Universidade será a primeira do país a ter um curso de pós-graduação no assunto
Doação de peças de arte deu força para universidade criar curso (Cedoc/RAC)
Pela primeira vez no Brasil, a história da arte não europeia será objeto de estudo acadêmico. A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), por meio do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e do Instituto de Artes (IA), vai oferecer uma pós-graduação em história de arte não europeia, que vai tratar de arte pré-colombiana e ameríndia, africana, japonesa e teoria da arte. “A ideia já existia, mas ganhou força a partir da doação à universidade da coleção de peças pré-colombianas (500) e africanas (200) do professor Rogério César de Cerqueira Leite. É uma maneira de expandirmos o programa de história da arte, estabelecido há dez anos e reconhecido entre os melhores do País, mas que trabalha com duas linhas de pesquisa: estudos da tradição clássica renascentista, do século 19 e arte moderna e contemporânea, ambas com foco na tradição europeia”, explica a professora do IA e do IFCH Claudia Valladão Mattos, coordenadora do projeto.“Nos últimos dez anos, tem sido revista em âmbito mundial esta tendência de estudos apenas de arte europeia. Várias universidades internacionais estão incorporando o estudo de artes não europeias em seus programa”, diz Claudia. Ela cita como exemplo a Universidade Livre de Berlim, onde se doutorou em 1996. “Na época, só havia programas voltados à arte europeia. Atualmente, eles pesquisam também arte africana, sul asiática e islâmica. Criaram até um Centro de Estudos de Arte Africana.”Segundo a professora, o Brasil está numa posição especial para ampliar este leque. “O País tem um legado cultural que vai muito além do desenvolvimento de uma arte europeia transplantada para o Brasil”, afirma. Para Claudia, uma das dificuldades para iniciar o estudo da história da arte não europeia no País é a escassez de coleções públicas de arte africana no Brasil. “Existe uma coleção excepcional de obras afro-brasileiras no Museu Afro-Brasileiro no Ibirapuera, em São Paulo. Mas que eu saiba apenas esta”, comenta. Nesse sentido, a doação de Cerqueira Leite facilita muito o trabalho. “Analisar as peças só por ilustrações não é a mesma coisa. Ter acesso às peças aprofunda o estudo.” Foto: Divulgação A coordenadora do projeto, Claudia Valladão Mattos Claudia frisa ainda que o programa de história da arte não europeia está vinculado ao IFCH e vai funcionar em conjunto com as outras pesquisas na área. “A ideia é oferecer a todos os pós-graduandos uma formação geral de história da arte. A teoria da arte entra no cardápio para garantir o vínculo entre as diversas linhas.”DestinoO novo programa começa em 2014 e as inscrições estão abertas. Segundo Claudia, o destino exato das obras da coleção particular de Cerqueira Leite doadas à Unicamp ainda não está definido. Elas podem ser colocadas em um museu específico a ser construído ou em um instituto de pesquisas. A coleção foi exibida em Campinas no ano passado, na mostra Memória e Altar, realizada na CPFL Cultura. Além de Claudia, integram o núcleo inicial do programa Luciano Miggliacio, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Paulo (FAU-USP), Marcos Tognon, Pedro Paulo Funari e Omar Thomaz, da Unicamp.SERVIÇOAs inscrições para o programa de pós-graduação em história da arte não europeia já estão abertas e podem ser feitas até 1 de outubro pelo site: www.Ifch.unicamp.br, acessando o link de pós-graduação.