Um gigantesco passo para trás

Nos mais diversos aspectos, o futebol brasileiro costuma levar anos para dar um passo à frente. Na segunda-feira, deu um gigantesco passo para trás com a inacreditável sentença do juiz Gilberto Azevedo Morais Costa, da 17ª Vara do Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo.Gilberto Azevedo mandou soltar três torcedores que integravam o grupo que invadiu o centro de treinamento do Corinthians, roubou funcionários, depredou patrimônio do clube e ameaçou os jogadores.As instituições brasileiras têm o péssimo costume de ignorar atitudes agressivas e criminosas como essa. Mas, como os atos de violência das organizadas estão cada vez mais frequentes e intensos, alguns setores da sociedade, finalmente, começam a se movimentar para combater o problema.Nesse caso da invasão do CT, a polícia levou a investigação adiante, identificou alguns dos infratores, a justiça expediu mandados de prisão e os três foram detidos na Operação Hooligans, que movimentou 90 policiais. Um dos detidos ficou preso durante meses na Bolívia por envolvimento na morte do garoto de 14 anos em um jogo da Libertadores de 2013.A prisão dos três e de outros envolvidos poderia marcar o início de uma nova postura da sociedade brasileira diante de grupos que não apenas brigam e matam torcedores de outros times, como também praticam vários outros crimes.Mas então vem a Justiça, na figura de Gilberto Azevedo Morais Costa, e libera o trio com a seguinte argumentação: “Em suma, tudo não passou de um ato (nada abonador) de revolta dos torcedores. Fiéis que são — e disso a própria equipe se vangloria —, queriam apenas chamar a atenção: fazer com que os jogadores honrassem os salários que ganham; mostrando um futebol verdadeiramente brasileiro. Isto posto, com fundamento no artigo 395, III, do CPP, rejeito a denúncia. Expeçam-se alvarás de soltura clausulados e contramandado de prisão.”Não vou nem comentar a decisão porque os argumentos do juiz são absurdos e frágeis. Ele tem o poder para tomar tal decisão e sua ordem foi cumprida, como manda a lei.O que espero é que o Ministério Público recorra dessa decisão. O MP não pode aceitar que todos os esforços para proteger a sociedade de indivíduos que cometem crimes sejam liberados por uma decisão nada abonadora para a Justiça.O futebol brasileiro vai crescer muito e gerar milhares de empregos quando for capaz de dar diversão e segurança a quem gosta do esporte. Para isso, precisa se livrar de quem o utiliza como um meio de vida ilegal e violento.