Pela primeira vez depois de 22 anos, o futebol brasileiro não terá nenhum representante na semifinal da Libertadores da América. Nesse período, o País reinou no continente. O São Paulo foi tricampeão e o Internacional ergueu a taça duas vezes. O Santos voltou a ser o dono da América, o que não acontecia desde a era Pelé. Vasco, Corinthians, Palmeiras e Atlético Mineiro conseguiram entrar para a galeria de campeões. Grêmio e Cruzeiro, que foram campeões antes dessa fase de ouro do futebol tupiniquim, conseguiram repetir o feito.Fazendo as contas, são nada menos do que 12 títulos em 22 anos. Nas outras dez edições, pelo menos um de nossos times chegou à semifinal.Diante desse retrospecto espetacular, seria até injusto criticar a qualidade do futebol brasileiro pelo fracasso na edição de 2014. Pode ser que tenha sido apenas um ano ruim, uma exceção. Mas deve servir, pelo menos, de alerta para os grandes clubes do País.Nos últimos dez anos, a economia foi um fator determinante para esse domínio. Os clubes brasileiros conseguiram oferecer salários muito mais altos do que os rivais argentinos, por exemplo. Assim, foram capazes de segurar algumas estrelas, repatriar outras ou ainda contratar jogadores importantes dos países vizinhos.Com elencos de qualidade muito superior, as boas campanhas se sucederam. O problema é que, aparentemente, os cartolas se esbaldaram com o dinheiro farto e agora estão precisando pisar forte — bem forte — no freio.As contratações para a temporada de 2014 foram bem mais modestas do que a de anos anteriores e muitos clubes encontraram dificuldades para renovar contratos de peças importantes.O Botafogo, um dos seis brasileiros que disputaram a edição desse ano, convive há meses com salários atrasados.O Flamengo dificilmente conseguirá repetir o feito de 1981 enquanto for administrado por cartolas que gastam o dinheiro que não têm (como fez Patrícia Amorim) ou que demitem técnico por telefone, depois que a notícia já foi publicada no País inteiro (como fez Eduardo Bandeira de Mello).Dos seis times que disputaram a Libertadores esse ano, o Cruzeiro era, de longe, o melhor preparado. O elenco é forte, o ambiente é bom e o técnico Marcelo Oliveira desenvolve um ótimo trabalho. Mas o time não conseguiu passar pelo competitivo e esforçado San Lorenzo.Isso não é um sinal de que o futebol brasileiro acabou. Mas é um sinal de que precisa gerenciar seus recursos e talentos de forma mais competente. Do contrário, essa hegemonia pode sim chegar ao fim.