada. Os investigadores acreditam que Marice irá se apresentar.O negócio realizado por Marice, em 2012, é referente a um apartamento da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), emblemática entidade fundada por um núcleo do PT nos anos 1990.Rastreamento bancário e fiscal mostra que a cunhada de João Vaccari Neto comprou em 2011 o apartamento 45 do edifício Navio-Mar Cantábrico no Guarujá, litoral de São Paulo. Pagou, na ocasião, R$ 200 mil, segundo sua própria declaração ao Imposto de Renda. No ano seguinte, porém, segundo a declaração de 2013, ela vendeu o imóvel para a empreiteira OAS por R$ 432 mil."Ou seja, em pouco mais de um ano obteve um lucro de mais de 100% sobre o valor investido no bem, revendendo com lucro para a própria incorporadora que assumiu a obra, o que, naturalmente, não é razoável", assinala relatório do Ministério Público Federal.A Bancoop é alvo de uma longa sucessão de ações movidas por cooperados que alegam ter comprado unidades habitacionais, mas até hoje não receberam as chaves. Eles sustentam que a Bancoop repassou a construção dos prédios para a OAS e que a empreiteira cobrou valores superiores aos ajustados na origem dos negócios.A OAS é alvo da Lava Jato porque teria integrado o cartel que se instalou na Petrobrás para esquema de propinas destinadas a ex-dirigentes da estatal e a deputados, senadores, governadores e ex-políticos. A Lava Jato mostra que Vaccari e a OAS mantém ligações muito próximas. O tesoureiro do PT teria arrecadado até US$ 200 milhões em propinas para o PT - uma parte pode ter saído do caixa da OAS.Supostamente com a diferença da compra e venda do apartamento no Guarujá a cunhada do tesoureiro do PT teria adquirido outro imóvel por R$ 91 mil de entrada e concedido empréstimo para Nayara Vaccari, filha de Giselda Rousie de Lima e João Vaccari Neto, de R$ 345 mil. "Nesse mesmo ano calendário de 2013 há fortes indícios de movimentação financeira incompatível, entre os meses de setembro de outro, junto ao Banco do Brasil", assinalam os investigadores.A força-tarefa constatou que, naquele mesmo ano, de acordo com dados do registro de imóveis, a OAS vendeu em 2014 um apartamento igual, unidade 44-A do Edifício Salinas (Condomínio Solaris), por R$ 337 mil, "valor muito abaixo do que foi pago a Marice Correa de Lima, o que reforça o caráter fraudulento da operação".

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