PRESERVAÇÃO

Um caminho seguro para a biodiversidade

Projeto Corredor das Onças pretende conectar fragmentos da floresta para proteger a fauna e melhorar qualidade da água na região de Campinas

Projeto Ambiental
18/10/2013 às 14:57.
Atualizado em 26/04/2022 às 05:34

Fabiana Marchezi*  O crescimento populacional desordenado vem diminuindo as áreas florestais e, consequentemente, aumentando a ocorrência de acidentes e incidentes com animais silvestres na Região Metropolitana de Campinas (RMC). São cada vez mais comuns notícias sobre onças, capivaras e outras espécies encontradas em situações de risco ou já machucadas na região, uma das mais industrializadas e urbanizadas do Interior de São Paulo.  Por isso, desde 2009, o Instituto Chico Mendes, autarquia do Ministério do Meio Ambiente, vem desenvolvendo o projeto Corredor das Onças na região. O objetivo do estudo, que está entrando em sua segunda fase, é reconectar os fragmentos de floresta, conservar a biodiversidade e melhorar a qualidade e a quantidade de água na região de Campinas, contando principalmente com a ajuda de proprietários rurais e empresas comprometidas com o plantio compensatório.  De acordo com a analista ambiental e coordenadora do projeto, Márcia Gonçalves Rodrigues, na estrutura de incentivos que deverá ser criada para que a recuperação e a adequação ambiental das propriedades rurais ocorram, o projeto prevê a implantação do pagamento por serviços ambientais (PSA) a produtores rurais que se comprometam a implantar uma agricultura mais sustentável (agroecologia), a recuperar e proteger a fauna e as florestas nas nascentes e margens dos rios, beneficiando tanto a sua propriedade rural quanto as cidades e indústrias da região com o aumento da infiltração/produção de água e a melhoria da qualidade das águas captadas para o abastecimento urbano.  A produção de água de qualidade, por sua vez, resultará do próprio aumento da área florestada, bem como, do manejo adequado do solo com um uso agrícola mais sustentável. Segundo Márcia, a ideia é que, em no máximo dez anos, boa parte das florestas estejam reconectadas. A volta Mesmo ainda engatinhando, o projeto já vem dando frutos. Anteontem, a reportagem do Correio pôde comprovar isso no Zoológico de Paulínia, que abriga três filhotes de onças-pardas que foram resgatados recentemente de situações de risco. A ideia agora é treiná-los para que eles possam voltar a viver na natureza. O mascote do projeto, Abayomi — palavra guarani que significa “feliz encontro” — foi encontrado cerca de 20 dias depois que sua mãe morreu de mal súbito após se sentir coagida pelo homem enquanto atacava um galinheiro no distrito de Sousas.  Os outros dois filhotes — Raquel e Pitã, que significa “pé duro”, também em guarani — foram resgatados depois que a mãe deles morreu atingida por uma máquina agrícola dentro de um canavial. Pitã também foi atingido e teve várias fraturas na pata, mas já está totalmente recuperado. “Os três devem estar preparados para voltar a viver na floresta no primeiro semestre de 2014”, disse a coordenadora. Outras quatro onças foram resgatadas e já foram devolvidas à natureza.  “Eles estão muito bem, aprendendo a sobreviver sozinhos. Aqui, eles são tratados, treinados e ficam isolados, com o mínimo possível de contato com o homem para que não caiam em armadilhas quando voltarem para a natureza”, disse o médico-veterinário do zoo de Paulínia, Marcelo de Queiroz Telles. Projeto é apresentado a ONGs, iniciativa privada e governos Cerca de 80 pessoas — entre autoridades da região, representantes de empresa, proprietários rurais e formadores de opinião — estiveram ontem no evento A Propriedade Rural e o Corredor das Onças: Como Podemos Ajudar, realizado na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas. Entre os presentes, estavam políticos de Campinas, Cosmópolis, Artur Nogueira, Holambra e Limeira, além de organizações não governamentais, associações de proprietários rurais e representantes de empresas parceiras. O vice-prefeito de Campinas, Henrique Magalhães Teixeira (PSDB), presente no evento, afirmou que o projeto tem todo o apoio do governo municipal. “Estamos de portas abertas para o que for preciso”, disse. Para o secretário municipal do Verde e do Desenvolvimento Sustentável, Rogério Menezes, o maior desafio é a mobilização da população em torno da conservação das matas ciliares e da recuperação dos locais já degradados. “Sabemos que é tudo a longo prazo, até porque nossa proposta (de reabilitação para devolver o animal à natureza)é inédita. A ideia do evento foi abrir um diálogo com esse pessoal para que algo comece a ser feito logo”, ressaltou Márcia Gonçalves Rodrigues, coordenadora do projeto.

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