Maioria das vítimas tem 13 anos de idade, de acordo com a Delegacia de Defesa da Mulher
Na última semana, a prisão de um casal acusado de submeter a própria filha de 15 anos a abuso sexual, no bairro Vida Nova 1, chocou Campinas. A adolescente era violentada há seis anos pelo pai, um pedreiro de 42 anos, e a mãe, conivente, medicava a jovem para evitar a gravidez. Mas a notícia não surpreendeu os policiais civis. A cada mês, acontecem, em média, 15 casos de estupro contra vulneráveis. Houve mês com 18 registros. Na maioria, as vítimas têm menos de 13 anos, segundo a delegada Maria Cecília Fávero Lopes, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).Os casos não chegam ao conhecimento público porque os processos correm em segredo de Justiça, com o objetivo de proteger a própria vítima, e nem todos eles são investigados. Muitas vezes — como no episódio da semana passada — o agressor age sem ser denunciado. Conscientização“A conscientização popular passa por campanhas educativas, principalmente nas escolas. Os governantes precisam difundir, entre os cidadãos, que existem equipamentos de repressão ao crime e assistência às vítimas" , afirma a delegada.Ontem (25), Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher, a delegada afirmou que o poder público amadurece no segmento, e é cada vez mais eficiente no tratamento de cada caso. De um lado, fala, a DDM faz seu papel de polícia judiciária, investigando as ocorrências e punindo infratores. Do outro, uma rede pública assistencial, mantida pela Prefeitura, coloca assistentes e psicólogas em contato com a vítima, para que os traumas possam ser superados e a vida retomada. DenúnciasGraças ao trabalho conjunto entre as esferas de governo, as vítimas adultas deixaram de se acovardar, e assumem postura na defesa dos próprios direitos. Hoje, para se ter noção, nada menos que 10 mil ocorrências são registras a cada ano na DDM. A sociedade, diz, não ficou mais, nem menos violenta. O que aconteceu foi que o poder público passou a oferecer uma estrutura maior para o acompanhamento dos casos. Campinas passou a ter a mais importante DDM do Interior, pelo número de casos. Hoje, quatro delegadas, oito escrivãs, oito investigadoras, quatro cartorárias e guardas municipais se alternam em turnos para o acolhimento de vítimas. O movimento na delegacia do Bonfim é intenso, todos os dias. E o espaço disponível, um imóvel antigo na Avenida Governador Pedro de Toledo, está saturado há muito tempo. EstruturaDe acordo com a delegada, a assistência às vítimas será muito melhor quando entrar em operação a nova sede da DDM atual, em um prédio mais acessível, e com dependências amplas para o acolhimento das vítimas e o encaminhamento dos casos. Mas, no que vem, também entra em operação a 2ª Delegacia Seccional de Polícia de Campinas, no Jardim Londres. O prédio, em rua marginal à Avenida John Boyd Dunlop, no Jardim Londres, vai levar o serviço público para mais perto dos bairros mais carentes da cidade, e para mais perto de muitas vítimas que - até por razões financeiras - não podem se locomover à região central e denunciar os agressores. "Sou muito otimista. Acho que a delegacia da mulher, que brotou em Campinas há pouco mais de duas décadas, entre em uma nova fase. O serviço cada vez mais eficiente, especializado, estruturado" , diz. AmeaçaA dentista G. esteve nesta segunda-feira na DDM. Ao contrário de muitas mulheres que já passaram por lá, ela não sofreu abuso sexual, nem foi espancada. Na verdade, a moça registrou uma ocorrência contra um vizinho, que a ameaça de agressão por estar inconformado com o movimento intenso de clientes na calçada. É, segundo ela, só um sujeito ultrapassado, que não se conforma de ver uma mulher trabalhando, ganhando a vida. Pois a dentista é símbolo de como mudaram as protagonistas das ocorrências. A própria delegada Maria Cecília Fávero Lopes, conta que já se foi o tempo das mulheres submissas, que dependentes financeiramente do marido, aceitavam caladas as imposições machistas. Hoje, o agressor denunciado é, na maioria das vezes, usuário de drogas, ou não tem emprego. "A mulher moderna exige ser respeitada, não tolera submissão" , fala a delegada.Aconteceram no Brasil de 2009 a 2011, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Feminicídios é o nome que se dá ao assassinado contra mulheres, comentos por parceiros íntimos ou ex-parceiros das vítimas.
Denuncie
Os casos de violência contra a mulher em Campinas devem ser denunciados na delegacia localizada na Avenida Governador Pedro de Toledo, 1.161. O telefone é o (19) 3242-5003.
Dia de combate
O dia 25 de novembro foi declarado como Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher em homenagem às irmãs Maria Teresa, Pátria e Minerva, conhecidas como "Las Mariposas". Juntas, elas combateram as injustiças sociais do governo ditatorial da República Dominicana, e foram brutalmente assassinadas na data, em 1960.
Em 1991, 23 mulheres de diferentes países, reunidas pelo Centro de Liderança Global de Mulheres (Center for Women's Global Leadership - CWGL), lançaram a campanha dos 16 dias de ativismo com o objetivo de promover o debate e denunciar as várias formas de violência contra as mulheres no mundo.
O período se inicia no dia 25 de novembro encerrando-se em 10 de dezembro, quando se celebra o Dia Internacional de Direitos Humanos.