Na última semana, a maioria das crianças entrou em um período de recesso escolar por conta da pandemia do coronavírus. E como será que os pais estão lidando com isso? Parte das pessoas já está trabalhando em casa. No caso de quem tem filhos, fica agora o desafio de criar uma nova rotina com as crianças sem escola, sem amigos por perto para brincar, sem poder passear por aí. Essas limitações obrigam a criar uma rotina nova para toda a família. “É muito importante que os pais deixem claro para os filhos que não se trata de férias. Porque quando as crianças estão de férias a expectativa delas é passear, viajar, ir ao cinema, brincar com os amigos e nesse período eles terão que ficar mais reclusos em casa. Isso pode gerar uma irritação nos pequenos e precisamos estar preparados para passar leveza e tranquilidade para eles”, conta a psicóloga Priscila Manzoli, do Programa Fortalecendo Laços, que realiza um trabalho com os pais em como educar crianças emocionalmente saudáveis. Uma das pessoas que já aderiu ao trabalho em casa é a pedagoga Camila Izoli, 37 anos, mãe de Martin, 3 anos e 7 meses, e Otto, 1 ano e 7 meses. “Meu marido também está fazendo home office. Estamos nos revezando com os cuidados com as crianças. Tem sido um grande desafio conciliar tudo: cuidar da casa, do trabalho, demanda dos filhos, mas aos poucos estamos construindo uma nova rotina.”, conta. Ela conta que o caçula Otto ainda é muito pequeno, mas o primogênito Martin fez muitas perguntas sobre o vírus: “Mamãe, o coronavsírus voa? Tem vírus na nossa casa? Ele precisa ficar dentro de uma pessoa? Como ele vai parar lá? “Fui respondendo de forma objetiva conforme ele perguntava, com o intuito de sanar algumas de suas dúvidas. Hoje, Martin pediu para ouvir a música Carimbador Maluco, do Raul Seixas, e falou: “Mamãe, é essa música que a gente vai cantar agora, né? Sem muito entender, perguntei porque ele pensava dessa forma para que pudesse me explicar melhor, então ele cantou “Plunct Plact Zum Não vai a lugar nenhum! se referindo ao fato de termos que ficar em casa”, conta. Para Camila tem sido dias de muitas reflexões. “Vivemos uma era conectada de alta velocidade, afinal o mundo pulsa num tempo veloz, de multitarefas, de sobrecarga de informações. Então emerge um vírus, que se propaga nessa mesma velocidade e, ao mesmo tempo, vem trazendo outra percepção de tempo, de espaço, de relação. De repente somos forçados a pisar no freio, recolher-se por proteção. Acho que fica um convite de substituir a incerteza por habitarmos esse novo tempo de pausa e lentidão e nos reconectarmos como indivíduo e como família. Vivemos puxando as crianças para o mundo dos adultos, forçando elas a nos acompanhar, a viver o nosso tempo. Penso que agora podemos aproveitar a situação para fazer as coisas de forma mais tranquila”, diz. Camila destaca que entre as preocupações entra a parte financeira e também lidar com duas crianças pequenas necessitando de acolhimento, de escuta, de atenção! “Mas, ao mesmo tempo, sinto uma tranquilidade tão grande de poder fazer o almoço com eles sem pensar no relógio, de brincar no quintal com água no meio da tarde, de poder estar mais presente com eles. Agora, estamos ainda no começo de um isolamento, pode ser que a percepção se modifique a partir do momento que comece a ficar difícil conviver sem sair de casa. É uma experiência nova, que exige paciência para se reajustar nela. Estamos aqui, todos aprendendo e buscando se adaptar a essas modificações no nosso dia a dia”, diz. Transparência A psicóloga do Programa Fortalecendo Laços aprova a transparência que Camila está passando para as crianças. “O importante é tentar passar a mensagem, aproveitando a oportunidade para estabelecer um diálogo sincero e construtivo sobre o coronavírus e aproveitando para passar a importância de lavar as mãos, se alimentar bem. Os pais podem usar recursos como livros e outros materiais para explicar para os filhos sobre o que é o coronavírus, de forma leve e didática”, diz. A rotina mudou bastante para a engenheira de softwate Tatiana Miccoli Bianconi, 30 anos, mãe do Mateus, 5 anos, e do Nicolas, 2 anos, desde que passou a trabalhar em casa. “Até então os meninos ficavam na escola, mas agora estamos os quatro em casa conciliando a nova rotina. Estamos tentando ficar o máximo em casa e está sendo um desafio bem grande. A gente mora num condomínio de casas, então, ainda estamos permitindo que eles andem de bicicleta, brinquem na rua, no quintal, e estou bolando bastante atividades com tintas, lápis de cor. Sabemos que é entediante para eles ficarem em casa, mas estamos tentando bolar estratégias como, por exemplo, no horário das reuniões de trabalho tentamos revezar. Estamos primeiro nos adaptando ao básico”, conta. Ela destaca que caso não consiga fazer todas as atividades de trabalho durante o dia vão tentar revezar o horário. Livro é opção A pedagoga Carol Braga, mãe do Miguel, de 6 anos, tem um espaço chamado Conversa de Quintal em Barão Geraldo, que promove a literatura para a infância. Ela dá algumas dicas que usa muito com o filho. Como o garoto está sem aulas, eles têm passado muito tempo juntos e ela usa bastante o recurso de livros. Ela dá dica de uma leitura muito interessante chamada Os Vizinhos, de Einat Tsarfati, da editora Pequena Zah. “O livro conta a história de uma menininha muito imaginativa que mora no sétimo andar e, enquanto sobe os andares pelas escadas do seu prédio, tenta imaginar o que está por trás das portas dos apartamentos dos vizinhos. Ao passar pelo apartamento com a porta cheia de fechadura, a menina da história pensa que ali só pode morar uma família de ladrões que amam tesouros e relíquias bem antigas! E ao virar a página: bingo! Lá esta a imaginação da menina em detalhes pra gente curtir. Assim, a cada nova porta, uma dupla de página cheia de detalhes e surpresas. Um livro que vale curtir com a família toda”, diz.