PASQUALE CIPRO NETO

Um pouco de tudo (10)

PASQUALE CIPRO NETO
cidades@rac.com.br
14/06/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 12:15

Esta é a última coluna da série “Um Pouco de Tudo”. Na semana que vem, voltamos ao “normal”. Na verdade, ao longo destes anos todos, não foi a primeira (nem a segunda ou terceira) série de textos em que trato de mais de assunto _sempre para atender a um número razoável de leitores. Daqui a alguns meses poderemos ter outra série.Pois bem. Vamos aos temas de hoje. Começamos por um leitor, que diz que leu uma notícia em que se usavam as formas “24h15m” e “24h45m” para a indicação do horário em que aconteceram determinados fatos. “Será que isso é possível?”, pergunta a leitora.Não é possível, não. Há dois problemas nesse caso. O primeiro problema diz respeito aos minutos depois de 24h. Como se sabe, um dia tem 24 horas, o que torna impossível a existência de qualquer minuto além de sua última hora, por isso não faz sentido dizer 24 horas e X minutos, sejam quantos forem. É necessário trocar 24 por zero, visto que se trata do início do dia.O segundo problema está no “m” para a indicação dos minutos. Para abreviar “minuto” e “minutos”, emprega-se “min”, e não “m”, que se refere a metro ou metros. Vamos, então, às formas adequadas: “0h15min”; “0h35min”.Vamos ao segundo tema de hoje. Uma leitora quer saber por que, quando se fala do pai e da mãe, diz-se “os pais” (no masculino), quando se fala do tio e da tia, diz-se “os tios”, mas, quando se fala do avô e da avó, diz-se “os avós”, ou seja, usa-se o plural da forma feminina (e com o artigo no masculino). A coisa não é bem assim. De início, convém dizer que a forma “os avós” é correta. Em “os avós”, ocorre um dos tantos casos de plural com alteração de timbre (abertura da vogal). O plural de “porco” não é “porcos” (que se lê “pórcos”)? O de “poço” não é “poços” (ó)? Pois o de “avô” é “avós”. A forma “avôs” (com circunflexo) se refere especificamente ao avô paterno e ao avô materno (“os meus avôs” = “o meu avô paterno e o meu avô materno”).Nosso terceiro tema de hoje diz respeito à frase “Eles hão de me pagar”. No lugar de “hão” deveria ser usada a forma “haverão”? Vamos lá: as duas formas são corretas e possíveis. “Hão” é a terceira pessoa do plural do presente do indicativo do verbo “haver”; “haverão” é da terceira do plural do futuro do presente do indicativo do mesmo verbo. Como se vê, o que muda é o tempo do verbo.O próximo tema é relativo aos numerais ordinais. É correta a forma “octagésimo”, dita por muitos jornalistas de rádio e televisão em diversas situações (“a octagésima vítima do acidente” etc.)? Não é correta, não. Ocorre aí um típico caso de contaminação. O ordinal relativo a quarenta é “quadragésimo”, o que se refere a cinquenta é “quinquagésimo” (pronuncia-se o primeiro “u”), o de sessenta é “sexagésimo”, o de setenta é “septuagésimo” (ou “setuagésimo”) e o de noventa é “nonagésimo”. Como se vê, todos os cardinais citados (quarenta, cinquenta, sessenta etc.) geram ordinais em que antes da terminação “-gésimo” aparece a letra “a”, fato que leva a maioria dos falantes a estender o sistema ao ordinal de oitenta e, consequentemente, dizer “octagésimo”. Isso explica, mas não legitima ou autoriza o uso dessa forma, que não encontra registro em nenhum dicionário, nem no “Vocabulário Ortográfico”, da Academia Brasileira de Letras. A forma registrada é “octogésimo”, com “o” antes da terminação “-gésimo”: “A ocorrência foi registrada na octogésima primeira Delegacia de Polícia” (ou “no octogésimo primeiro Distrito Policial”).Convém lembrar que quem tem oitenta anos é “octogenário” (e não “octagenário”): “O octogenário escritor ainda trabalha mais de dez horas por dia”. Agora, o contraponto: um poliedro de oito faces é um “octaedro”, com “a” mesmo.Para encerrar, uma questão sobre a conjugação do verbo “gerir”: como se conjuga a primeira pessoa do singular do presente do indicativo desse verbo? Lá vai: “eu giro”, o que também vale para “girar”. Convém lembrar que “gerir” significa “gerenciar”, “administrar”, “dirigir”. O gerente é simplesmente aquele que executa a ação de gerir.Até domingo. Um forte abraço.

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