POR UMA CAUSA

União por uma vida independente

Formado por deficientes, CVI trabalha para gerar oportunidades de renda e cobrar ações públicas

E-Braille
faleconosco@rac.com.br
17/10/2013 às 19:12.
Atualizado em 26/04/2022 às 04:38

Já se foi o tempo em que os deficientes físicos esperavam pensão do governo para ter um dinheiro no bolso e sobreviver. Hoje, cidadãos que possuem qualquer limitação física criam as próprias alternativas de renda. Dão aulas, fazem palestras, ocupam cargos importantes dentro de empresas. Também são consultores do poder público, que investe cada vez mais em infraestrutura de acessibilidade. Os deficientes se apoderam da própria vida. E uma organização não-governamental instalada em Campinas no ano de 1997 tem participação fundamental nesta nova cultura. O Centro de Vida Independente (CVI) é formado por deficientes, e voltado a deficientes.   É a entidade que dá voz a centenas de campineiros que exigem ser repeitados, mas que também arregaçam as mangas para fazer da cidade um espaço acessível a todos. O centro nasceu nos EUA no comecinho dos anos 70 e se espalhou pelo mundo. Por aqui, a ideia começou a ser difundida pelo economista Vinícius Garcia, pela jornalista Kátia Fonseca e pelo paratleta Fábio Alves. Ao longo dos últimos 15 anos, o CVI fez campanhas incansáveis, sugerindo intervenções urbanas e serviços que possibilitassem, a qualquer deficiente, o direito básico da integração social. Hoje, o grupo é presidido por Ida Célia Palermo, aposentada de 53 anos, que ainda criança teve a locomoção prejudicada pelas sequelas da poliomielite. Ela, que se locomove dentro de casa com a ajuda de uma pequena scooter motorizada, trabalhou como servidora pública, em secretarias de Cultura e Turismo. Depois da aposentadoria, mergulhou na organização dos eventos do CVI, até assumir o cargo atual. Ida explica: o CVI não tem sequer uma sede. É um grupo de deficientes que interage por meio das redes sociais. São cinco diretores e dez conselheiros. Todos deficientes, e todos voluntários. A principal fonte fixa de arrecadação é uma escola que ministra libras, instalada em um imóvel cedido gratuitamente por um membro (leia texto nesta página).  Não conta com um centavo de dinheiro público para se manter. E tem de ser assim mesmo. De acordo com Ida, a ONG está representada em conselhos públicos, participa de reuniões, debate e acompanha a execução de políticas para o setor. Mas o grupo importa mesmo pelo que faz fora dos gabinetes: o suporte entre pares (orientação prestada por deficiente a outro) e a prestação de serviços (consultoria, palestras, tradução e interpretação de libras). “Hoje andamos pela cidade e notamos equipamentos especiais, ruas e prédios adaptados. É reflexo da nova postura dos deficientes, que trabalham fora, possuem vida social. A cidade se adapta para receber quem antes ficava escondido dentro de casa.” Psicóloga da ONG dá curso de libras em  salão próprio  A psicóloga Cíntia Firmino perdeu parte da audição já adulta. Há cinco anos, ela coordena o curso de Língua Brasileira de Sinais (Libras) do CVI. Como a ONG não tem sede, a professora ofereceu um salãozinho próprio, na Rua Júlio Ribeiro, no Bonfim, para a formação das turmas. Ela conta que, antes, os alunos eram basicamente estudantes de pedagogia e terapia ocupacional. Com o tempo, se matricularam policiais, merendeiras, psicólogos, comerciantes. E, claro, surdos ávidos por conhecer profundamente a língua. O curso, com duração de dois anos, é certificado pelo Ministério da Educação (MEC). Os alunos pagam mensalidade de R$ 70,00. Só neste semestre, se inscreveram 83 pessoas. Há quem sai dali para trabalhar em igrejas, congressos, faculdades, hotéis. “Ensinar libras dá orgulho. A gente colabora para a melhoria da qualidade de vida do surdo, com sua qualificação profissional”, fala. Para a psicóloga, o deficiente auditivo agora é visto como um consumidor. Vendedores são treinados para atender a um grupo que o mercado não pode desprezar. Otimista, a professora acha que Campinas tem tudo para ser referência no setor.  Afinal, os professores do CVI já formaram, no Bonfim ou em cursos ministrados em empresas, nada menos que 600 pessoas. “Plantamos a semente. E os frutos certamente surgirão”, diz.  Cadeirante vive ‘rali’ atéemrampa acessível nas ruas de Campinas Paulo Eduardo Santos, de 36 anos, mora na Vila Georgina. Há dez anos, um acidente de moto o fez perder para sempre o movimento das pernas. O rapaz, hoje em dia, se vira muito bem. Toma o ônibus sozinho, tem uma habilidade notável para manobrar a cadeira de rodas. Mas, para ele, Campinas ainda engatinha na promoção da acessibilidade. Perto de casa, ali pela Rua Abolição, ele mostra indignado a rampa de cadeirantes, no acesso a um hipermercado. Uma parte da rampa nem tem pavimentação. Passar por ali é fazer rali. O aclive é tão acentuado que um deficiente precisa pedir ajuda para vencer o trecho. Sozinho, é impossível. Santos mostra, na beira do asfalto, a guia rebaixada que devia terminar no asfalto, mas termina na valeta. “Falo seguramente que 80% das guias rebaixadas em Campinas são incorretas. Na verdade, são degraus que o cadeirante tem de vencer.” Conselheiro do CVI, o rapaz é aposentado por invalidez. Estudante de análise de sistemas, faz trabalhos eventuais como webdesigner e técnico de informática para ganhar a vida. Como todo cidadão campineiro fisicamente limitado, ele se animou ao saber que o novo governo, do prefeito Jonas Donizette (PSB) criava a Secretária Municipal do Direito das Pessoas com Deficiência e Mobilidade Reduzida. Mas Paulo Eduardo ainda é cético. “O poder público precisa ouvir mais os deficientes para fazer de Campinas uma cidade efetivamente acessível”, afirma. A CAMPINAS DOS DEFICIENTES Equipamentos que começaram a ser disponibilizados em 2006, com o Programa de  Acessibilidade Inclusiva  - 25 vans e dois ônibus adaptados buscam o usuário na porta da sua casa e o levam, gratuitamente. O usuário precisa estar cadastrado na Emdec.  - 562 veículos do sistema de transporte público em Campinas são acessíveis.  - 21 táxis são acessíveis.  - Há 65 vagas exclusivas de estacionamento para deficientes físicos.  - Há 65 pontos de ônibus acessíveis, com piso tátil e calçadas mais altas para acesso aos ônibus.  - São 2.352 rampas de acessibilidade por toda a cidade.  - 1.722 deficientes se beneficiam da estrutura disponibilizada pelo PAI-Serviço  - Há três semáforos para  deficientes visuais  -  As estações de transferência e terminais contam com piso tátil, escadas rolantes, elevadores, sanitários exclusivos, sinalização em braille, telefones especiais, vagas exclusivas de estacionamento e orientação de funcionários

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