MEMORÁVEL

Um homem e seus dois dons

Janete Trevisani
27/10/2013 às 05:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 07:19

Filho de italianos, Manlio Moretto nasceu em São Paulo, na Vila Mariana, em 1917. Mudou-se para Campinas em 1998, quando começou a pintar quadros de grandes dimensões. Imortalizou, com sua obra, 104 lugares de 15 estados brasileiros.  A inclinação para a arte manifestou-se cedo na vida de Moretto e de forma meio truculenta. Aos 11 anos, ao desenhar o mapa do Brasil, obteve nota zero na disciplina de geografia porque o professor não acreditava que tivesse sido ele o autor. Aos 17, enquanto folheava uma revista, encontrou um pequeno quadro em preto e branco, Bodas de Ouro, de Arturo Ricci. Seduzido pela beleza do trabalho, amplia e o transforma num desenho colorido.Anos mais tarde, cursando engenharia na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), aprende perspectiva na cadeira de desenho arquitetônico com Prestes Maia, que passa a ser seu único mestre. Ele também conheceu Edgard Oehlmeyer, considerado por muitos um dos maiores pintores brasileiros de todos os tempos. Oehlmeyer entrou na vida de Moretto de forma casual: namorava e se casou com uma amiga de sua futura concunhada.Moretto e Oehlmeyer passaram a viajar juntos nas férias, procurando recantos paisagísticos pelo Brasil. Visitaram Paraty, São Luiz do Paraitinga, Ouro Preto, Salvador, Itaparica e tantos outros lugares. Nessas incursões por localidades remotas, hospedavam-se nas pensões mais humildes que encontravam, pois comodidade e conforto atrapalhariam seus objetivos.  Eterno viajante Como engenheiro, Manlio Moretto especializou-se em hidrologia e viu-se obrigado a viajar constantemente pelo País. Nesse momento, delineia-se nele a genuína vocação de paisagista, transformando o trabalho de engenheiro em prazer, dando asas à sua imaginação de artista. Foi assim, cidade por cidade, que ele pintou o Brasil. Foram mais de cem municípios retratados, abrangendo mais de mil localidades.Depois da morte de Oehlmeyer, Moretto continuou percorrendo sozinho novos espaços, retratando um Brasil que foi desaparecendo. Muitos dos locais registrados não existem mais. Pelo menos não com a forma que tinham quando os registros foram feitos. Em suas obras, usou cores quentes, vez ou outra um tom só, e uma expressão romântica revestida de sensação única de paz.Moretto teve vida longa. Morreu em agosto passado, aos 96 anos, em Campinas, e seu corpo foi enterrado no Cemitério da Saudade. Deixou filhos e uma obra extensa. Foi feliz.

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