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A meteórica passagem da blogueira cubana Yoani Sánchez pelo Brasil nesta semana teve o dom de levantar importante e produtivo debate sobre liberdade, regimes políticos e intolerância. Festejada em todos os países como uma porta-voz da oposição ao regime ditatorial cubano, a jovem jornalista deixa um rastro de percepção do quanto ainda as ideologias podem levar a gestos de intransigência intelectual.
Mais do que a crítica aberta ao seu país, Sánchez trouxe para o mundo civilizado o sopro da liberdade de expressão, da capacidade de insurgir-se contra a opressão. Não se trata simplesmente de ser contrária ou de sonhar com outra forma de organização política, mas de defender inabalavelmente o direito de expressar essa sua aspiração, seus conceitos e sua moral.
Seus detratores agem por um impulso natural de defesa: afinal, não há muitos argumentos que resistem à pecha de uma ditadura opressora. Nem mesmo podem alegar resultados positivos da política cubana, que certamente pode ter acertado em alguns setores, ou de relevar aspectos que demonstram a qualidade de vida na Ilha de Fidel. As comparações são fúteis, as estatísticas, inúteis, e as defesas, inconsistentes. A cada nação deve ser dado o direito de decidir seu futuro e sua história. Mas com a livre e espontânea manifestação de seu povo. Aí entra a falta de liberdade.
Os protestos contra a jovem foram cinicamente articulados. As mensagens nas redes sociais, de uma inocência infantil. O alinhamento de uma parcela da sociedade identificada com alguns ideais maniqueisticamente denominados de esquerda, constrangedor. Em todo momento, tentou-se desqualificar uma voz que soa alto além das fronteiras muralhadas de Cuba, talvez pela avaliação dos estragos que a simples passagem de Yaoni Sánchez por diversas nações poderia trazer ao já desgastado modelo que sobrevive de lendas e estórias distorcidas.
Talvez a importância que se dá a uma blogueira possa ser exagerada. Ela está, afinal, apenas exercendo o que, para outras nações, é um direito inalienável de qualquer jovem interessado em se manifestar. No contexto de sua vida, a linguagem ferina pode ter o timbre da liberdade que fere os ouvidos daqueles que preferem ajustar o som para ouvir apenas o que lhes convém ou que esteja contido em cartilhas aprovadas.