CONTRA PM

Unicamp: alunos desafiam Justiça e mantêm ocupação

Permanecerão acampados no final de semana mesmo com liminar que garante reintegração de posse

Da redação
05/10/2013 às 08:45.
Atualizado em 25/04/2022 às 00:51
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PATRÍCIA AZEVEDOFABIANA MARCHEZI Os universitários que ocupam a reitoria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desde quinta-feira (3) permanecerão acampados no prédio neste final de semana. Na sexta (4), a universidade conseguiu uma liminar na Justiça determinando a reintegração de posse, mas os estudantes se negaram a receber o documento do oficial de justiça e mantiveram a ocupação.Na tarde de ontem, uma comissão de ocupantes se reuniu durante três horas com representantes da reitoria para discutir a pauta de reivindicações, mas a conversa não evitou a continuidade da ocupação durante o fim de semana, com revezamento de alunos. A próxima plenária do grupo está marcada para segunda-feira, às 12h. Uma reintegração de posse só ocorreria após esse horário, a pedido da própria universidade. O principal motivo do protesto é a autorização da universidade para a Polícia Militar (PM) patrulhar o campus, após a morte do estudante Denis Papa Casagrande, de 21 anos, em uma festa no Ciclo Básico.O mandado determinando a retirada dos universitários do espaço foi expedida na tarde de ontem pelo juiz Wagner Roby Gidaro, da 2ª Vara da Fazenda de Campinas. O oficial de Justiça Manassés Tosetti foi ao prédio pouco depois das 15h, mas o grupo se negou a receber o documento e manteve a ocupação. A reunião Segundo os manifestantes, na plenária de sexta a reitoria cedeu em alguns pontos. “Em relação à PM, se comprometeu a criar um ciclo de debates para decidir em votação durante o Conselho Universitário sobre a entrada dos policiais”, disse Lígia Carrasco, membro da comissão de negociação. Segundo ela, a universidade também propôs que as sindicâncias que já estão abertas para apurar a realização de festas não tenham caráter punitivo, mas que tenham objetivo de aprimorar os meios de segurança da universidade, a não ser que os fatos comprovem fatos como um crime. “A reitoria também se comprometeu a não punir os invasores, desde que o Diretório Central dos Estudantes arque com os danos.” Em contrapartida, a Unicamp, dizem, pediu que os alunos não realizassem mais festas no campus, mas os estudantes não se comprometeram. “O acordo só será selado na assembleia.” A reunião contou com a participação do vice-reitor Álvaro Crosta e mais seis representantes da instituição, com sete alunos da comissão. Nenhum representante da reitoria estava disponível na noite de ontem para confirmar e comentar o resultado da reunião. Estragos Vidros quebrados, portas arrombadas, móveis tombados e muita pichação. Esse foi o cenário que alguns funcionários encontraram dentro do prédio da Reitoria da Unicamp na manhã de ontem, dia seguinte à invasão. O prédio está com algumas janelas quebradas, uma porta arrancada e pichações.Parede de prédio no campus da Unicamp pichada com frases de protesto  Segundo funcionários que trabalham no local, documentos oficiais foram usados pelos manifestantes para impedir a visão de quem passa pela rua. No início da manhã, os servidores que trabalham no local foram impedidos de entrar e dispensados do expediente. João Marques, que atua na área administrativa, conseguiu entrar no prédio para buscar um remédio e contou que ficou impresssionado ao encontrar os monitores dos computadores pichados. “É estranho chegar encontrar o seu local se trabalho assim.” Marques conta que havia cerca de 150 estudantes na reitoria pela manhã, muitos dormindo pelos corredores. “Um grupo de 15 manifestantes me acompanhou o tempo todo.” Durante toda manhã e tarde, o entra e sai no prédio foi intenso. A maior parte dos estudantes não deu declarações à imprensa, que chegou a ser hostilizada por alguns manifestantes. Dois alunos do curso de física também foram hostilizados ao darem declarações a jornalistas manifestando seu apoio à ocupação, e desistiram de entrar. Apoio sindical O Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU) esteve no prédio da reitoria durante a manhã e declarou apoio aos estudantes. A entidade também é contrária à presença da PM no campus e apoia a ocupação. Segundo o diretor Antônio Alves Neto, a polícia “não é a solução para melhorar a segurança”. “Não nos faltam exemplos de truculência e autoritarismo por parte da Polícia Militar em todo o País: a repressão da greve dos professores no Rio de Janeiro, as mobilizações de junho, a morte do trabalhador terceirizado da Unifesp e a tortura e morte do morador da Rocinha Amarildo. Essa polícia que reprime os movimentos sociais e a juventude negra nas favelas fará o mesmo na universidade”, diz nota enviada pelos invasores. Além de serem contrários à presença da PM no campus, os estudantes querem que a universidade coloque fim à investigação interna sobre os organizadores de festas — Denis Casagrande morreu esfaqueado durante uma festa clandestina. O outro lado Antes de começar a negociar com os invasores, a Unicamp criticou o movimento. Informou por meio de nota, que a ocupação foi feita sem prévia apresentação de uma pauta de demandas por parte dos estudantes. “A invasão é injustificável sob qualquer ponto de vista. Os invasores não representam a comunidade estudantil, que é pacífica e dialoga permanentemente com a administração, administração esta que frequentemente vem recebendo e conversando com as entidades e grupos representativos na instituição.” Sobre a presença da Polícia Militar na universidade, a administração informou que discutirá um plano de segurança para todos os campi da Unicamp. “A reitoria constituiu um grupo de trabalho para elaborar, com máxima urgência, um pré-plano de segurança a ser apresentado e discutido com toda a comunidade. Após essa discussão, o plano será submetido à aprovação do Conselho Universitário, órgão máximo de deliberação na universidade”, diz a nota. A Unicamp sustenta que a presença da PM nos campi da universidade diz respeito a um problema de segurança pública e não a uma tentativa de intimidação ou cerceamento das atividades relacionadas ao contexto acadêmico. Facebook Os universitários que invadiram a reitoria da Unicamp criaram um perfil da ocupação no Facebook, para divulgar informações sobre o protesto e pedir ajuda da comunidade acadêmica. Em poucas horas, cerca de mil pessoas seguiam a página, que foi atualizada durante todo o dia com vídeos, fotos e notas. Durante a manhã, os invasores pediram o envio de colchões, roupas e comida. Rapidamente começaram a aparecer alunos carregando sacolas com frutas, comida, água e barracas. No final da tarde, quando o oficial de Justiça foi ao local entregar a decisão determinando a reintegração de posse, os universitários fizeram um apelo pela rede social, pedindo reforço. “A reintegração de posse já foi anunciada e a Polícia Militar (provavelmente)já está vindo para a ocupação. Pedimos reforços!”, diz o comunicado. Reivindicações 1 – Pela não efetivação do Convênio Unicamp – PM 2– Retirada imediata das sindicâncias aos organizadores de festas nos campi 3 – Nenhuma punição aos estudantes que participam do movimento de ocupação 4 – Pela construção de uma proposta alternativa de segurança e vivência nos campi, que não envolva a presença da PM nem a proibição das festas. 5 – Que essa proposta seja discutida em uma audiência pública democrática, que envolva com real poder de decisão as três categorias da comunidade acadêmica, diferentemente do funcionamento do Conselho Universitário. Negociação Unicamp aceitou não aplicar punições a invasores e a abrir um ciclo de debates para definir atuação da PM no campus. 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