Cessou a onda de protestos, começou a enxurrada de motins. A alteração é mais grave do que as vacilações políticas em torno do plebiscito.O bloqueio de estradas por caminhoneiros, o assassinato de um autônomo que tentou furar o lockout, a arruaça que destruiu uma praça de pedágio em Cosmópolis, vizinhanças de Campinas, o cerco à casa do governador Sérgio Cabral Filho no Leblon, Rio, exigindo que se mude do bairro, são desordens preocupantes, algumas já condenadas pela presidente Dilma.O governo está agindo com prudência, sabe que a repressão pura e simples pode acionar um ciclo de reações incontroláveis. Mas governo precisa governar e a presidente Dilma precisa ser fortalecida, é a chefe do estado brasileiro. Este não é o momento para agravar fragilidades e inexperiências. Estamos longe da zona de perigo, mas o fervor político não é a terapia mais aconselhável para situações de estresse.Se os aliados do governo recusam a ideia de um plebiscito em 2013 cabe à oposição e aos independentes manter a bandeira da reforma eleitoral e dos costumes políticos que a presidente teve a sensibilidade e a ousadia de desfraldar para o desconforto do seu próprio partido, o PT.A ideia de uma Constituinte foi desastrosa e nas entrelinhas do parecer do TSE, sugere-se sutil e respeitosamente não avançar em direção da consulta popular ainda neste ano. Os meios sugeridos pela presidente Dilma não eram apropriados, mas o objeto e o alvo desta reforma permanecem prioritários. Perder tempo e concentrar-se na discussão sobre os meios e menosprezar os fins é, no mínimo, improdutivo. Traição às exigências das ruas.O Estado precisa sair fortalecido para, em primeiro lugar, deter a bola de neve dos motins e badernas, em seguida persuadir o Congresso a fazer as revisões no processo eleitoral e barrar as aberrações que tanto o desmoralizam e comprometem o próprio estado nacional.Entre uma viagem e outra nos jatinhos da FAB, o presidente da Câmara, Henrique Alves, teve a feliz ideia de prometer a criação de um grupo de trabalho com o prazo de 90 dias para preparar o que ele chamou de “Plano B” reunindo as mudanças mais urgentes. Este plano alternativo pode rapidamente transformar-se em preferencial desde que implementado e ativado.Desordens tendem a generalizar-se e caso não seja atalhada com firmeza a pré-violência transforma-se em violência aberta. Um garoto boliviano foi morto com um tiro na cabeça por assaltantes em S. Paulo, um juiz de futebol no Maranhão foi morto a pedradas e esquartejado. O brasileiro pacífico, tolerante e até triste, que em passado recente chamava a atenção de viajantes estrangeiros e pensadores patrícios, está sendo substituído por outro — feroz, intolerante. Imprevisível.Pavio curto e dedo no gatilho: em situações de emergência — e estamos nos aproximando de algo assemelhado — não é descabido o apelo à razão e à união nacional. Não confundir com coalizão nacional. O País daria um passo à frente em matéria de amadurecimento democrático e serviria como exemplo diante de uma humanidade descrente, desnorteada e fragmentada.