DEPOIMENTO

Vaccari propôs quitar dívida com doação ao PT

O ex-vice-presidente da Camargo Corrêa Eduardo Hermelino Leite contou que foi apresentado pelo empreiteiro João Auler ao doleiro Alberto Youssef

Das Agências Estado e Brasil
26/05/2015 às 12:03.
Atualizado em 23/04/2022 às 12:30
A ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, Meire Bonfim da Silva Poza, disse que doleiro circulava com 'malas de dinheiro'; lavagem utilizado pelo PT, PMDB e PP ( Divulgação)

A ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, Meire Bonfim da Silva Poza, disse que doleiro circulava com 'malas de dinheiro'; lavagem utilizado pelo PT, PMDB e PP ( Divulgação)

O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso na Operação Lava Jato, propôs à Camargo Corrêa que a empreiteira efetuasse o pagamento de “dívidas oriundas de propina” por meio de doações legais ao partido. A afirmação foi feita nesta terça-feira (26) pelo ex-vice-presidente da empresa Eduardo Hermelino Leite em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras.“No segundo encontro que tivemos, ele [Vaccari] disse que estávamos em débito com o pagamento de propina à Diretoria de Serviços e me ofereceu quitar a dívida por meio de doações oficiais ao PT”, contou Leite. “Tive ‘n’ encontros com o Vaccari”, acrescentou. À época, a diretoria de Serviços era comandada por Renato Duque. Duque e Vaccari são réus em ações penais decorrentes da Lava Jato, acusados de lavagem de dinheiro. De acordo com o empreiteiro, a proposta de Vaccari foi levada à diretoria da Camargo Corrêa, que não aceitou mudar a forma do pagamento de propina. Cartel O ex-vice-presidente da Camargo Corrêa confirmou que havia encontros entre as empreiteiras e que o cartel lhe foi revelado por Dalton Avancini, ex-diretor-presidente da empresa. O cartel era formado por grandes construtoras num momento em que a Petrobras era, em suas palavras, a grande contratante do País. "Mas não participei do evento (encontro do clube de empreiteiras)".Leite citou a companhia Vale como exemplo e disse que a empresa adota práticas que evitam o "entendimento" no mercado. "Existem práticas que podem ser feitas que podem evitar que ocorram o ilícito", declarou. Para ele, a existência de projeto de engenharia avançado evita irregularidades em empresas como a Petrobras. "Quando tem precisão de orçamento, não acontece nada de errado", afirmou. Apresentação O executivo contou que foi apresentado pelo empreiteiro João Auler ao doleiro Alberto Youssef dentro da Camargo Corrêa, situação em que ele estava acompanhado do ex-deputado José Janene (PP-PR). Eles haviam procurado a empreiteira para cobrar pactos e pagamento de propina. "Esses dois são agentes responsáveis pela áreas de Abastecimento", teria dito Auler a Leite. Ele disse que não conhecia o passado de crimes de Youssef e que ele se apresentou como empresário. "Youssef era uma pessoa extremamente inteligente", comentou. Herança Eduardo Hermelino Leite, falando em arrependimento, disse que "lamentavelmente" participou do pagamento de propina a agentes públicos e privados e que hoje tem seu futuro profissional comprometido. "Mais do que arrependimento, tenho uma profunda frustração profissional", declarou. Em suas primeiras palavras, o executivo disse que tinha 21 anos de Camargo Corrêa e que em 2009, ao assumir a diretoria de Óleo e Gás da empresa, herdou um esquema preexistente, passado por seus antecessores. Ele relatou que os colegas haviam dito que o "cliente" (Petrobras) funcionava dessa maneira e que era difícil deixar tal "atividade". "Herdei uma prática e tive de administrá-la, mantendo os procedimentos já adotados", comentou. Contatos Ao assumir a prática de atos ilícitos, Leite confirmou que manteve contato com os ex-diretores Renato Duque (Serviços) e Paulo Roberto Costa (Abastecimento) - e com o ex-deputado federal José Janene (PP-PR) e os operadores Júlio Camargo, Alberto Youssef e João Vaccari Neto. "Eram operadores contumazes que insistiam no pagamento dessas obrigações", disse.Júlio Camargo e Youssef foram chamados por ele de facilitadores de encontros com os diretores da Petrobras. O delator chegou a revelar, em oitiva à Justiça Federal na semana passada, que foi procurado por Costa e Duque para pagar propina mesmo depois que eles deixaram os cargos na estatal. ValorLeite destacou que 1% do custo da obra era destinado ao pagamento de propina. "Esse custo era cobrado pela Petrobras, conforme o andamento da obra", contou. De acordo com ele, se não tivesse esse custo, os valores cobrados da estatal poderiam ter sido 2% menores, já que era pago metade para cada diretoria.Leite falará apenas sobre os crimes relacionados ao esquema de corrupção na Petrobras. O executivo, que cumpre prisão domiciliar e renunciou ao direito de ficar em silêncio, é ouvido na condição de investigado.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por