ESTUDANTIL

Uma câmera na mão e a cidadania no foco

Estudantes de escolas municipais produzem documentários, reportagens, filmes de ficção e animações com temas sociais

E-Braille
faleconosco@rac.com.br
17/10/2013 às 19:12.
Atualizado em 26/04/2022 às 04:38

O projeto desenvolvido com a garotada tinha uma finalidade pedagógica clara: a produção de vídeos como ferramenta cultural na rede pública de ensino. Eram captadas lá fora as imagens e sons que seriam usados em sala de aula, em várias matérias. Mas, agora, o programa foi muito além disso. Estudantes de escolas municipais se tornam difusores de ações cidadãs. A galera saiu às ruas em pequenos grupos, carregando celulares, câmeras fotográficas e filmadoras. Enfim, o equipamento que conseguissem, próprio ou emprestado, adequado ou improvisado. E a turma trouxe de volta documentários, breves reportagens, clipes, filmes de ficção e de animação. Cada produção não passou de cinco minutos. Mas era tempo suficiente para dar o recado e emocionar. Foram 13 trabalhos selecionados e os vídeos fizeram fazendo parte, ainda no final de novembro, da Mostra Estudantil de Cinema de Campinas, no Museu da Imagem e do Som (MIS). O projeto entusiasmou tanto os idealizadores que eles vão disponibilizar o material todo, que agora poderá ser assistido por qualquer interessado ali mesmo, no Palácio dos Azulejos, onde o acervo será mantido. A educadora Renata Lanza, integrante da equipe coordenadora da mostra, explica que a proposta básica do projeto era incentivar o trabalho coletivo: o aluno podia recorrer a diferentes mídias para ser criativo dentro da escola. E a seleção dos vídeos levou em consideração originalidade, ângulos, enquadramentos, qualidade do áudio, trilha sonora, construção do roteiro e linha narrativa. O resultado foi surpreendente.  Muitos daqueles alunos, aliás, nunca tiveram a chance de conhecer o MIS, não tinham a menor noção da importância histórica do Palácio dos Azulejos. Mas eles acabaram apresentados a um universo diferente, interessante, emocionante. Primeiro, os pequenos se juntaram no auditório, e acompanharam a abertura da mostra, feita pelo professor e responsável pela Assessoria de Currículo e Pesquisa Educacional, Heliton Leite de Godoy. Em seguida, a turma participou de oficina de audiovisual ministrada por estudantes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A educadora Renata, que leciona na rede municipal de ensino, conta que a ideia de difundir ações cidadãs nasceu ainda em 2011, quando os organizadores escolheram o tema após ouvir sugestões dos técnicos das áreas de cidadania e assistência social. Além dos equipamentos individuais, modestos, algumas escolas puderam disponibilizar filmadoras e máquinas fotográficas mais potentes. Para a produção dos vídeos, durante o último ano letivo, os professores participaram de cursos para que eles pudessem orientar a garotada durante as filmagens. E a experiência deve ser mantida, neste e nos próximos anos letivos.  Vídeo expõe obstáculos para os deficientes  Durante um mês, a rotina da escola mudou. A garotada andou pelos bairros próximos do Terminal Ouro Verde e registrou imagens e depoimentos de moradores, denunciando que a região é desprovida de equipamentos públicos adaptados para deficientes. Se queixou muito, por exemplo, da falta de guias rebaixadas e de sinalização adequada. O vídeo foi feito por alunos do 6º ano da Emef Carmelina de Castro Rinco, do Jardim Cristina. A experiência entusiasmou a vice-diretora Silmara Paiva de Campos. “Conseguimos envolver as pessoas. Todo mundo em volta se sensibiliza com os depoimentos de cadeirantes. O povo viu que precisava assumir novas atitudes no trato com os semelhantes”, disse. Para a educadora, a vantagem pedagógica dos vídeos é a postura ética que a garotada vai levar por toda a vida: “A aula prática ensina, desde cedo, que as pessoas devem ser responsáveis, solidárias, envolvidas com a vida comunitária”.   Experiência que vale para toda a vida  A proposta dos vídeos com ações cidadãs é uma forma dos estudantes construírem, pela própria experiência, valores altruístas, como a compaixão e a misericórdia. A opinião é de Luciene Regina Tognetta, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Na avaliação da educadora, essas virtudes são construídas a partir da sensibilidade com a dor do outro. Simbolicamente, pelo áudio e pelo vídeo, o estudante experimenta o que o outro sente. Do ponto de vista educacional, avalia, ir ao encontro da realidade é a melhor maneira de estabelecer vínculo entre os conteúdos acadêmicos e sua inserção na vida. “Não se ensina cidadania senão vivendo, senão aprendendo com as fragilidades e as conquistas do outro”, afirma a professora. Luciene também ressalta que hoje em dia, quando a moral está em crise, é salutar que os professores incentivem o contato dos estudantes com gente que trabalha pela felicidade alheia, faz o bem, elege a justiça como um valor pessoal. “Sob todos os pontos de vista, é um trabalho muito bonito”, afirma. 

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