RUBENS MORELLI

Um curativo, por favor!

Rubens Morelli
rubens.morelli@rac.com.br
20/03/2014 às 22:36.
Atualizado em 27/04/2022 às 00:11

Minha esposa cortou o dedão ontem. Nada de muito grave, um rasgo de uns dois centímetros no preparo do almoço, mas o sangue jorrou por toda a pia. A cada vez que limpava, mais sangue escorria. Nada funcionava para estancar o corte. Foi assim por uns 30 minutos, até que ela se convenceu a ir ao posto de saúde perto de casa pra fazer um curativo. Mas a enfermeira disse que seria necessária uma sutura, com pontos, e que não havia médico lá. A recomendação foi procurar uma Unidade de Pronto Atendimento ou um hospital.Fomos à segunda opção, mais próxima de casa. Em vão. A recepcionista disse que lá não se fazia suturas, por conta de uma interdição recente. Partimos para outro hospital. O pronto-socorro lotado, sem cadeiras para todos os pacientes nem ventilador pra amenizar o calor. A fila, então, chegava à calçada. Saímos de lá a caminho do terceiro hospital diferente, reclamando da dificuldade de se fazer um procedimento simples. Até que ela, que nem liga para futebol, soltou o óbvio: “O Brasil não tem dinheiro para botar um médico num postinho de saúde, mas gasta milhões numa Copa”.Ela errou nos zeros. Foram bilhões. E continuam sendo. De acordo com o Portal da Transparência da Copa, órgão do governo federal, só os 12 estádios custaram, até agora, R$ 8 bilhões. Uma média de R$ 12 mil para cada cadeira instalada nas arenas, que têm, juntas, capacidade para 668 mil pessoas.E enquanto se gasta milhões em um piso de mármore para o deus Joseph Blatter passar, o sistema de saúde brasileiro continua falido. Sem um tostão para espalhar os médicos pelos postos de saúde e descentralizar o atendimento e diminuir as filas dos hospitais superlotados.Por conta do sistema burro, o cidadão que precisa de um curativo bobo, ou de um soro, como na maioria dos casos, encara horas de espera e emperra o atendimento. É fácil de ver. Mas quem manda, não passa por lá, frequenta o luxuoso Albert Sabin.Nós conseguimos o médico no terceiro hospital visitado, após uns 45 minutos de espera. No entanto, o cirurgião, que seria o responsável pela sutura, constatou que, àquela altura, o corte já havia fechado sozinho. “Um band-aid em casa resolveria”, ele disse, quase quatro horas após o primeiro atendimento, no postinho. Só faltou citar o famoso ditado popular: “O tempo cicatriza as feridas”.No caso da Copa, o rombo no orçamento é bem maior que os dois centímetros. E fico pensando quanto tempo será necessário para estancar esse rasgo. Se considerarmos a Olimpíada, vai demorar bastante. Onde estarão os cirurgiões? Em Cuba?

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