Guardo, há anos, um livro precioso, que me foi enviado pelo professor universitário e advogado Júlio Mariano Júnior, filho do saudoso amigo Júlio Mariano, que além de jornalista e músico de talento, foi escritor. Ninguém melhor do que Mariano, o Velho, como costumava assinar sua coluna, no Correio Popular, para buscar referências históricas e tecer com elas crônicas vivas do passado de sua amada cidade de Campinas.O trabalho do pesquisador é fascinante. Busca no emaranhado da tradição oral, ou em velhos documentos, cheios de mofo e de poeira, os traços de episódios, cenas, festas, desastres, vitórias e fracassos de comunidades de outros tempos. Combina os fragmentos de tudo isso e forma o mosaico da narrativa. Foi em Campinas do passado que ele encontrou cenas históricas e personagens, hoje quase esquecidos, como o perfil daquele estudioso pesquisador de plantas raras, citado por sábios ingleses da “ Society Linnean “, de Londres.Aqui, era conhecido como Joaquinzinho Boticário ou dos Pobres, isto é, Joaquim Corrêa de Melo. Foi um homem benemérito, muito estudioso, e seu nome aparece com frequência nas atas manuscritas da Câmara Municipal de Campinas, de 1840 a 1870.Júlio Mariano pesquisou tudo isso, e nos informa que no alvorecer do primeiro Império, na falta de Delegacia ou Centro de Saúde, a cidade contava com os préstimos de um cirurgião-mor, residente. Um destes foi o médico Francisco Álvares Machado de Vasconcelos, designado para a Vila de São Carlos, nome antigo de Campinas. Trouxe consigo o então muito jovem Corrêa de Melo, que começou também a atuar como Delegado de Polícia e Juiz de Paz e de Órfãos.Este Corrêa de Melo providenciou a fundação de um lazareto para os doentes pobres, atacados pela "peste das bexigas", em 4 de fevereiro de 1862. Portanto, bem antes da fundação da Santa Casa de Misericórdia. O tal lazareto ficava em uma casa alugada pela Municipalidade, por intervenção do futuro Barão de Ataliba Nogueira. Localizava-se nas imediações do Largo Santa Cruz, e ali o nosso boticário acudia os doentes mais pobres e humildes.Chamava-se o boticário Joaquim Correia de Melo, e foi uma figura amável e estimadíssima. Faleceu em dezembro de 1877 e em sua homenagem, em vez de estátua, foi fundada a Escola Correia de Melo. Campinas não se esqueceu desta unidade escolar, que funcionava no Largo do Mercado. Um de seus diretores, há anos, foi o colega de magistério João Doliveira Toledo, já falecido.Mais tarde, o velho prédio foi derrubado por ordem da Diretoria de Obras do Município que, certamente, o considerava velharia inútil. Mas a memória do boticário, essa, picareta alguma poderá destruir, como garantia, Mariano, o Velho.