Esses incautos colocam em risco a saúde das pessoas, elevando o risco de contágio e aumentando a pressão sobre o sistema de saúde
A Câmara de Campinas aprovou esta semana uma lei municipal que pune os promotores de festas clandestinas em Campinas, enquanto durar a pandemia da covid-19. Agora, o infrator terá de desembolsar cerca de R$ 18 mil de multa. Apesar dos inúmeros apelos das autoridades sanitárias municipais e estaduais para que as pessoas mantenham o distanciamento social, evitem aglomerações e sigam os protocolos de segurança, como o uso de álcool em gel e máscaras de proteção facial, uma parcela significativa da população ainda insiste em negar a existência do vírus e age como se não houvesse amanhã.
Assim, esses incautos colocam em risco a saúde de milhares de pessoas, elevando o risco de contágio pela doença, e aumentando a pressão sobre o sistema de saúde. Diante de tamanha inconsequência, foi preciso criar uma lei para punir tanto quem promove, quanto quem participa destas festas clandestinas. A iniciativa da vereadora Débora Palermo, autora da lei que elevou em seis vezes a multa para os (ir)responsáveis, é meritória e pertinente, dada a quantidade de ocorrências e do alto risco de proliferação do vírus em encontros deste tipo.
Como descrito no poema do reverendo inglês, John Donne, de 1624, e depois imortalizado na obra "Por quem os sinos dobram", do escritor norte-americano, Ernest Hemingway, de 1940: "Nenhum homem é uma ilha, todo em si; todo homem é uma parte do continente, uma parte da terra; se um torrão de terra é levado pelo mar, a Europa é diminuída, tanto se fosse um promontório, como também se fosse uma casa de teus amigos ou a tua própria; a morte de todo homem me diminui, porque sou parte na humanidade; e então nunca pergunte por quem os sinos dobram; eles dobram por ti."
Nos tempos antigos, era costume tocar os sinos da igreja para anunciar a morte de alguém. E ao ouvirem as badaladas, as pessoas perguntavam: Por quem os sinos dobram? Em outras palavras, quem morreu? Mas, para o reverendo britânico em seu poema, não importa quem tenha morrido; todo ser humano que morre leva consigo um pouquinho da humanidade, ou seja, um pouquinho de cada ser humano. Todo homem ou mulher que se vai, leva um pouco de nós com eles. Não pergunte quem morreu. Quem morreu foi você.
Por isso, quem organiza, explora e promove uma festa clandestina em meio a uma pandemia que já ceifou mais de 370 mil vidas no Brasil, não tem ouvidos para ouvir os sinos dobrarem pela morte de ninguém, talvez nem pela sua própria morte.