Líquido & Certo

Um grande conflito ético

11/11/2012 às 05:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 17:11

Quem circula pelas redes sociais esbarra com frequência em imagens de animais submetidos a crueldades extremas com o propósito de satisfazer a alguns caprichos humanos.

Antes, a pauta predominante de militantes e simpatizantes da causa animal era a extração de pele para suprir a demanda da indústria da moda. Hoje, a gastronomia é o alvo preferencial dos protestos, uma vez que são poucos os estilistas ainda com coragem de vestir suas modelos com pele e couro natural.

O caso mais famoso é o foie gras que para chegar às mesas requintadas submete o pobre coitado do ganso a uma superalimentação literalmente goela abaixo, com o objetivo de promover a dilatação do fígado, matéria-prima dessa iguaria.

Acontece que, ao lado de um vinho de Sauternes, o foie gras forma uma harmonização magnífica, para a agonia da ave e de seus defensores.

Outro dia, repercutiu na internet a foto de uma criação de vitelos para o abate. Curiosamente, não se via um bezerro na cena, pois eles estavam confinados numa casinha parecida com a de cachorro, onde eram impedidos de caminhar, receber a luz solar e ingerir alimentos com ferro, dizia a legenda.

As centenas de unidades geometricamente alinhadas no pasto resultaram num conjunto extremamente mórbido, mas insuficiente para tirar o apetite de um faminto apreciador da delicada carne vermelha, especialmente se na mesa houver um igualmente delicado Bordeaux.

Cena terrível também é a da extração de caviar, a ova do esturjão. É triste ver o altivo peixe, considerado um fóssil vivo, sendo friamente estripado para que o generoso tesouro de suas entranhas faça a felicidade de uns poucos gatos pingados que realmente sabem se deliciar com as bolinhas estourando no céu da boca.

Pois o nobre caviar é perfeita companhia para o elegante champanhe, o que o torna ainda mais desejado no mercado de luxo.

Até aqui estamos num universo muito específico, considerado esnobe, portanto, fácil de atacar. Afinal, esses ricaços têm mesmo que comer foie gras, vitelo, caviar? A resposta é não. Qualquer um pode perfeitamente prescindir desses itens em suas aventuras gastronômicas.

Ocorre que esses exemplos são só um recorte no vasto repertório de crueldades praticadas contra os animais em nome da mesa. Em qualquer restaurante de praia joga-se o caranguejo vivo na água quente, procedimento que visa preservar textura e frescor de sua carne. Que dó!

Em muitos abatedouros por aí, os animais ainda são sacrificados a marretadas, o que causa estresse antes e durante o procedimento. A técnica considerada mais humana e rápida é o tiro de ar comprimido na testa. E a morte do carneiro, então? É verdade que ele se ajoelha antes do fim? Pois é, confesso que sou bastante vulnerável à causa animal. E confesso que já me encantei com as harmonizações citadas aqui. Esse, sem dúvida, é um grande conflito ético. Saúde!

Mar de espumantes

E segue mais uma dica de espumantes que estão chegando para o brinde de fim de ano. A vinícola Contarini, do Norte da Itália, das regiões de Conegliano e Valdobbiadene, sugere o Contarini Millesimato Prosecco (R$ 75), Contarini Masegno Raboso (R$ 95), Contarini Manzoni Bianco (R$ 210) e Contarini Colli Di Conegliano Rosso (R$ 279). Informações, na Importadora Nordeke.

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