CONTRA PM

Universitários fecham a reitoria da Unicamp

Invadiram e passaram a noite no prédio; agora pela manhã, impedem a entrada de funcionários

Johnny Inselsperger
03/10/2013 às 21:14.
Atualizado em 25/04/2022 às 01:08
Estudantes da Unicamp durante assembléia para discutirem a presença da PM dentro do campus ( Leandro Ferreira/AAN)

Estudantes da Unicamp durante assembléia para discutirem a presença da PM dentro do campus ( Leandro Ferreira/AAN)

Cerca de 200 estudantes da Unicamp permanecem na reitoria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) após terem passado a noite e invadido o local na quinta-feira (3). A Unicamp informou em nota enviada à imprensa na manhã desta sexta (4) que 'a presença da Polícia Militar nos campi da universidade diz respeito a um problema de segurança pública e não a uma tentativa de intimidação ou cerceamento das atividades relacionadas ao contexto acadêmico. Tanto é assim, que na noite de quinta-feira (03) ocorreu uma assembleia de estudantes, que reuniu 400 dos cerca de 30 mil alunos do campus em Campinas, sem qualquer tipo de interferência'. Parte destes estudantes, aproximadamente 200, invadiram a reitoria após a assembleia.Os funcionários chegaram esta manhã para trabalhar, mas foram impedidos de entrar porque os alunos lacraram o prédio. Segundo um funcionário que conseguiu acesso nas dependências do prédio, o cenário e de destruição. Os alunos são contra a presença da Polícia Militar no campus. João Marques, auxiliar administrativo da Unicamp, teve autorização dos invasores para entrar para pegar um remédio de uso contínuo. Segundo ele, monitores de computador estão pichados, assim como paredes, armários tombados e janelas quebradas. Todo o trajeto à mesa dele foi acompanhado de um um grupo de 15 pessoas, muitos alunos ainda estavam dormindo. "É muito triste ver isso porque é o meu local de trabalho', disse Marques, completando que os estudantes voltaram a afirmar que o motivo do protesto é a presença da PM. A imprensa também está impedida de ingressar no edifício. A direção da universidade solicitou o policiamento depois que um aluno foi morto dentro da escola em setembro durante uma festa clandestina. Ele levou uma facada no coração e foi espancado. O diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU), Antonio Alves Neto, que também teve acesso ao prédio da reitoria, minimizou os atos de vandalismo dos estudantes dizendo que o que viu "é o esperado para uma ocupação". Ele disse ainda que o STU é contra a presença da PM no campus e que apoia o movimento estudantil. Além disso, informou que o grupo fará uma reunião em breve para discutir os rumos do movimento. No começo da noite de ontem, os universitários tamparam as janelas do prédio com panos escuros para evitar que a polícia e a imprensa vissem o que estava acontecendo no interior das salas. Alguns deles, encapuzados, chegaram a subir no telhado. Dois seguranças foram obrigados a abandonar uma sala a mando dos ocupantes. Três viaturas da polícia acompanhavam a movimentação de longe, sem interferir. O delegado assistente da Delegacia Seccional de Campinas, Oswaldo Diez Junior, esteve no local para constatar a invasão e relatar os danos ao patrimônio público. Além disso, fez o registro para que a universidade entre com medida judicial para a reintegração de posse da reitoria.A Polícia Militar do Estado de São Paulo informou por nota que só vai agir quanto a reintegração de posse quando receber Ordem Judicial. "Quanto ao policiamento interno no campus da Unicamp, ainda não foi firmado nenhum convênio específico sobre o fato, contudo continuaremos atendendo todas as demandas via 190", completa o comunicado oficial. Segundo a coordenadora do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Carolina Figueiredo Filho, os estudantes exigem que a direção reveja a decisão sobre a PM. Vários cartazes foram colados nas janelas com os dizeres: 'Fora PM'. Entenda o caso A permissão para que o patrulhamento da Polícia Militar fosse realizado dentro da universidade ocorreu no dia 26 deste mês depois que a reitoria aceitou a proposta do governador Geraldo Alckmin (PSDB) de colocar a PM para atuar na segurança do campus. A preocupação com a segurança da instituição ficou exposta após o assassinato do estudante Denis Papa Casagrande, de 21 anos, no sábado (21). Ele foi espancado e esfaqueado em uma festa clandestina que acontecia no Ciclo Básico, no interior da universidade. Maria Teresa Peregrino, de 20 anos, confessou ser autora do golpe fatal no peito do universitário. Ela alega legítima defesa. Redes Sociais Foi criada no Facebook uma página "Ocupação Unicamp 2013" e foi postada uma nota sobre a ocupação. O DCE da Unicamp reproduziu a nota em sua página oficial. Segue abaixo na íntegra: Ontem, dia 03 de outubro, os estudantes se reuniram em Assembleia Geral e decidiram por unanimidade pela ocupação da Reitoria da Unicamp e por indicativo de greve geral a ser construída pelos centros acadêmicos em seus institutos. Nos colocamos contrários à entrada da polícia militar nos campi. A reitoria usou de forma oportunista da tragédia ocorrida no último dia 21, que culminou na morte de um estudante, para dar livre acesso à polícia militar dentro do campus, implantando, assim, seu projeto de universidade contrário à autonomia universitária e ao livre pensamento. Sabemos que, desde agosto, a reitoria vem negociando com o governador Geraldo Alckmin para intensificar a repressão à comunidade acadêmica se utilizando da força policial, sem qualquer discussão com o restante do campus. A máscara de reitor dialogável de Tadeu caiu por terra. Não nos faltam exemplos de truculência e autoritarismo por parte da polícia militar em todo o país: a repressão da greve dxs professores no Rio de Janeiro, as mobilizações de junho, a morte do trabalhador terceirizado da Unifesp Ricardo e a tortura e morte do morador da Rocinha Amarildo. Essa polícia que reprime os movimentos sociais e a juventude negra nas favelas fará o mesmo na universidade. Por isso, FORA PM! Portanto, nos unimos às ocupações da USP e da UnB, acumulando forças nacionalmente por um modelo de educação democrático e autônomo. Não desocuparemos essa reitoria até que tenhamos certeza de um acordo pela retirada da polícia militar de todos os campi e de nenhum tipo de punição aos estudantes, tanto os que estão envolvidos em organizações de festa quanto nesta luta. Convidamos a todxs que se juntem à nossa ocupação e ampliamos nossa chamada a todas as universidades brasileiras a também lutarem contra a repressão, por democracia e pela educação pública, gratuita e de qualidade. FORA PM DO ALCKMIN DA UNICAMP! FORA A PM DAS UNIVERSIDADES, PERIFERIAS E FAVELAS!NENHUMA SINDICÂNCIA DO TADEU A ESTUDANTES! Com informações da repórter Patrícia Azevedo e de Luciana Félix  Estudantes picharam o prédioCréditos: Shana Pereira Funcionários chegaram para tentar trabalhar na reitoria, mas não puderam entrar no prédio Crédito: Shana Pereira Reitoria foi lacrada pelos estudantes Créditos: Shana Pereira Alguns dos estudantes escondiam o rosto com camisetas Créditos: Shana Pereira 

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