Dos quatro projetos selecionados pela Fundação em São Paulo, três estão em Campinas, com foco em engenharia molecular, ciências exatas e tecnologia
No CNPEM, será montado o Centro de Engenharia Molecular de Materiais Avançados, coordenado pelo cientista Edson Roberto Leite, diretor do Laboratório Nacional de Nanotecnologia; projeto contará com parceria de pesquisadores da USP, UFSCar, UFABC, Ipen e Embrapa (Rodrigo Zanotto)
Campinas teve projetos de três Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) em Ciências Exatas e da Terra e Engenharia aprovados para receberem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com o objetivo de desenvolver trabalhos em áreas como ciências climática, agricultura, saúde, novas fontes alternativas de energia e materiais sustentáveis. Dois são ligados à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o outro ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Os projetos poderão receber anualmente até R$ 8 milhões cada, com o valor podendo variar de acordo com a diversidade das necessidades das áreas do conhecimento. O tempo de financiamento é de cinco anos, renovável por mais cinco.
O valor inclui custos de infraestrutura direta do projeto, reservas técnicas e bolsas concedidas. Os três projetos, com foco em ciências exatas e engenharia, estão entre os quatro selecionados pela agência paulista a partir de 18 propostas apresentadas na chamada de 2023. O quarto trabalho é da Universidade de São Paulo (USP). No CNPEM, será montado o Centro de Engenharia Molecular de Materiais Avançados (CeMol), coordenado pelo cientista Edson Roberto Leite, diretor do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano).
O projeto utilizará a engenharia molecular e avanços em nanotecnologia para desenvolvimento de novos materiais e dispositivos tecnológicos voltados a buscar novas alternativas de energia, materiais sustentáveis e dispositivos quânticos, que manipulam informações utilizando as propriedades únicas de partículas subatômicas, como elétrons e fótons. “Um centro como esse pode revolucionar a captura e o armazenamento de energia, entregar melhores medicamentos, desenvolver novos materiais, sensores e dispositivos quânticos. É um ambiente favorável para a criação de produtos e processos que podem dar a origem a startups baseadas em tecnologia”, disse Edson Leite, PhD em ciência e engenharia de materiais.
O projeto do CNPEM contará ainda com parcerias com pesquisadores da USP, das universidades federais do ABC (UFABC) e de São Carlos (UFSCar), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).
OUTROS TRABALHOS
O Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp será responsável pelo Centro de Pesquisa e Inovação de Materiais Inteligentes e Quânticos (CRISQuaM), que desenvolverá materiais com alto potencial de aplicação em sensores tecnológicos relevantes e sustentáveis para uso em ciências climáticas, agricultura e saúde, incluindo avanço em spintrônica para computação quântica. Esse tipo de equipamento utiliza a “rotação” do elétron para a criação de dispositivos eletrônicos menores, mais rápidos e com menor consumo de energia.
“Nossa ideia é elevar o patamar das pesquisas que cada grupo está fazendo separadamente e criar uma sinergia em um único centro. Ainda que a sede seja na Unicamp, somos um conjunto de instituições no Estado de São Paulo e fora dele com especialistas desde a ciência básica até a criação de dispositivos e novos materiais funcionais”, explicou Daniel Mario Ugarte, professor do IFGW e coordenador do novo centro. O instituto exerce papel fundamental no desenvolvimento tecnológico de alguns setores no país, como o de comunicações ópticas, e atua também com pesquisas em cosmologia, astrofísica e física quântica.
O Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC), também da Unicamp, será a sede do Centro Brasileiro de Geometria (CBG), que tem como objetivo o avanço do conhecimento em diversas áreas importantes da matemática. A proposta do trabalho é ter caráter inovador e inspirador para novas gerações, além de gerar impacto no sistema educacional nessa para o público, incluindo pessoas com perda da capacidade auditiva.
“Serão três verticais de estudos, duas da chamada matemática pura, que são a geometria diferencial e a algébrica, e uma mais aplicada, que tem interações com a química, a física e a teoria da informação, entre outras”, disse o coordenador do CBG, Marcos Benevenuto Jardim, professor do IMECC. De acordo com ele, um dos subprojetos do centro será o uso de aprendizado de máquina e redes neurais para a resolução de problemas teóricos da matemática. “Essa é uma tendência em grupos internacionais que estamos trazendo para cá”, afirmou.
AVALIAÇÃO
Segundo o coordenador-geral de Ciências, Humanidades e Artes da Fapesp, Sylvio Canuto, as propostas apresentadas foram analisadas em conjunto com cinco parceiros internacionais da instituição. “Posteriormente, outra comissão internacional composta por cinco pesquisadores de grande experiência e renome se debruçou sobre os projetos e os pareceres e estabeleceu um ranqueamento das melhores propostas. De acordo com o edital, as quatro mais bem avaliadas foram indicadas para a Fapesp apoiar”, explicou.
Para o coordenador-geral da fundação, os projetos dos Cepids poderão ser financiados nesse formato devido à estabilidade de recursos da Fundação.
“Os centros vão promover a colaboração entre times de pesquisadores altamente qualificados, garantindo que as atividades e pesquisas futuras possam ir além da soma das contribuições individuais. Essa lógica justifica um financiamento mais longo, na forma de um centro, em vez de projetos separados de cada um desses grupos”, disse.
A Fapesp tem como principal fonte de orçamento 1% da receita tributária do Estado de São Paulo, conforme estabelecido na Constituição Estadual. O valor é repassado diretamente do Tesouro do Estado para a instituição.
Com a inclusão dos novos projetos, ela passa a contar com 29 Cepids em atividade. Com os dois mais recentes aprovados, a Unicamp terá um total de seis deles, como o Centro de Inovação em Câncer com Ênfase em Metais e Teranóstico (CancerThera), desenvolvido pelo Centro de Hematologia e Hemoterapia (Hemocentro Unicamp). Ele tem como objetivo a identificação de novos agentes para o diagnóstico e tratamento de pacientes com tumores.
O câncer é a segunda principal causa de mortes no Brasil, sendo já a primeira em algumas regiões. Anualmente, estima-se que ocorram mais de 230 mil mortes essa doença no país em todas as idades, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Em torno de 52% do óbitos ocorrem na faixa etária de 30 a 60 anos. Os principais tipos de câncer no Brasil, em termos de incidência, são o de pele não melanoma, seguido pelo de mama feminina, próstata, cólon e reto, pulmão e estômago.
OUTROS PROJETOS
A universidade também desenvolve o Centro de Pesquisa em Engenharia e Ciências Computacionais (CCES, na sigla em inglês), que se dedica ao desenvolvimento e à aplicação de métodos computacionais avançados para solucionar problemas de fronteira nas ciências e nas engenharias. Ele tem o objetivo de promover avanços em inovação tecnológica e difusão nesta área do conhecimento denominada e-Science.
O Laboratório de Neuroimagem da Faculdade de Ciência Médica (FMC) da Unicamp mantém o Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e Neurotecnologia (BRAINN), que tem como foco a investigação dos mecanismos que levam à epilepsia e ao acidente vascular cerebral (AVC), assim como os danos causados por sua progressão. Esse Cepid desenvolve pesquisas combinando a genética, neurobiologia, farmacologia, neuroimageamento, informática, robótica, engenharia e física.
A Universidade Estadual de Campinas é responsável ainda pelo Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC), que busca soluções mais eficientes para prevenir e tratar a obesidade. Ele também estuda as principais doenças associadas a ela, como diabetes, hipertensão, aterosclerose, doença cardiovascular, insuficiência renal e doenças comportamentais. A pesquisa é desenvolvida por mais de 80 pesquisadores, pós-doutorandos e alunos da Unicamp, USP, Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).