Feiras noturnas caem no gosto da população com a proposta de aliar a praticidade com o lazer familiar ou entre amigos no mesmo local
Difícil quem não se encante com o cheiro e o colorido das frutas, legumes e verduras, ou que não se lembre do aroma de um pastel (ah, o pastel!) frito na hora, ou ainda, do tão peculiar cheiro do peixe fresco de uma feira livre. Todos esses ingredientes são típicos das feiras livres tradicionais. Mas se juntarmos outros elementos, como comidinhas gourmet, chope e música ao livre praticamente vira uma festa. Pois são essas as novas características das feiras noturnas espalhadas em 30 bairros de Campinas, um projeto implantado pela Prefeitura em 2018 que agradou em cheio à clientela que, uma vez por semana, percorre as barracas, escolhe e compra sem pressa alimentos in natura para a casa e ainda aproveita para fazer uma boquinha em família ou entre amigos e vizinhos do bairro ao som de música ao vivo. Muita gente dizia que as feiras livres estavam com os dias contados devido à chegada dos hortifrutis à cidade. Porém, a implantação do horário noturno resultou em uma nova roupagem para o serviço e estimulou uma mudança de hábitos da população. Pelo menos é o que tem ocorrido com as 30 feiras noturnas que, em breve, serão 34, que voltaram a fazer parte novamente do cotidiano de muitas pessoas. As feiras noturnas começaram a funcionar em Campinas a partir de 2018, das 17h às 22h. A Metrópole percorreu alguns desses locais que têm conquistado um público fiel, porém diferente de quem frequenta as tradicionais feiras diurnas, sempre na correria. Por lá, dá sim para comprar alface, banana, brócolis, mas dá também para relaxar e tem levado muitas pessoas a voltar a caminhar pelos seus bairros com a família, e promovendo encontros reais com os vizinhos e amigos que põem a conversa em dia enquanto degustam opções gastronômicas embaladas por música ao vivo de boa qualidade. Sim, todas as feiras noturnas contam com um cantor com estilos que variam entre MPB, sertanejo, samba, além de espaço kids gratuito para a diversão dos, banheiros químicos e segurança. As feiras noturnas têm outro aspecto de peso a ser considerado. Elas geram 800 empregos diretos, segundo destacou o presidente da SETEC, Arnaldo Salvetti. “As pessoas vão com mais tempo na feira noturna, conseguem conversar, se divertir, tem tempo para o lazer. Estamos expandindo cada vez mais e temos pedidos para que as feiras noturnas ocorram também dentro dos condomínios, estamos avaliando a viabilidade”, diz Salvetti. E a lista de feiras noturnas não para por aí, pois nas próximas duas semanas novos bairros vão ganhar o serviço. Os locais são na Praça Carlos Gomes, em Sousas, no Jardim Flamboyant e no Boa Vista. E quem acha que vai encontrar só o tradicional pastel, que já é bom, pode se animar, pois dentre as opções gastronômicas estão cachorro-quente, hambúrguer, esfihas, milho-verde, pamonha, caldo de cana, comida italiana e japonesa, chope, algodão-doce, espetinho de frutas com chocolate, brigadeiro gourmet, geladinho, maça do amor, sucos variados de frutas, pães caseiros, donuts, bala de coco, acarajé, empadas, entre muitos outros. Encontro marcado Os irmãos Vitor e Nicolas esperam ansiosamente a chegada da terça-feira, depois da escola, para os pais Tiago de Godoy e Fabíula Valenziano os levarem na feira noturna que acontece no Jardim Proença, em frente à igreja Nossa Senhora Aparecida. “É muito bom termos essa opção de lazer no bairro durante a semana e no período da noite. Geralmente não teríamos tempo para irmos todos juntos numa feira diurna durante a semana. Viemos a pé, conversando, brincando com as crianças. É um tempo que a gente passa junto, se diverte, escuta música de boa qualidade e ainda conta com um cardápio bem variado”, conta Fabíula. Os filhos complementam: “A gente não deixa nossos pais esquecerem o dia da feira”, diz Vitor. Já Nicolas conta que o cachorro-quente é sua opção favorita. O casal de empresários Dalila Mosciati e Eduardo Cintra também é assíduo na feira noturna do Jardim São Bernardo. “Geralmente deixamos para jantar aqui. Adoramos o ambiente, música boa e a oportunidade de comprar frutas e verduras frescas. Também curtimos andar pelo bairro e encontrar amigos conhecidos. A feira noturna trouxe mais vida e alegria para o bairro, é um evento!”, destaca Dalila. A empresária Vanessa Stefanini Andrade levou os filhos Vinicius e Theo pela segunda vez na feira noturna na semana passada no Jardim das Oliveiras. “Achei a ideia incrível e os produtos são de ótima qualidade. As crianças adoram saborear o pastel e experimentar as opções de doces. Além disso, já aproveito para comprar frutas e verduras que estão em falta. A feira conseguiu juntar várias opções num mesmo espaço”, diz. Doce oportunidade A crise que tirou o emprego de Luis Henrique Medeiros se transformou em uma oportunidade muito mais doce na vida dele e da esposa Helena de Freitas Lopes. Hoje o fusca vermelho, todo charmoso, é usado como vitrine para vender os brigadeiros gourmet preparados por Luis e os geladinhos e bolos de pote que Helena faz. “Resolvemos transformar o desafio que estávamos vivendo do desemprego em uma bela oportunidade de vida. Estamos muitos felizes vendendo nossos produtos no fusca que um dia foi da minha mãe e que minha sogra nos presenteou. As feiras noturnas se tornaram uma excelente oportunidade de sustento familiar. Mas, mais que isso, fazemos amigos, compartilhamos histórias e experiências. Todos os dias participamos de uma feira noturna diferente e levamos a experiência das pessoas experimentarem nossos doces”, diz Helena. Inversão do horário de trabalho O feirante Erick Elias Rodrigues de Camargo sempre trabalhou com a feira diurna. Ele vende verduras e legumes e tem gostado muito da experiência de trabalhar no período da noite. “O pessoal é bem animado e geralmente não encontrávamos essas pessoas de manhã, pois elas estão trabalhando, na correria. Vender verduras fresquinhas à noite tem deixado a gente bem animada, pois percebemos que quem conhece volta sempre”, diz. Já a banca de Jéferson Ayala só trabalha com feira noturna, ele vende uma variedade de frutas. “Temos que acompanhar a mudança de hábito das pessoas. Quando chegam do trabalho conseguem ter mais tempo para escolher os produtos que querem consumir” destaca. O coordenador da feira do Jardim das Oliveiras e proprietário da banca de pastel Mauricio Lee diz que a experiência tem transformado o olhar dos feirantes e também dos frequentadores. “Percebo que as feiras noturnas promovem encontros, fortalece vínculos e reforça as amizades”, diz Locais e dias das feiras noturnas Terça-feira Campo Grande, Jardim Carlos Lourenço, Jardim Proença, Jardim das Oliveira, Parque Bandeira II, São Bernardo e Vida nova Quarta-feira Jardim Londres, Jardim Mirassol, Jardim São Gabriel, Ouro Verde, Vila 31 de Março, Vila União e Guanabara Quinta-feira Costa e Silva, Jardim Myrian, Jardim Nova Mercedes, Parque Dom Pedro Segundo II, Parque Santa Bárbara e Tancredão Sexta-feira Barão Geraldo, Jardim Eulina, Jardim Magnólia, Jardim Planalto de Viracopos, Nova Europa, Padre Anchieta, São Quirino e Parque Prado