O episódio da compra de lanche a ser servido aos vereadores de Campinas durante as sessões da Câmara Municipal levantou mais uma vez a voz contrária da opinião pública, provocando um desgaste à já abalada imagem dos políticos. Menos pelo valor a ser contratado e mais pelo exemplo de autoconcessão de benefícios, a prática revela em tons nada sutis o quanto os parlamentares campineiros se espelham no espírito corporativo e esbanjador que caracteriza os políticos brasileiros.
Ao estabelecer um cardápio primoroso com alimentos caros e diferenciados, servido com serviço de mordomia e garçons, demonstram os vereadores o quanto estão dissociados da realidade da população e, em muitos casos, da própria condição social que ocupavam até ocupar uma cadeira no Legislativo. É uma prática incomum até mesmo em grandes corporações privadas, onde o cafezinho é onipresente.
Diante da péssima repercussão da mordomia, o presidente da Casa optou por uma disposição intermediária. Sem dispensar a contratação, como foi proposto por alguns vereadores, Campos Filho adotou uma solução intermediária de reduzir o valor da licitação, optando por produtos mais frugais.
Não se trata de contestar um benefício que é corrente no meio político, mas contestar exatamente a falta de decoro no exercício da função pública. É fácil decidir pelo gasto quando se tem um orçamento além das necessidades funcionais do poder, mas é dinheiro público e deveria retornar aos cofres da Administração para ter destino mais decente e focado nas carências do município.
Fossem apenas o lanche de metro, petit-fours, patês e croissants, já seria um acinte ao bom-senso e à noção de economia que se impõem pela cada vez mais implacável fiscalização da sociedade. Mas esse é apenas um item de tantos benefícios que os políticos se concedem, como se pertencessem a privilegiadas castas nobiliárquicas com direitos acima dos cidadãos comuns.
Essa é uma chaga que prolifera no serviço público em geral, em todos os poderes constitucionais. Prevalece a noção de que cargos públicos e eletivos vêm sempre acompanhados de oportunidades e benefícios únicos e que a sociedade deve arcar com privilégios suspeitos, herança provável de uma cultura que remete aos tempos do Império. É preciso quebrar esse vício e impor tempos de austeridade, respeito e realidade aos que se dizem representantes de cidadãos.