MEMORÁVEL

Um ator que fez sucesso na Semana Santa

24/03/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 23:44

Vicente Ghilardi foi ator do teatro amador de Campinas e fundador do Grêmio Artístico Bandeirantes (GAB). O amor que tinha pelo teatro pode ser sentido nestas palavras: “Para ser amador era preciso ter abnegação, despender sacrifícios, esquecer os divertimentos quando se assumia a responsabilidade de se apresentar perante uma plateia. Não se falava em remuneração, tudo era arranjado pelo esforço de cada um, com sacrifício dos seus bolsos.”

Nascido em 6 de dezembro de 1902, Ghilardi participou de diversos espetáculos e, em 1945, para comemorar os 14 anos do GAB, montou a peça sacra O Mártir do Calvário, de Eduardo Garrido, no Municipal de Campinas, em duas sessões diárias. Ele interpretava Jesus Cristo. “Sempre procurei fazê-lo com carinho, dando o máximo de meu esforço”, disse na época.

Muita gente achava loucura a montagem ter duas sessões durante sete dias. No Domingo de

Ramos, como contou o ator, “conseguimos apanhar meia casa nas duas sessões”. Já nos dias que se seguiram o cenário foi diferente. “Era incrível a multidão que se dirigia ao Teatro Municipal. As filas que circundavam o teatro deixavam todos admirados. Nas Semanas Santas de 1946, 1947 e 1948, a peça continuou a manter seu recorde de representações e bilheteria”, informou.

Ghilardi também foi locutor da Rádio Educadora de Campinas (PRC-9), além de fundador e primeiro diretor artístico de radioteatro. Escreveu: “E assim, em 2 de julho de 1941, pela primeira vez, Campinas ouviu o seu elenco de radioteatro, que estreou auspiciosamente com a peça O Rosário”. Posteriormente, dirigiu o teatro de novelas, que foi ao ar a partir de 1948, com o fim do radioteatro. Ainda apresentava o Carnaval de rua de Campinas, no tempo em que os desfiles aconteciam na Avenida Andrade Neves. Ficava no palanque principal no comando da folia, sempre animadíssimo.

NETAS

 “Tive a felicidade de conhecê-lo. Nosso convívio foi por pouco tempo, mas o suficiente para marcar minha vida profundamente. Tenho, como meus primos, muito orgulho de ser neta dele.”

Maria Inês Ghilardi Lucena, casada com Marcos Antonio Lucena, professora e diretora da Faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas)

“O orgulho e a admiração por nosso avô vêm da sua paixão pela arte de representar, pelo seu esforço e pela dedicação ao teatro e ao rádio numa época em que tudo dependia de esforços pessoais. Apesar do trabalho na Companhia Paulista de Estradas de Ferro, ele encontrava tempo para pesquisar textos, participar das montagens, atuar e dirigir. Também participava de campanhas políticas escrevendo discursos para candidatos e apresentando comícios. Em família, era pai amoroso e dedicado, e deixou aos filhos cartas e manuscritos contando sua trajetória artística.”

Daniela Ghilardi, arquiteta

NOME DE RUA

Vicente Ghilardi atuou em um filme produzido em Campinas entre 1955 e 1957, A Lei do Sertão, hoje parte do acervo do Museu da Imagem e do Som (MIS) da cidade. Ele teve quatro filhos: Cícero, Benedicto e José (gêmeos) e Marco Antônio, todos falecidos. Marco Antônio trilhou seu caminho no teatro de Campinas, mas morreu aos 43 anos, em 1986. Vicente casou-se duas vezes – a primeira com Maria Bueno Ghilardi, que morreu aos 27 anos, em 1932, mãe de seus três primeiros filhos; a segunda com Regina da Conceição Pires Ghilardi, mãe de Marco Antônio. Vicente morreu em 29 de setembro de 1959. A Rua Vicente Ghilardi fica no Jardim Chapadão.

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