O retrato feminino nem sempre mereceu cores suaves e delicadas, ao contrário. Foi pintado muitas vezes com traços tortuosos no arcabouço da história. Nunca é demais lembrar o papel secundário a que as mulheres foram relegadas em séculos passados, época em que o pensamento arcaico encontrava eco no conjunto da sociedade e nas instâncias de poder, fruto da soberania e até tirania do papel masculino e também de uma cultura incapaz de valorizar a mulher fora do ambiente doméstico.
Foram, naturalmente, períodos de opressão e angústia. A literatura e a história são testemunhas: elas não podiam se expressar, não podiam votar, não podiam assumir qualquer tipo de comportamento que ultrapassasse a barreira conservadora. Gerações talentosas, acusadas de revolucionárias e libertinas, tiveram que enfrentar a ira de vários setores para ter voz pública. Outras ficaram sufocadas no ostracismo e na penumbra.
Os tempos, hoje, são outros. Basta olhar a hierarquia das empresas e do poder público. Nem é preciso ir “tão longe”. Basta olhar a família para reconhecer o protagonismo da mulher, obrigada a múltiplas tarefas e jornadas, com toda a pressão e os desafios de uma sociedade contemporânea imediatista, para ficar em apenas um adjetivo.
Inegável ainda a capacidade de superação e adaptação que permeou essa verdadeira revolução feminina ao longo das últimas décadas no Brasil e no mundo globalizado. Impossível não se entristecer com os inúmeros episódios de tortura física, sexual, psicológica e econômica, sobretudo em comunidades miseráveis e ultraconservadoras.
Inaceitável, aliás, qualquer forma de violência. Para ficar em exemplo local, Campinas fechou 2012 com inacreditáveis 300 casos de estupros registrados pela polícia. Parte desses números refere-se a abusos contra menores, cometidos por pessoas próximas da família e com algum grau de parentesco com a vítima.
É nesse contexto que várias entidades da sociedade civil decidiram promover hoje uma série de ações para denunciar toda forma de violência contra a mulher e rechaçar qualquer manifestação de preconceito. Imperdoável que o protagonismo profissional e intelectual do universo feminino seja atingido pelo braço violento da intolerância. O Dia Internacional da Mulher é mais que uma data de calendário. É oportunidade para renovar apreço, reconhecimento e admiração.