TRANSTORNO

Uma nova perspectiva para os autistas

Adacamp oferece apoio multidisciplinar, mas, especialmente, o estímulo à interação social

E-Braille
17/10/2013 às 19:12.
Atualizado em 26/04/2022 às 04:38

No começo, a Adacamp se limitava a ser um espaço de acolhimento que garantia atenção especial a autistas. Aquelas crianças tinham traços de anormalidade na expressão facial, na postura corporal, na gestualidade. Muitas vezes, na escola ou no trabalho, os jovens pareciam agressivos, e as pessoas ao redor se afastavam, com medo. Hoje, tudo é diferente. O tratamento eficaz passa exatamente pelo estímulo à interação social. O autista nada em piscinas externas, passeia em parques públicos, faz compras no varejão. Gente de fora é convidada para visitar, conhecer e participar das atividades internas. E o resultado da assistência aprimorada salta aos olhos. Adolescentes tratados na entidade são capacitados para ingressar no mercado de trabalho. Uma dezena deles já é empregada em lojas, lanchonetes, farmácias e supermercados. E a turma ganha elogios de quem emprega. Mas, apesar da modernização do atendimento, a Associação para o Desenvolvimento dos Autistas em Campinas (Adacamp) preserva a proposta social do ano da fundação. Desde 1989, a entidade filantrópica presta assistência gratuita a todos os diagnosticados. E é mantida com a ajuda estratégica da sociedade civil. Campineiros doam equipamentos e serviços. Diretores trabalham voluntariamente e usam a criatividade para cobrir despesas anuais que passam dos R$ 2 milhões. Um exemplo básico do envolvimento da coletividade é o evento Chefs pela Solidariedade: cozinheiros renomados se oferecem para organizar jantares refinados, periodicamente. Não cobram nada e ainda levam para o salão equipamentos e funcionários de apoio. Os alimentos são doados pela Ceasa-Campinas. Há empresas que fornecem cadeiras, mesas e toalhas. E todo o dinheiro arrecadado com a venda de convites reforça o caixa da Adacamp. A ideia partiu do chef Luciano Antonello, que já trabalhava voluntariamente como diretor de eventos na associação. Houve um jantar top no dia 4 de dezembro e outro está marcado para o dia 10 de abril. Com eventos do gênero, a Adacamp consegue arrecadar, anualmente, cerca de R$ 300 mil, valor que equivale, por exemplo, a três meses de salários pagos à equipe técnica (psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, professor de educação física, médico, enfermeiro) e pessoal de apoio. Há outros exemplos. Quem passeia pelas dependências fica impressionado com a sala de integração sensorial. Cavaletes, balanços e escadas especiais são essenciais para exercícios em que autistas superam a insegurança, desenvolvem o equilíbrio e a coordenação motora. Todos os equipamentos foram doados por um atleta consagrado do vôlei campineiro. No terreno vazio anexo à sede, onde começam as obras da nova quadra e espaço de eventos, uma faculdade da região assumiu, gratuitamente, os custos e os serviços de estaqueamento. Quem conhece o trabalho da entidade oferece apoio. Mas a direção admite: ainda há muito a ser feito. A coordenadora-geral, Roseli Cruz Guirao, afirma que a Adacamp conta, hoje, com um único computador para as atividades terapêuticas. Os autistas brincam enquanto aguardam a vez. Também precisam ser construídas seis novas salas, já que as 13 disponíveis estão lotadas. Hoje, um novo matriculado depende da desistência de um antigo para ter vaga. As obras de ampliação devem ser feitas ao longo do ano, no gramado central.  Mas os serviços também dependem de ações externas. A terapeuta ocupacional Lucila Crespi Poletto afirma que os empresários precisam ser informados sobre a capacidade produtiva de cada autista. O virtual empregador, fala, deixa de oferecer trabalho porque ignora que o autista pode desempenhar funções com competência. “Vamos mudar esse conceito. Queremos dar e ouvir sugestões, explicar lá fora a metodologia da capacitação”, diz. “Tenho cinco jovens tratados, treinados, à espera de um convite para trabalhar. A gente precisa mostrar que todo autista tem um talento, um potencial.”  E, enquanto faltam ofertas de emprego, há jovem assistido que trabalha por ali mesmo. Fábio Luís dos Santos, um rapaz de 20 anos, começou o tratamento na entidade há nove anos e trabalha com a equipe de limpeza e manutenção da entidade. Empenhado, tornou-se um símbolo da assistência renovada. A família agradecida e o autista sorridente são prêmios para a Adacamp.

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