Passados 12 meses do início da maior tragédia sanitária enfrentada pelo mundo nos últimos 100 anos, a falta de uma unidade nacional no combate à pandemia deixa um rastro de desânimo e desolação. Nem mesmo os recordes diários de mortes são capazes de sensibilizar as autoridades sanitárias federais, quanto à necessidade de se adotar as medidas preconizadas pela ciência para se combater o coronavírus.
Nossa edição de hoje publica dados preocupantes sobre a vacinação em Campinas. Segundo cálculo do matemático Régis Varão, da Unicamp, no ritmo atual, a cidade levaria seis anos para imunizar toda a população. Conseqüentemente, para se atingir a imunidade de rebanho em um ano, a velocidade da imunização deveria estar seis vezes mais rápida.
No Brasil, nem mesmo os grupos prioritários (77 milhões de pessoas), estarão imunizados antes de setembro. Qualquer previsão mais otimista depende de que sejam vacinados pelo menos um milhão de indivíduos por dia, continuamente, alertam cientistas.
O problema se originou em 2020, quando o governo federal optou por não fazer a lição de casa e desprezar as ofertas de vacinas na época. Ao não garantir a compra das doses no ano passado, ao contrário do que fizeram Estados Unidos e Europa - o Brasil agora enfrenta problemas. Não encontra imunizantes prontos para compra, nem os insumos para produção nacional de vacinas.
Com poucas doses e com o presidente Jair Bolsonaro contrariando e boicotando o tempo todo os esforços de governadores e prefeitos para tentar combater a disseminação do vírus, o Brasil segue contando os seus mortos diariamente.
Uma projeção da Universidade de Washington (EUA) estima que o Brasil, até 1º de julho, pode alcançar a marca de 562,8 mil mortes em decorrência da covid-19. O assustador é que este cenário é considerado o mais otimista. As quase 600 mil vidas serão perdidas desde que as vacinas sejam distribuídas sem atrasos, governos determinem novas medidas restritivas com duração de seis semanas toda vez que o número de mortes diárias ultrapassar oito por milhão de habitantes e vacinados deixem de usar máscaras somente três meses após a segunda dose, entre outras variáveis.
A pergunta que não se cala é: qual é a quantidade de mortos pela covid que o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal são capazes de suportar até que algo tenha que ser feito para barrar essa espiral mortal?